segunda-feira, 27 de abril de 2020

O que fazer com nossos melhores amigos em tempos da pandemia da covid-19?




Por Natalia Albuquerque, pesquisadora do Laboratório de Etologia Canina do Instituto de Psicologia da USP, e outros*


No último dia 20 de abril, um grupo de 13 pesquisadores do Laboratório de Etologia Canina (Leca) do Instituto de Psicologia (IP) da USP, coordenado pela professora Carine Savalli, docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Experimental da USP, tornou público o documento intitulado “Cães e gatos domésticos em tempos da pandemia da covid-19”. Trata-se de um artigo cientificamente fundamentado, atualizado e de linguagem acessível, que conta ainda com o apoio de mais de 60 cientistas de diversas áreas e de outros nove laboratórios que endossam o documento.

Divulgado em formato pdf, teve mais de 500 visualizações no Research Gate (repositório de trabalhos científicos) em menos de 48 horas de ter se tornado público, além das centenas de visualizações e compartilhamentos nas redes sociais. Frente à divulgação de informações equivocadas e dados inconclusivos que sugerem que cães e gatos possam ser agentes transmissores da covid-19, as taxas de abandono e de eutanásia de animais saudáveis vêm aumentando ao redor do mundo.

Por isso, o artigo foi elaborado com o intuito de esclarecer a situação e fornecer informações que vão garantir o bem-estar de todos: cães, gatos e pessoas. O contato com cães e gatos traz uma série de benefícios para nós, físicos, fisiológicos e psicológicos.

Até o momento, todas as evidências mostram que o meio de transmissão do vírus que gerou e vem sustentando a pandemia acontece entre humanos, ou seja, de pessoa para pessoa. Cães e gatos não desenvolvem a covid-19. Cães e gatos não transmitem a covid-19 para pessoas.

Segue trecho extraído do documento original:

Cães, gatos e seres humanos coexistem há milhares de anos. Apesar das prováveis diferenças nos caminhos evolutivos que percorreram até se tornarem cães e gatos domésticos como os conhecemos hoje, o certo é que muito aconteceu durante a domesticação e que as pessoas e esses animais tiveram que se adaptar para tornar a convivência pacífica, harmoniosa, vantajosa, funcional e tão próxima.

Só no Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou em 2013 uma população de 52,2 milhões de cães (a segunda maior do mundo em termos de cães domiciliados) e 22,1 milhões de gatos – podemos supor que atualmente esse número é muito maior.

Dados surpreendentes foram apresentados nessa pesquisa: há mais animais de estimação nas casas dos brasileiros do que crianças! E alguns estudos vêm mostrando que a grande maioria dos tutores consideram esses animais membros da família. Agora, em 2020, essa relação parece estar sendo colocada em xeque. E o motivo disso? A pandemia da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus  humano (Sars-CoV-2), que se alastrou pelo mundo inteiro.

Das evidências que existem até agora, o que pode ser concluído é que é preciso muito mais pesquisa para se entender o potencial que o Sars-CoV-2 possui de infectar animais não humanos. Até o momento, podemos afirmar que cães e gatos não são fontes de infecção para outros animais nem para seres humanos. Ou seja, não existe qualquer evidência científica de que cães e gatos possam contrair a covid-19 ou transmitir o novo coronavírus humano para pessoas. O que sabemos é que o vírus é transmitido de pessoas para pessoas.

O ideal é ficar em casa com seus animais de estimação. No entanto, se seu cão, por exemplo, precisa sair para urinar e/ou defecar, é necessário tomar alguns cuidados. Primeiramente, para as pessoas, os cuidados de higiene (lavagem das mãos com sabão e uso de álcool em gel) e de proteção normais (uso de máscara e manter distância de, pelo menos, um metro de outra pessoa), indicados pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais.

O máximo de cautela é necessário, como evitar lugares com aglomeração de pessoas, assim como períodos de maior movimentação. Além disso, por mais que não possam ser infectados, os animais podem carregar o vírus nas patas, no pelo, na coleira, no focinho e na boca, se entrarem em contato com alguma superfície contaminada, assim como as pessoas podem carregar o vírus nos sapatos, nas mãos, na roupa, nos acessórios, no celular, na boca, nariz e olhos. Por isso, para os animais, uma medida importante é limpar principalmente as patas antes de entrar em casa: lavar com água e sabão ou sabonete neutro e secar bem depois para evitar que as patas fiquem úmidas. A coleira também deve ser lavada, de preferência com sabão e produtos bactericidas.

Consulte seu veterinário para saber o que é mais apropriado para o seu cão ou seu gato. Por último, se você sai para passear com seu animal de estimação, precisa ter em mente que poderá se aproximar e/ou ter contato com alguma outra pessoa, que pode estar infectada – essa sim será um agente de transmissão ativo da doença.

Durante esta pandemia, além dos cuidados de higiene e distanciamento físico-social, é preciso cuidar do sistema imunológico, manter-se ativo e cuidar da sua saúde mental. E você pode garantir tudo isso com seu animal de estimação! Brincar com seu cão e/ou seu gato pode ser uma ótima atividade, que não somente será benéfica para seu corpo, mas também produzirá hormônios que ajudarão na sensação de bem-estar. Ainda, a interação com seu animal de estimação é uma importante fonte de contato social. Por exemplo, acariciar seu cão e/ou seu gato, auxiliará na produção de hormônios como a ocitocina, que é conhecida como o hormônio do amor, e na redução do cortisol, um hormônio do estresse.  Ou seja, em tempos de incerteza e de crise, ter seu animal de estimação por perto, podendo você ficar em casa ou não, trará grandes benefícios para sua saúde física e mental.

O vínculo afetivo que criamos com nossos cães e gatos nos ajuda a manter nosso equilíbrio emocional nesse momento. Da mesma maneira, interagir positivamente com seu animal de estimação também ajuda na estabilidade emocional e saúde mental deles, reduzindo a ansiedade e estresse do seu cão e/ou gato juntamente com o seu.

Para gatos, é importante que a rotina continue sem muitas mudanças. Então, se você já brincava com seu gato nas manhãs e noites após voltar do trabalho, mantenha essa rotina. Durante a tarde, período naturalmente mais ocioso para eles, deixe-os descansarem e não os acorde. Brinquedos que estimulem a parte cognitiva e alimentar são muito interessantes: caixas com petiscos, comedouros lentos; juntamente com brincadeiras ativas feitas pelas(os) tutoras(es) e que estimulem a caça, como bolinhas de papel, varinhas com penas etc. Permitir arranhadura em locais adequados, escovação (se o gato gostar, claro), novas tocas de papelão e um local de descanso em sua mesa de trabalho são também aspectos importantes e que podem trazer mais bem-estar nessa época em que estamos muito em casa. Esses detalhes na relação podem assegurar o bem-estar dos nossos animais.

Para cães, ensinar alguns truques novos é uma ótima forma de estimulá-los mentalmente, gastar energia e ainda aprender a se comunicar melhor com eles. Mantenha os treinos curtos e recompense com petiscos, brincadeiras e atenção. Atividades envolvendo a parte alimentar, como brinquedos recheáveis ou “quebra-cabeças” com petiscos são muito interessantes, além de atividades que estimulem seus sentidos. Você pode, por exemplo, esconder alguns petiscos em panos, caixas ou ao redor da casa para seu cão farejar. Se vocês tinham um horário de passeio fixo, use esse momento para alguma dessas atividades ou brincadeiras!

Precisamos pensar nos nossos cães e gatos da mesma forma que pensaríamos nas pessoas da nossa família. Manter o bem-estar do seu animal de estimação também deve ser uma prioridade agora. É exatamente nas horas de crise que precisamos estar mais dispostos a cuidar daqueles que nos fazem tão bem.

Quando trazemos um animal para nossa casa e para nossa família, nos tornamos integralmente responsáveis por ele. Isso quer dizer que não somos somente responsáveis por garantir alimento e abrigo, mas, especialmente, que somos responsáveis por assegurar que tenham um bom bem-estar. Mesmo em tempos de dificuldade, você é responsável pela saúde física e mental do seu animal de estimação. Não se esqueça disso. E não se esqueça que abandono é crime, assim como eutanásia de animais saudáveis.

* Carine Savalli, Naila Fukimoto, Adriano Affonso Mariscal, Ana Paula Pupe, Ane Magi, Carolina Wood, Eliane Obata, Flavio Ayrosa Filho, Francisco Cabral, Juliana Werneck, Mariana Hess e Michaella Andrade, do Laboratório de Etologia Canina do Instituto de Psicologia da USP.


Fonte:  Jornal da USP
Imagem cão e gato:  pesquisa Google.



quarta-feira, 15 de abril de 2020

Proex-UFF divulga o vídeo "Animais de estimação e os cuidados na COVID-19"


A Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal Fluminense (Proex-UFF) divulga o vídeo "Animais de estimação e os cuidados na COVID-19" em parceria com o professor Sávio Bruno, coordenador extensionista da Faculdade Medicina Veterinária -UFF.

No vídeo, Sávio Bruno, professor do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária e especialista em medicina de animais selvagens, compartilha conhecimentos sobre coronavírus, COVID-19 e as relações das pessoas com animais de estimação.  O acadêmico destaca que nenhum dos coronavírus até hoje descritos foram comprovadamente transmitidos diretamente para os humanos a partir dos animais domésticos, e ainda dá dicas de como cuidar dos pets nesse momento de pandemia.




Veja também:


Fonte:  Proex-UFF



segunda-feira, 13 de abril de 2020

CCZ abre canal para esclarecer dúvidas sobre Covid-19 e os animais de estimação





A partir desta segunda-feira (13/04), o Centro de Controle de Zoonoses de Niterói vai oferecer à população uma linha telefônica para esclarecimentos sobre a doença Covid-19 e os animais de estimação, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF).

O chefe do CCZ, Fabio Villas Boas, explica que essa ampliação do trabalho é fundamental nesse momento de pandemia.

"Estamos ampliando e qualificando ainda mais o nosso trabalho como órgão de Saúde Pública, atuando na promoção e proteção da saúde das pessoas e preocupados com a proteção e bem estar dos animais", conta Fabio.

O serviço será realizado de segunda à sexta-feira, das 9h às 15h, por dois residentes de medicina veterinária, por meio do telefone (21)2613-3246 do setor de Informação, Educação e Comunicação em Saúde.


sexta-feira, 3 de abril de 2020

Coronavírus, COVID-19 e morcegos


Niterói, 03/04/2020
Flavio Moutinho
Médico Veterinário
CRMV-RJ 5495

Os coronavírus pertencem a uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias e intestinais em humanos e animais. Em dezembro de 2019 foi identificada uma nova doença na cidade chinesa de Wuhan, que é capital da província de Hubei. Esta doença vem afetando milhões de pessoas no mundo todo. Apesar da grande maioria dos casos terem sintomas leves, ela pode causar sintomas semelhantes à pneumonia e levar ao óbito, principalmente em pessoas incluídas no grupo de risco, como idosos, diabéticos, hipertensos etc.

Pesquisas epidemiológicas mostraram que a doença teve início possivelmente em um mercado que comercializava diferentes tipos de animais silvestres para consumo. Ao contrário do Brasil, esses tipos de mercados eram legalizados e comuns na China até então.

Ao buscar identificar a origem do vírus causador da doença, agora denominada COVID-19, os pesquisadores perceberam tratar-se de um vírus que teve origem em morcegos. Este vírus depois se adaptou a viver em um outro animal, possivelmente o pangolim, que é um animal que não existe no Brasil, antes de atingir os humanos.




Mas quando surgiu na mídia a notícia da possível origem do vírus causador da COVID-19 a partir dos morcegos teve início quase que instantaneamente, em diferentes partes do planeta, um movimento de eliminação desses animais por parte da população. Sim, com medo dos morcegos espalharem mais a doença as pessoas começaram a destruir abrigos de morcegos e mesmo a matar estes animais mundo a fora, havendo relatos inclusive no Brasil. Além disso, os Centros de Controle de Zoonoses brasileiros também vêm registrando um aumento da demanda da população em relação a morcegos.

O que precisa ficar claro é que os animais podem sim serem portadores de vírus da família coronavírus, mas esses vírus dos animais não causam infecções em humanos, tendo sido esse caso da COVID-19 uma exceção pontual que surgiu na China a partir de um outro hospedeiro animal, que nem era o morcego.
Além disso, espécies de morcego que existem na China são, de modo geral, diferentes das existentes no Brasil.

Por fim, cabe ressaltar que morcegos têm grande importância ecológica atuando, por exemplo, no controle de insetos, na polinização e na dispersão de sementes. Além disso, são protegidos pela Lei de Crimes Ambientais.

Sendo assim, não há risco de contrair a COVID-19 a partir dos morcegos e devemos zelar pela preservação desses animais.

Observação: caso seja observado algum morcego com comportamento alterado como voando durante o dia claro, caído ao solo ou andando no chão, por favor, entre em contato com o Centro de Controle de Zoonoses pelo telefone (21) 99639-4251 (Sem Whatsapp) para que ele seja recolhido para diagnóstico de raiva, mas não de COVID-19.


Para acessar o documento, clique aqui.
https://drive.google.com/open?id=1encTUBoiktK_bKLU_JE0CKe73eyyqO9N



quarta-feira, 1 de abril de 2020

Sistema de Teleatendimento do Estado para Orientações sobre Coronavírus




O Sistema de Teleatendimento do Estado do Rio de Janeiro para Orientações sobre Coronavírus, lançado em 23/03, opera gratuitamente pelo número 160 com o objetivo de evitar que pacientes sem sinais de contaminação ou sem sintomas graves saiam de casa sem necessidade, se expondo ao vírus, e superlotem as unidades de saúde.

Entre as perguntas mais frequentes, os sintomas, orientação sobre medicamentos e meios de prevenção da Covid-19 lideram a lista. 

Segundo o secretário de Estado de Saúde, Edmar Santos, o serviço será importante também para combater as fake news.

"Lançamos mais esse canal oficial para levar informação segura e correta à população diante dessa doença nova. Estamos disponíveis 24h por dia para que não haja dúvidas sobre como se prevenir e onde e quando buscar atendimento de emergência. Será mais uma força para reduzirmos o número de casos e evitarmos a superlotação das unidades de saúde", explica.

A capacidade total da central telefônica será de 30 mil atendimentos diários. O serviço atua com 50 postos de trabalho, podendo chegar a cem e ampliando para a abertura de mais 54 postos em outras localidades.

Iniciativa da SES, a central conta com a parceria do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado (Proderj), da Polícia Militar e do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE). Além deste canal, a população também pode esclarecer dúvidas nos sites oficiais da SES: www.coronavirus.rj.gov.br e www.saude.rj.gov.br.