Título em inglês: Status of Canine Visceral Leishmaniasis in Niterói, RJ (2011-2014)
NUNES, V. M. A1.; ROCHA, M. R. D.1; SANTOS, C. S.1; BORGES, F. V1. MOUTINHO, F. F. B1,2.
1. Centro de Controle de Zoonoses – DEVIC – FMS – Niterói
2. Faculdade de Veterinária - UFF
Resumo:
A Leishmaniose Visceral é uma zoonose de transmissão vetorial em crescente expansão na zona urbana da região sudeste do Brasil. Em Niterói não foi ainda notificado caso autóctone de Leishmaniose Visceral Humana, no entanto o diagnóstico de cães com LVC, cujo primeiro caso foi registrado em 2009, vem crescendo. O presente trabalho tem como objetivo relatar a situação da LVC no município com base nos casos notificados ao Centro de Controle de Zoonoses, no período 2011 - 2014. Foi efetuado um levantamento documental junto à Seção de Controle de População Animal do CCZ de Niterói para identificar os casos de LVC notificados no período de 2011 ao primeiro bimestre de 2014. Foram notificados até o início de 2014, 38 caninos positivos para Leishmaniose Visceral Canina. O controle da população dos animais domésticos e a educação ambiental quanto à guarda responsável e prevenção de zoonoses são ações de necessidade urgente para minimizar o impacto à fauna selvagem e à saúde humana.
Palavras-chave: epidemiologia; zoonose;
Introdução:
A Leishmaniose Visceral é uma zoonose de transmissão vetorial em crescente expansão na zona urbana da região sudeste do Brasil. Trata-se de doença com alta letalidade nos humanos que tem como principal reservatório em meio urbano o cão doméstico (BRASIL, 2006).
Nos últimos cinco anos foram registrados casos de Leishmaniose Visceral Humana autóctone nos municípios do Rio de Janeiro, Barra Mansa e Volta Redonda. Em paralelo houve a notificação de Leishmaniose Visceral Canina em oito municípios do Estado do Rio de Janeiro: Angra, Mangaratiba, Rio de Janeiro, Volta Redonda, Barra Mansa, Niterói e Maricá (RIO DE JANEIRO, 2013).
Em Niterói não foi ainda notificado caso autóctone de Leishmaniose Visceral Humana, no entanto o diagnóstico de cães com LVC, cujo primeiro caso foi registrado em 2009, vem crescendo, a despeito da presença do vetor Lutzomya longipalpis somente ter sido confirmada no bairro de Itaipu, no interior do Parque Estadual da Serra da Tiririca (RODRIGUES et al., 2013)
O presente trabalho tem como objetivo relatar a situação da LVC no município com base nos casos notificados ao Centro de Controle de Zoonoses, no período 2011 - 2014.
Material e Métodos:
Foi efetuado um levantamento documental junto à Seção de Controle de População Animal do CCZ de Niterói para identificar os casos de LVC notificados no período de 2011 ao primeiro bimestre de 2014. Os dados obtidos foram tabulados com técnicas de estatística descritiva utilizando-se o software Excel®.
Resultados e discussão:
O primeiro caso suspeito de LVC foi notificado ao CCZ em janeiro de 2011, no bairro de Serra Grande. Foram confirmados dois cães com sorologia positiva para Leishmaniose Visceral Canina em ELISA - teste de triagem - e RIFI - teste confirmatório, protocolo diagnóstico preconizado pelo Ministério da Saúde à época. Foi realizada coleta de material biológico (biópsia de pele, punção de medula óssea e linfonodos) para exame parasitológico tendo sido cultura e isolamento positivos para Leishmania sp. Foi realizado Inquérito Sorológico Canino, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2006) em cem caninos ao redor dos casos positivos, tendo sido nenhum outro cão sorologicamente positivo para LVC. Um cão foi eutanasiado. Não foram identificados indivíduos da espécie Lutzomya longipalpis durante as capturas de flebótomos.
Foram realizadas ações educativas, entre Junho e Outubro de 2011, dentre elas: palestra para moradores do condomínio onde residiam os cães diagnosticados com LVC; capacitação para médicos e enfermeiros da Fundação Municipal de Saúde pela Coordenação de Vigilância em Saúde (COVIG); palestra dirigida aos Médicos Veterinários de Niterói pelo Dr. Fabiano Figueiredo (IPEC - FIOCRUZ): “Leishmaniose Visceral Canina – realidade no município de Niterói, estratégias de controle e monitoramento, conduta do clínico frente ao problema e legislação vigente”.
O segundo caso notificado ao CCZ, em Junho de 2011, tratava-se de um canino soropositivo para LVC atendido em Outubro de 2009 no LAPCLIN-DERMZOO/IPEC com descamação cutânea, hiperemia, onicogrifose, secreção ocular e adenite generalizada. O exame parasitológico desse cão teve cultura e isolamento de Leishmania sp. Foi realizado Inquérito Sorológico ao redor da residência do cão positivo, no bairro Jacaré, totalizando cem caninos, tendo sido 17 animais positivos (conforme protocolo preconizado pelo MS na época: ELISA - teste de triagem - e RIFI - teste confirmatório), com prevalência de 15,5% e 23 cães positivos, utilizando novo protocolo a ser estabelecido: DPP e ELISA, com prevalência de 20,9% (OLIVEIRA, 2013). Foi feita a cultura e o isolamento do protozoário com posterior caracterização enzimática do agente etiológico da Leishmaniose Visceral (Leishmania chagasi) pela primeira vez no município de Niterói. Foi realizada captura de flebótomos sem sucesso. Sete cães foram eutanasiados pelo CCZ.
O terceiro caso notificado em Niterói, no bairro Serra Grande, em Agosto de 2012, tratava-se de um canino soropositivo para LVC no Loteamento Soter. Foi realizado inquérito sorológico em cem caninos com resultado de seis animais positivos, conforme protocolo preconizado pelo MS à época: DPP e ELISA. Um canino foi eutanasiado pelo CCZ.
Houve um segundo caso notificado em 2012, um canino com sorologia positiva no DPP e ELISA, no bairro de Maravista, sendo o quarto canino positivo para LVC notificado em Niterói.
Em Dezembro de 2013 foram notificados seis casos positivos para LVC (DPP e ELISA) na área do Parque da Serra da Tiririca (PESET), no Morro das Andorinhas. Foi feita coleta de material para exame parasitológico em três cães - biópsia de pele íntegra, punção de linfonodo e medula óssea. Houve cultura e isolamento positivos em todas amostras, tendo sido feita a caracterização enzimática com a identificação de Leishmania chagasi. Foi realizado Inquérito Sorológico na Rua da Amizade, rua próxima ao Morro das Andorinhas, tendo sido quatro caninos positivos para LVC em 102 caninos testados, em Janeiro de 2014. Foi feita coleta para exame parasitológico em três cães, tendo sido dois animais positivos na cultura parasitária e isolamento, com posterior caracterização enzimática definindo a espécie Leishmania chagasi.
Ainda no primeiro bimestre de 2014, outro canino foi positivo para LVC na área do PESET, numa região conhecida como Jardim Fluminense, no bairro do Engenho do Mato. Este cão foi positivo nos exames sorológicos DPP e ELISA e também no exame parasitológico, tendo sido coletado biósia de pele e feito punção de linfonodo e medula, com cultura parasitária e isolamento positivos. Foi feita caracterização enzimática com resultado positivo para Leishmania chagasi.
Tabela 01 - Casos de Leishmaniose Visceral Canina notificados pelo CCZ de Niterói, RJ, no período 2011-2013. |
Figura 01 - Evolução dos casos de Leishmaniose Visceral Canina notificados pelo CCZ de Niterói, RJ, no período 2011-2013. |
As residências cujos cães foram positivos para LVC encontram-se na Região Oceânica de Niterói, em interface com a mata. A maioria das residências possuía precárias condições sanitárias, criação inadequada de animais domésticos (galinhas, porcos) e acúmulo de matéria orgânica no peridomicílio, fator fundamental para reprodução do vetor.
Se sabe que a LVC é fator de risco para transmissão de LV para humanos. Casos positivos para LVC tem precedido casos humanos, sendo mais freqüente em cães que no homem.
Conclusões:
Foram notificados até o início de 2014, 38 caninos positivos para Leishmaniose Visceral Canina. A investigação e notificação de casos de LVC tem aumentado significativamente no município de Niterói, assim como no Estado do Rio de Janeiro e Região Sudeste do Brasil.
O controle da população dos animais domésticos e a educação ambiental quanto à guarda responsável e prevenção de zoonoses são ações de necessidade urgente para minimizar o impacto à fauna selvagem e à saúde humana.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Brasília, DF. 120 p., 2006.
OLIVEIRA, Amanda Codeço de. Investigação de caso autóctone de leishmaniose visceral canina na região de Jacaré, município de Niterói, Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Ciências na Área de Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, 97pp. 2013.
RIO DE JANEIRO. 2013. Governo do Estado do Rio de Janeiro. Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Ambiental. Coordenação de Vigilância Epidemiológica. Divisão de Transmissíveis e Imunopreviníveis. Gerência de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses. Boletim Epidemiológico, nº2, 2013.
RODRIGUES, Andressa A. F.; BARBOSA, Vanessa de A.; ANDRADE FILHO, José D.; BRAZIL, Reginaldo P. The sandfly fauna (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) of the Parque Estadual da Serra da Tiririca, Rio de Janeiro, Brazil Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 108, n.7, p. 943-946, 2013.