O fato de
o mosquito Aedes aegypti se proliferar com mais intensidade durante as
estações mais quentes do ano faz com que boa parte das pessoas só se lembre de
eliminar os criadouros nesses períodos. Entretanto, de acordo com o pesquisador
da Fiocruz Minas Fabiano Duarte Carvalho, é quando caem as temperaturas que as
medidas de controle podem ser mais eficazes, já que o ciclo reprodutivo do
mosquito fica mais lento e, dessa forma, as ações voltadas para o combate terão
um impacto maior.
“Sabemos
que há casos de dengue e outras arboviroses o ano inteiro, o que significa que
o mosquito está presente em todos os meses. Entretanto, este é um período em
que há menos mosquitos em circulação e, com isso, é muito mais fácil combater
os focos neste momento. É preciso aproveitar a fase em que o Aedes está mais
fraco”, afirma o pesquisador.
Especialista
em hábitos e comportamento do Aedes aegypti, Carvalho é um dos autores
do artigo Why is Aedes aegypti Linnaeus so Successful as a Species?
(Por que o Aedes aegypti pode ser considerado uma espécie de sucesso?),
publicado recentemente na Neotropical Entomology, uma importante publicação na
área de entomologia. Nele, os pesquisadores relacionam uma série de fatores que
favorecem a espécie e fazem com que o combate ao inseto seja um desafio para
todos os países que sofrem com as doenças por ele transmitidas.
O ciclo
de vida do mosquito compreende quatro fases –ovo, larva, pupa e adulto- e,
segundo os pesquisadores, é lá no primeiro estágio que reside uma das
principais razões de sucesso do inseto. É que o ovo do Aedes aegypti é
extremamente resistente, podendo durar por mais de um ano, quando as condições
são desfavoráveis.
“Os ovos
podem eclodir em minutos quando imersos em água. A falta dela, entretanto, não
representa a quebra desse ciclo de vida, uma vez que os ovos permanecem viáveis
durante semanas, meses, podendo chegar a mais de 400 dias. É claro que o número
de ovos viáveis diminui ao longo do tempo, mas os que permanecem podem ser
suficientes para a manutenção local da espécie”, explica Carvalho.
Outra
característica que contribui para a proliferação da espécie é a alta capacidade
reprodutiva. Uma única fêmea pode colocar aproximadamente 100 ovos por ciclo.
“Além disso, elas têm uma estratégia que chamamos de oviposição em saltos, que
é a distribuição dos ovos entre vários locais de reprodução, tornando
complicada a tarefa de eliminar completamente os criadouros. Há estudos
que demonstram que uma única fêmea distribui ovos entre quatro e seis criadouros
e que, quando há condições, podem usar até 11”, destaca Carvalho.
Oportunista- O comportamento oportunista do Aedes
aegypti também é apontado pelos pesquisadores como um dos aspectos que mais
o beneficiam. Embora tenha hábitos preferenciais, a espécie possui uma
capacidade de adaptação elevada, possibilitando-a aproveitar todas as
oportunidades para se proliferar. Um exemplo disso se refere ao ambiente
reprodutivo. Sabe-se que o inseto prefere a água limpa, mas, se não houver, ele
poderá colocar os ovos em água com um pouco mais de matéria orgânica.
“Um
estudo recente realizado em quatro regiões de Salvador demonstrou a presença de
larvas do mosquito em esgotos de duas das localidades pesquisadas. A
importância dos esgotos para a reprodução do mosquito também já foi descrita em
outros países, como Colômbia e México”, revela Carvalho.
Bem
adaptado a ambientes urbanos, o Aedes tem preferência por depositar os
ovos em contêineres artificiais, encontrados facilmente nos espaços domésticos.
Recipientes com coloração escura são os mais utilizados, o que dificulta a
tarefa de detectá-lo durante as inspeções domiciliares.
Outra
consideração importante, segundo o pesquisador, é que os recipientes pequenos
também são potenciais locais de reprodução. Isso é possível porque a espécie se
desenvolve rapidamente e, dessa forma, chega à fase adulta antes que a água se
evapore, evitando a mortalidade do vetor.
Controle
mecânico- A
eliminação dos criadouros é uma das principais formas de controle do mosquito.
Assim, de acordo com o pesquisador, ao se deparar com potenciais locais de
possível reprodução, cada pessoa deve se perguntar se há alguma necessidade
deles.
“A
resposta para esta pergunta é, muitas vezes, “não”, caso em que o local deve
ser eliminado. Se a resposta for “sim”, é preciso então fazer modificações, de
forma a evitar que aquele espaço se torne um local de reprodução para o inseto.
Um exemplo: eu não posso eliminar minha caixa d´água, mas posso mantê-la bem
fechada para que não vire um criadouro”, explica.
Entre as
ações propostas, além da vedação dos reservatórios de água, Carvalho lembra da
necessidade de limpar as calhas, remover os pratinhos dos vasos de plantas, bem
como a manter garrafas, latas e outros recipientes virados para baixo de forma
que não acumulem água.
“Cuidados
especiais também devem ser tomados com locais de reprodução menos óbvios, como
ralos em locais pouco usados, bandejas atrás de refrigeradores e outros espaços
do ambiente doméstico pouco utilizados, como, por exemplo, os banheiros da área
de churrasqueira”, diz. “Lembrando que essas ações durante as estações mais
frias serão ainda mais eficazes”, salienta.
Fonte: FIOCRUZ Minas
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