Usutu é uma doença febril causada pelo vírus Usutu (USUV), da família Flaviviridae, gênero Flavivirus. O vírus é transmitido pela picada de mosquitos e, embora afete principalmente as aves, também pode infectar pessoas.
Identificado pela primeira vez na África do Sul, em 1959, seu nome vem de um dos principais rios do pequeno país africano da Suazilândia. A presença do vírus Usutu em aves na África foi relatada inicialmente em países como Senegal, República Centro-Africana, Nigéria, Uganda, Burkina Faso, Costa do Marfim, Tunísia e Marrocos. Apenas dois casos foram descritos em humanos na África, em 1981 e em 2004, embora existissem casos não diagnosticados.
O primeiro registro da circulação do Usutu na Europa aconteceu em 2001, após uma grande quantidade de melros aparecerem mortos na Áustria, embora análises retrospectivas de aves mortas na Toscana (Itália) mostram que circularam nesta região em 1996. Em 2009 aconteceram os dois primeiros casos em humanos no continente europeu, causando encefalite em dois pacientes italianos. Este vírus também foi encontrado em aves da Alemanha, Espanha, Hungria, Suíça, Grécia, República Tcheca, Polônia e Inglaterra.
Melro |
Os vírus desse grupo têm uma facilidade para se adaptar em aves. Na natureza, os pássaros selvagens acabam sendo o reservatório e o meio de espalhamento do vírus. Esses pássaros são sentinelas, atuando como, por exemplo, o macaco-prego em um surto de febre amarela silvestre: a morte desses animais por conta desse determinado vírus é um alerta para os humanos de que o Usutu está por perto.
Além do melro, esse vírus pode afetar a pega, o corvo negro, o gaio e muitas outras aves. Raramente tem sido isolado em alguns roedores e até em cavalos, mas esses isolados são acidentais.
Transmissão
É um vírus dos chamados arbovírus porque é transmitido por certos artrópodes, em particular o Culex (especialmente C. pipiens), mas também tem sido encontrada, por exemplo em larvas de Aedes albopictus (mosquito tigre) e mosquitos Aedes e outros outros géneros. Além disso, trata-se de um vírus zoonótico, o que significa que ele afeta animais – especialmente pássaros, como melros – e é transmitido desses animais para o homem através do mosquito. Transmissão por doação de sangue também é possível.
Afeta aves de várias espécies da África e do Sul e Europa Central. Foi detectado em muitas aves mortas em países dos dois continentes, e até hoje não foi relatado em outros continentes. Os mosquitos que picam pássaros e depois humanos transmitem o vírus acidentalmente.
O primeiro caso de envolvimento de um ser humano por este vírus foi relatado em 1981, e foi um homem africano que sofreu febre alta e erupção cutânea. Isso não significa que não possa ter havido um caso anterior, talvez não detectado ou registrado.
Por ora, é certo que o vírus USUV é transmitido principalmente pelo culex, o popular pernilongo. De acordo com o European Centre for Disease Prevention and Control, o “vírus do Usutu foi isolado do Aedes albopictus, mas ainda não se sabe se o mosquito pode transmitir esse patógeno”.
Sintomas
Como tem havido muito poucos casos de seres humanos afetados pelo vírus Usutu (21 casos até maio de 2017), não há muito conhecimento sobre seus sintomas além do descrito nos casos publicados. Sabe-se que existem casos assintomáticos. Também é possível que tenha havido mais casos em humanos do que os publicados, mas que não foram diagnosticados, pois é difícil alcançar o diagnóstico etiológico.
O primeiro caso de infecção pelo vírus Usutu, descrito na África em 1981, foi em um homem que teve febre e erupção na República Centro-Africana. O segundo caso, em 2004, foi um menino de 10 anos de Burkina Faso que teve febre e icterícia por hepatite. Na Europa, casos em humanos aconteceram na Itália em 2009, em duas pessoas que receberam transfusões de sangue e que eram imunocomprometidas. Não se sabe se elas foram infectadas por sangue doado por outros indivíduos assintomáticos, ou se foram picados por um mosquito infectado.
Os sintomas podem variar de febre alta (até 39,5 °C), erupção cutânea e dor de cabeça leve, até manifestações mais graves, como disfunção neurológica e hepatite fulminante aguda.
Ainda não foram identificados casos da doença em território brasileiro.
Diagnóstico
A suspeita clínica de infecção pelo vírus Usutu requer confirmação do diagnóstico por técnicas de laboratório, uma vez que o quadro clínico não é específico. Entre os métodos de laboratório podem-se distinguir os métodos diretos de diagnóstico por cultura celular ou amplificação do genoma do vírus, ou os métodos indiretos, consistentes na identificação de anticorpos contra o vírus fabricado pelo organismo contra a infecção. Não há muita experiência sobre esta infecção em humanos. Considera-se que o vírus pode ser detectado no líquido cefalorraquidiano e no sangue durante a fase aguda da doença. É por isso que, no caso de uma pessoa com febre com encefalite de causa desconhecida, o soro e o líquido cefalorraquidiano podem ser removidos para investigar este e outros vírus. Os anticorpos podem permanecer positivos por muitos meses após a infecção. O diagnóstico de infecção pelo vírus Usutu, mesmo realizando um teste de anticorpos, não é fácil, pois pode haver reatividade cruzada com outros vírus semelhantes, isto é, falsos positivos.
Tratamento
Não há tratamento específico para a infecção pelo vírus Usutu. Além disso, em geral, é difícil diagnosticar a doença. Muitas vezes o diagnóstico não será feito, ou chegará quando o paciente já tiver se recuperado, pois muitas vezes não será suspeito e o teste diagnóstico específico não será solicitado, levando-se em conta sua escassa disponibilidade. Portanto, os pacientes só podem ser tratados com tratamento de suporte. Para febre a dor de cabeça pode ser administrada com antipiréticos e analgésicos, como o acetaminofeno, ou antiinflamatórios não-esteróides do tipo ibuprofeno. Se o paciente apresentar sintomas neurológicos que o impedem de se alimentar adequadamente, a fluidoterapia será administrada. Se o envolvimento neurológico exigir, pode ser necessário admitir o paciente em uma unidade de terapia intensiva. Se ocorrer hepatite aguda, é aconselhável evitar a administração de um excesso de drogas, incluindo paracetamol. Nestes casos, a função hepática deve ser monitorada de perto, no caso de se deteriorar tanto a ponto de exigir um transplante de fígado. Não há nenhum caso relatado em que os corticosteroides tenham sido utilizados no tratamento de pacientes com manifestações mais graves.
Prevenção
Não há medida preventiva específica para prevenir a infecção causada pelo vírus Usutu. Não é tão frequente que a triagem de amostras de sangue de doadores possa ser feita. É conveniente tentar prevenir as picadas de mosquito em geral, independentemente do país onde você mora, mas é difícil evitar 100%. De qualquer forma, no momento é uma infecção rara, por isso não é conveniente sentir-se alarmado em excesso por este vírus, exceto talvez pela mortalidade da população aviária.
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Fontes:
AEDES DO BEM!
Outbreak Observatory
CIRAD - French Agricultural Research Centre for International Development
(Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional)
Deutsche Welle - Science
Boletín Alertas Enfermedades Emergentes - Boletín de Alertas Epidemiológicas Internacionales
Instituto Valenciano de Microbiologia
Ecured: Enciclopedia Cubana
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