Mostrando postagens com marcador Hantavirose. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Hantavirose. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 21 de março de 2022

Pesquisadores alertam para circulação de zoonoses


Doenças transmitidas de animais para pessoas, a febre maculosa, a febre Q, as hantaviroses e as arenaviroses apresentam quadro clínico inicial comum a outras infecções, incluindo febre, dor de cabeça ou no corpo e mal-estar. Em meio a epidemias, quando todos os olhos estão voltados para agravos de grande circulação, como dengue ou Covid-19, essas zoonoses são frequentemente esquecidas no momento do diagnóstico dos pacientes, o que leva a atrasos na sua identificação, aumentando o risco de quadros graves e morte.

O alerta para a circulação dessas “doenças zoonóticas invisíveis” está em artigo recém-publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Autora da publicação, a chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz, Elba Lemos, ressalta que a conscientização é fundamental para evitar óbitos. 

“Ano passado, um paciente com hantavirose recebeu diagnóstico de Covid-19 no Rio Grande do Sul e acabou falecendo. Esse ano, em um surto de febre maculosa com cinco casos no Rio de Janeiro, dois pacientes receberam diagnóstico de Covid-19 e morreram porque o tratamento da febre maculosa não foi iniciado a tempo. Mesmo em um período de pandemia, é preciso levar em conta esses patógenos zoonóticos que circulam no Brasil, mas que são invisibilizados”, ressalta a pesquisadora.


Pesquisadores do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC atuam no
esclarecimento de casos e em pesquisas sobre zoonoses (Foto: Josue Damacena)

Entre as doenças destacadas no artigo, a febre maculosa e as hantaviroses são as mais frequentes. Embora não causem epidemias, esses agravos têm impacto importante na saúde pública, principalmente pelo alto índice de mortes. Entre 2010 e 2020, foram confirmados mais de 1,9 mil casos de febre maculosa no Brasil, com 679 óbitos, o que significa uma taxa de letalidade de 35%. No mesmo período, 996 infecções por hantavírus foram confirmadas, com 414 mortes, o que corresponde a uma taxa de letalidade de 41%.

“A febre maculosa pode ser curada com um antibiótico barato. Porém, se o medicamento não é administrado no início da infecção, a bactéria faz um estrago grande nos vasos sanguíneos e o dano se torna irreversível. Na hantavirose, não existe tratamento específico contra o vírus, mas o diagnóstico é importante para oferecer o suporte adequado para os pacientes. Por exemplo, a hidratação, que é muito indicada na dengue, pode ser prejudicial nesses casos, agravando a lesão pulmonar”, explica Elba.


Risco após enchentes

Considerando o risco de transmissão de zoonoses após a tragédia causada pelas chuvas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, a atenção deve ser redobrada. “Animais resgatados após as chuvas podem estar com carrapatos, que são transmissores da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa. É muito importante ter cuidado no momento do resgate e tratar os animais com carrapaticida”, diz a cientista, lembrando que, em 2011, quando municípios da Região Serrana foram devastados por fortes chuvas, cinco pessoas morreram de febre maculosa após lidar com cães resgatados.

Elba destaca ainda que outras zoonoses estão associadas às chuvas, especialmente a leptospirose, causada pela bactéria Leptospira, eliminada na urina de ratos, que pode infectar pessoas que entram em contato com a água das enchentes. “Dependendo do histórico relatado pelo paciente, estas doenças precisam ser consideradas no momento do diagnóstico diferencial em casos com manifestações clínicas inespecíficas, como febre”, completa Elba.

Por serem transmitidas de animais para pessoas, as zoonoses apresentam contextos de risco específicos, que propiciam a exposição humana aos microrganismos. Assim, além de conscientizar os profissionais de saúde, é essencial conhecer as áreas de circulação dos patógenos e os animais que atuam como reservatórios para facilitar o diagnóstico precoce das infecções.

No artigo, os cientistas destacam que o baixo índice de diagnósticos faz com que o impacto de algumas zoonoses seja subestimado, o que reforça a necessidade de ações de vigilância e de pesquisa. “Precisamos mapear os locais em que há presença dos agentes infecciosos zoonóticos para que o sistema de saúde esteja preparado. Por isso, a vigilância e a pesquisa são tão importantes. É um conhecimento para a ação”, salienta Elba.

Para demonstrar o impacto das zoonoses esquecidas, o artigo relata surtos recentes que se tornaram alvo de investigações do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz, que atua como Referência Nacional para Rickettsioses e Regional para Hantaviroses junto ao Ministério da Saúde. Além da febre maculosa e das hantaviroses, são abordadas: arenaviroses, febre Q e bartoneloses.


Saiba mais sobre estas infecções:


Febre maculosa

Carrapatos da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela, são os transmissores da bactéria Rickettsia rickettsii, que provoca a febre maculosa. Esses carrapatos podem parasitar diferentes animais domésticos e silvestres, incluindo bois, cavalos, cães, aves domésticas, gambás, coelhos e capivaras. Segundo o Ministério da Saúde, há relatos de casos em todas as regiões do Brasil, mas a maior parte dos registros ocorre no Sudeste e Sul.




As primeiras manifestações clínicas da doença são febre alta, dor no corpo, dor da cabeça, falta de apetite e desânimo. Depois, aparecem pequenas manchas avermelhadas na pele. O tratamento com antibiótico cura a infecção, mas precisa ser administrado nos primeiros cinco dias após o início dos sintomas.

No artigo, os pesquisadores lembram que após três décadas sem registros no Rio de Janeiro, a febre maculosa reemergiu com alto índice de mortes devido ao atraso no diagnóstico. Entre as vítimas, cinco pessoas que morreram com a infecção em 2011 tinham recebido diagnóstico de dengue. Em 2021, dois pacientes inicialmente diagnosticados com Covid-19 morreram de febre maculosa no estado.


Hantaviroses

As hantaviroses são causadas por diversos vírus da família Hantaviridae, encontrados principalmente em roedores silvestres. Esses animais, eliminam os vírus na urina e nas fezes. As pessoas são infectadas quando inalam os patógenos que ficam suspensos no ar como aerossóis. Mais afetados pelo agravo, os trabalhadores agrícolas podem contrair a infecção em lavouras ou galpões de armazenamento de grãos, onde os roedores procuram comida.

Registrada em todas as regiões do Brasil, com notificações em 15 estados e no Distrito Federal, a infecção é favorecida pelo desequilíbrio ambiental, que possibilitam o contato do homem como os roedores reservatórios, de acordo com a chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz.

“O canídeo silvestre é o predador do rato do mato, que é o reservatório dos hantavírus. Quando o ambiente é degradado pelo desmatamento, os animais mais sensíveis são eliminados e ficam aqueles que conseguem conviver com homem, como os ratos silvestres. A população desses animais aumenta e eles passam a procurar alimento no ambiente humano, aumentando a exposição das pessoas”, diz Elba.

“Não é possível eliminar as zoonoses, mas precisamos de um olhar de saúde única, considerando o ser humano, os animais e o ambiente para prevenir e controlar as doenças de forma efetiva”, acrescenta a pesquisadora.

Áreas rurais são as mais afetadas por doenças zoonóticas,
como hantaviroses, febre maculosa e febre Q (Foto: Acervo LHR/IOC)

Após as manifestações clínicas iniciais como febre, dor de cabeça, nas articulações, nas costas ou na barriga, e alterações gastrointestinais, as pessoas com hantavirose podem desenvolver uma síndrome cardiopulmonar, com falta de ar, respiração e batimentos cardíacos acelerados, tosse e queda de pressão. Como não há medicação contra os hantavírus, o tratamento é orientado caso a caso, com medidas de suporte aos pacientes.

Em 2015, pesquisadores do IOC/Fiocruz confirmaram, pela primeira vez, um caso de hantavirose no Rio de Janeiro. Um morador da cidade de Rio Claro, no Sul Fluminense, faleceu devido à infecção, após ter recebido o diagnóstico inicial de dengue. Além de encontrar roedores infectados, os pesquisadores verificaram que colegas de trabalho e vizinhos do paciente apresentavam anticorpos para a doença, o que indica contato anterior com o patógeno, demonstrando a subnotificação do agravo. Segundo os cientistas, é possível que os casos tenham sido assintomáticos ou diagnosticados como dengue devido à semelhança dos sintomas das doenças.


Arenaviroses

Causador da febre hemorrágica brasileira, o vírus Sabiá reemergiu em 2020 após cerca de 20 anos sem registros, causando infecção em um homem, que morreu devido à doença. O caso foi registrado em São Paulo, o mesmo estado onde o vírus foi identificado pela primeira vez, em 1994. A doença teria sido contraída durante uma viagem à cidade de Eldorado, no Sul do estado.



O patógeno pertence à família dos arenavírus, microrganismos encontrados em roedores que podem causar alterações neurológicas e febre hemorrágica em pessoas. Além do Sabiá, quatro arenavírus são conhecidos por provocar infecção humana na América do Sul. No Brasil, pesquisadores do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz identificaram, em 2020, quatro novos arenavírus em roedores, incluindo duas novas espécies, reconhecidas pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV, na sigla em inglês), com potencial para infectar pessoas.

Assim como os hantavírus, os arenavírus são transmitidos através de aerossóis eliminados a partir da urina e das fezes de roedores. Por apresentar um quadro semelhante à dengue hemorrágica e à febre amarela, pesquisadores acreditam que as arenaviroses podem ser subnotificadas.

“Embora casos de febre hemorrágica causada por arenavirus venham sendo relatados na Bolívia, pelos vírus Chapare e Machupo, e na Venezuela, pelo vírus Guanarito, no Brasil, além do silêncio quanto à ocorrência do vírus Sabiá, nunca tivemos notificação nos estados que fazem fronteira com esses países. Isso levanta a suspeita de que a doença pode não estar sendo diagnosticada”, aponta Elba.


Febre Q

A falta de dados torna difícil dimensionar o impacto da febre Q, causada pela bactéria Coxiella burnetti. A doença é transmitida principalmente em áreas rurais, pela inalação ou pelo contato direto com secreções de animais infectados, incluindo leite, fezes, urina, muco vaginal ou sêmen de gado, ovelhas, cabras, cães, gatos e outros mamíferos domésticos. Na maioria das vezes, a infecção é assintomática ou tem sintomas semelhantes aos da gripe. Porém, alguns pacientes podem desenvolver quadros graves, com pneumonia ou endocardite. O tratamento da infecção deve ser feito com antibióticos.

Apesar de indícios sobre a circulação da bactéria no Brasil desde os anos 1950, somente nas últimas décadas houve confirmação de casos, com registros no Sudeste. No Rio de Janeiro, pesquisadores do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC confirmaram, com base no diagnóstico molecular, o primeiro paciente em 2011, na Região Metropolitana, e identificaram um surto em 2016, com cinco infectados no Sul Fluminense.

Segundo Elba, evidências da infecção em animais e relatos de casos na América do Sul acendem o alerta para a possibilidade de subnotificação do agravo. “Em estudos, já encontramos anticorpos em animais, identificamos a bactéria em bovinos, roedores e morcegos e até em amostras de queijo minas não pasteurizado. Na Guiana Francesa, país vizinho ao Brasil, há diversos relatos de pneumonia por febre Q. Esse é mais um agravo que está nas sombras e precisa ser investigado, porque embora não tenha o alto número de casos das epidemias, pode evoluir para o óbito se não tiver o tratamento específico adequado”, afirma a pesquisadora.


Bartoneloses

A doença da arranhadura do gato é a forma mais conhecida de bartonelose, infecção causada por bactérias do gênero Bartonella. Os animais infectados pela bactéria Bartonella henselae podem transmitir o patógeno através de arranhões ou mordidas. Pulgas e carrapatos presentes nesses animais também são vetores do agente bacteriano.

Segundo os pesquisadores, a diversidade de manifestações da doença dificulta o diagnóstico. Além de casos assintomáticos, a bartonelose pode provocar desde inflamação no local da ferida, inchaço nos gânglios e febre até quadros graves que afetam os nervos e o coração. Em geral, os gatos jovens têm mais chance de transmitir a infecção, e a doença se manifesta de forma mais intensa em pessoas com imunidade reduzida, como crianças, idosos e pacientes com outras enfermidades. O tratamento é feito com antibióticos.

“No ano passado, confirmamos dois casos de endocardite [infecção do coração] por bartonelose em pacientes que já tinham problemas cardíacos. Sempre que um caso humano é detectado, é importante identificar o animal doméstico envolvido para que ele também seja tratado”, comenta a pesquisadora.


Fonte:  Fiocruz

 

quarta-feira, 26 de maio de 2021

HANTAVIROSE

O que é hantavirose?

A Hantavirose é uma zoonose viral aguda cuja infecção em humanos pode se manifestar sob variadas formas, desde uma síndrome febril até quadros mais característicos, como febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR), que ocorre no território eurasiático, e a síndrome cardiopulmonar por hantavírus (SCPH), presente no continente americano.



No Brasil, se apresenta na forma da Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus. Na América do Sul, foi observado importante comprometimento cardíaco, passando a ser denominada de Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH). Os hantavírus possuem como reservatórios naturais alguns roedores silvestres, que podem eliminar o vírus pela urina, saliva e fezes. Os roedores podem carregar o vírus por toda a vida sem adoecer. A hantavirose é causada por um vírus RNA, pertencente à família Bunyaviridae, gênero Hantavirus.

Nas Américas, a hantavirose se manifesta sob diferentes formas, desde doença febril aguda inespecífica, até quadros pulmonares e cardiovasculares mais severos e característicos, podendo evoluir para a síndrome da angústia respiratória (SARA).

A SCPH foi identificada pela primeira vez, nas Américas, nos Estados Unidos da América (EUA), em 1993. No mesmo ano, no Município de Juquitiba, interior de São Paulo, um surto da doença acometeu três pessoas de uma mesma família, com taxa de letalidade de 67,0%.


Sintomas

Na fase inicial, a Hantavirose causa os seguintes sintomas:

•  febre;

•  dor nas articulações;

•  dor de cabeça;

•  dor lombar;

•  dor abdominal;

•  sintomas gastrointestinais.


Na fase cardiopulmonar, os sintomas da hantavirose são:

•  febre;

•  dificuldade de respirar;

•  respiração acelerada;

•  aceleração dos batimentos cardíacos;

•  tosse seca;

•  “pressão baixa”.

IMPORTANTE: Nessa fase, também é possível surgir edema pulmonar não cardiogênico, com o paciente evoluindo para insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.


Transmissão

A infecção humana por hantavirose ocorre mais frequentemente pela inalação de aerossóis, formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados. As outras formas de transmissão, para a espécie humana, são:

•  percutânea, por meio de escoriações cutâneas ou mordedura de roedores;

•  contato do vírus com mucosa (conjuntival, da boca ou do nariz), por meio de mãos contaminadas com excretas de roedores;

•  transmissão pessoa a pessoa, relatada, de forma esporádica, na Argentina e Chile, sempre associada ao hantavírus Andes.

O período de transmissibilidade do hantavírus no homem é desconhecido. Estudos sugerem que o período de maior viremia seria alguns dias que antecedem o aparecimento dos sinais/sintomas. Já o período de incubação do vírus, ou seja, o período que os primeiros sintomas começam a aparecer a partir da infecção, é, em média, de 1 a 5 semanas, com variação de 3 a 60 dias.


Reservatórios

Os hantavírus, em particular, são transmitidos especificamente por roedores silvestres da ordem Rodentia, família Muridae e Cricetidae. As subfamílias Arvicolinae e Murinae detêm os principais reservatórios primários da FHSR, enquanto que os da subfamília Sigmodontinae, da família Cricetidae, são os roedores envolvidos com a SCPH. 

Oligoryzomys microtis

Cada vírus, geralmente, está associado somente a uma espécie específica de roedor hospedeiro. Nesses animais a infecção pelo hantavírus aparentemente não é letal e pode levá-los ao estado de reservatório por longos períodos, provavelmente por toda a vida. No entanto, outras espécies de roedores pertencentes a outras subfamílias podem se infectar, sem se constituírem em reservatórios importantes para a transmissão do hantavírus.

Principais hantavírus, distribuição geográfica, reservatórios e patogenia no Brasil:

Vírus

Distribuição

Reservatório

Enfermidade Humana

Araraquara

São Paulo

Necromys lasiurus

SCPH

Castelo dos Sonhos

Pará

Oligoryzomys utiaritensis

SCPH

Juquitiba

São Paulo

Oligoryzomys nigripes

SCPH

Anajatuba

Maranhão

Oligoryzomys fornesis

Desconhecida

Rio Mearim

Maranhão

Holochilus sciurus

Desconhecida

Laguna Negra

Porto Alegre

Calomys aff. callosus

SCPH

Jaborá

Santa Catarina

Akodon montensis

Desconhecida

Rio Mamoré

Amazonas

Oligoryzomys microtis

Desconhecida

Fontes: (BONVICINO, 2008; TRAVASSOS, 2008; OLIVEIRA, 2007; ELKHORY; WADA et al., 2005; ENRIA, 2003; 
LEVIS, 2004)
Obs.: Febre Hemorrágica com Síndrome Renal – FHRS e Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus – SCPH

Na região Nordeste, tanto no caso do Rio Grande do Norte quanto no da Bahia, não aconteceu a investigação ecoepidemiológica, de forma que os reservatórios são até o momento desconhecidos. No Maranhão, foram identificados dois tipos específicos de hantavírus, associados a dois diferentes reservatórios: Holochilus siureus e Oligoryzomys fornesi.  Foi detectada na região do médio norte do estado do Mato Grosso a circulação do hantavírus Laguna Negra, variante essa que está associada ao roedor Calomys aff. Callosus e ao reservatório da variante Castelo dos Sonhos, roedores da espécie Oligoryzomys utiaritensis. 

A variante Castelo dos Sonhos foi identificada inicialmente em paciente proveniente do estado do Pará e é a responsável pela ocorrência de casos de hantavirose neste estado. 

Os diversos hantavírus conhecidos até o momento seguem a distribuição geográfica dos seus respectivos reservatórios. A casuística dos casos e a distribuição geográfica dos roedores positivos delineiam para o Brasil uma rota de ocorrência de casos de SCPH, provavelmente causados por diferentes hantavírus e associados a espécies de roedores reservatórios distintos.


Fatores ambientais

Diversos fatores ambientais estão associados com o aumento no registro de casos de hantavirose, e estão ligados ao aumento da população de roedores silvestres como, o desmatamento desordenado, a expansão das cidades para áreas rurais e as áreas de grande plantio, favorecendo a interação entre homens e roedores silvestres.

Situações de risco para infecção por hantavírus:

•  Limpeza de locais fechados, contaminados;
•  Atividades de lazer em locais rurais ou silvestres (ecoturismo);
•  Atividades ocupacionais realizadas em área rural ou silvestre (aragem, plantio ou colheita em campo, treinamento militar a campo, pesquisas cientificas);
• Fatores ambientais que provoquem o deslocamento de roedores para as residências ou arredores (queimadas, enchentes, alagamentos);
• Mudança no perfil agrícola ou outros fenômenos naturais periódicos que alterem a disponibilidade de alimentos para os roedores (floração das taquaras).


Diagnóstico

Atualmente, os exames laboratoriais para diagnóstico específico da hantavirose são realizados em laboratórios de referência. Os exames estão disponíveis na rede pública de laboratórios para confirmação ou descarte dos casos.

O diagnóstico é feito, basicamente, por meio da sorologia. O Ministério da Saúde disponibiliza os kits necessários para testes sorológicos. 

ELISA-IgM –cerca de 95% dos pacientes com SCPH têm IgM detectável em amostra de soro coletada no início dos sintomas, sendo, portanto, método efetivo para o diagnóstico de hantanvirose.  Imunohistoquímica – técnica que identifica antígenos específicos para hantavírus em fragmentos de órgãos. Particularmente utilizada para o diagnóstico nos casos de óbitos, quando não foi possível a realização do diagnóstico sorológico in vivo.

RT-PCR – método de diagnóstico molecular, útil para identificar o vírus e seu genótipo, sendo considerado exame complementar para fins de pesquisa. Observe-se que quando o óbito é recente possibilita a realização de exame sorológico (ELISA IgM), mediante coleta de sangue do coração ou mesmo da veia.
A coleta de amostra deve ser feita logo após a suspeita do diagnóstico, pois o aparecimento de anticorpos da classe IgM ocorre concomitante ao início dos sintomas e permanecem na circulação até cerca de 60 dias, após o início dos sintomas. Quando em amostra única não for possível definir o diagnóstico, deve-se repetir a coleta e realizar uma segunda sorologia somente nas situações em que o paciente apresentar manifestações clínicas fortemente compatíveis com a SCPH e se a primeira amostra foi coletada nos primeiros dias da doença.

A técnica ELISA-IgG, ainda que disponível na rede pública, é utilizada apenas em estudos epidemiológicos, para detectar infecção viral anterior, em roedores ou em seres humanos.


Tratamento

Não existe um tratamento específico para as infecções por hantavírus. As medidas terapêuticas são fundamentalmente as de suporte, ministradas conforme cada caso por um médico profissional.


Prevenção

A prevenção da hantavirose baseia-se na utilização de medidas que impeçam o contato do homem com os roedores silvestres e suas excretas (resíduos eliminados do organismo).

As medidas de controle devem conter ações que impeçam a aproximação dos roedores, como, por exemplo, roçar o terreno em volta da casa, dar destino adequado aos entulhos existentes, manter alimentos estocados em recipientes fechados e à prova de roedores, além de outras medidas que impeçam a interação entre o homem e roedores silvestres, nos locais onde é conhecida a presença desses animais.


Situação epidemiológica da hantavirose no Brasil

Em algumas regiões do Brasil, observa-se um padrão de sazonalidade, possivelmente decorrente da biologia/comportamento dos roedores reservatórios.
Apesar de a doença ser registrada em todas as regiões brasileiras, o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste concentram maior percentual de casos confirmados. A presença da SCPH até o momento é relatada em 16 Unidades da Federação: Pará, Rondônia, Amazonas, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Maranhão, Rio Grande do Norte, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul.

As infecções ocorrem principalmente em áreas rurais, em situações ocupacionais relacionadas à agricultura, sendo o sexo masculino com faixa etária de 20 a 39 anos o grupo mais acometido. A taxa de letalidade média é de 46,5% e a maioria dos pacientes necessita de assistência hospitalar.


***

Fontes:

Ministério da Saúde   
•  Manual de Vigilância, Prevenção e Controle das Hantaviroses. (2013)

Avaliação do Sistema de Vigilância de Hantavírus no Brasil  


Fontes das imagens:

Guia dos Roedores do Brasil, com chaves para gêneros baseadas em caracteres externos /C. R. Bonvicino, J. A. Oliveira, P. S. D’Andrea. - Rio de Janeiro: Centro Pan-Americano de Febre Aftosa - OPAS/OMS, 2008.