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terça-feira, 29 de junho de 2021

ESQUISTOSSOMOSE

 

O que é?

A esquistossomose é uma doença parasitária causada pelo Schistosoma mansoni. Inicialmente a doença é assintomática, mas pode evoluir e causar graves problemas de saúde crônicos, podendo haver internação ou levar à morte. No Brasil, a esquistossomose é conhecida popularmente como “xistose”, “barriga d’água” ou “doença dos caramujos”.



A pessoa adquire a infecção quando entra em contato com água doce onde existam caramujos infectados pelos vermes causadores da esquistossomose. Os vermes, uma vez dentro do organismo da pessoa, vivem nas veias do mesentério e do fígado. A maioria dos ovos do parasita se prende nos tecidos do corpo humano e a reação do organismo a eles pode causar grandes danos à saúde.

O período de incubação, ou seja, tempo que os primeiros sintomas começam a aparecer a partir da infecção, é de duas a seis semanas. 


Histórico 

A esquistossomose, xistose, barriga d'água ou doença do caramujo chegou ao Brasil, vinda da África, na época da escravidão. A doença chegou pelo Nordeste e encontrou todas as condições favoráveis à sua instalação: altas temperaturas, saneamento básico deficitário, população humana exposta, caramujos hospedeiros em abundância e grande quantidade de córregos, lagoas, represas e valas de irrigação. Todos esses fatores permitiram que a doença se manifestasse por muito tempo entre as pessoas que trabalhavam na agricultura, principalmente nos canaviais. Com o declínio da cultura de cana e abolição do regime de escravidão ocorreu forte migração para outras regiões do país. Assim, a doença foi se espalhando pelos estados ao longo do percurso.


Como a Esquistossomose é transmitida?

Para que haja transmissão é necessário um indivíduo infectado liberando ovos de Schistosoma mansoni por meio das fezes, a presença de caramujos de água doce e o contato da pessoa com essa água contaminada. Quando uma pessoa entra em contato com essa água contaminada, as larvas penetram na pele e ela adquire a infecção.

Alguns hábitos como nadar, tomar banho ou simplesmente lavar roupas e objetos na água infectada favorecem a transmissão. A esquistossomose está relacionada ao saneamento precário.


Fatores de risco

Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e sexo, pode ser infectada com o parasita da esquistossomose, mas as situações abaixo são grandes fatores de risco para se contrair a infecção.

Existência do caramujo transmissor.
Contato com a água contaminada.
Fazer tarefas domésticas em águas contaminadas, como lavar roupas.
Morar em comunidades rurais, especialmente populações agrícolas e de pesca.
Morar em região onde há falta de saneamento básico.
Morar em regiões onde não há água potável.


Sintomas

A maioria dos portadores são assintomáticos. No entanto, na fase aguda, o paciente infectado por esquistossomose pode apresentar diversos sintomas, como:
febre;
dor de cabeça;
calafrios;
suores;
fraqueza;
falta de apetite;
dor muscular;
tosse;
diarreia.

IMPORTANTE: Em alguns casos, o fígado e o baço podem inflamar e aumentar de tamanho.

Na forma crônica da doença, a diarreia se torna mais constante, alternando-se com prisão de ventre, e pode aparecer sangue nas fezes. Além disso, o paciente pode apresentar outros sinais, como:

tonturas;
sensação de plenitude gástrica;
prurido (coceira) anal;
palpitações;
impotência;
emagrecimento;
endurecimento e aumento do fígado.

Nos casos mais graves, o estado geral do paciente piora bastante, com emagrecimento, fraqueza acentuada e aumento do volume do abdômen, conhecido popularmente como barriga d’água. 


Complicações possíveis

Se não tratada adequadamente, a esquistossomose pode evoluir e provocar algumas complicações, como, por exemplo:

aumento do fígado;
aumento do baço;
hemorragia digestiva;
hipertensão pulmonar e portal;
morte.


Diagnóstico

O diagnóstico da esquistossomose é feito por meio de exames laboratoriais de fezes. É possível detectar, por meio desses exames, os ovos do parasita causador da doença. 
O médico também pode solicitar teste de anticorpos para verificar sinais de infecção e para formas graves ultrassonografia.


Hospedeiros da esquistossomose

No ciclo da esquistossomose estão envolvidos dois hospedeiros:

Hospedeiro definitivo: o homem é o principal hospedeiro definitivo. Nele, o parasita desenvolve a forma adulta e reproduz-se sexuadamente. Os ovos são eliminados por meio das fezes no ambiente, ocasionando a contaminação das coleções hídricas naturais (córregos, riachos, lagoas) ou artificiais (valetas de irrigação, açudes e outros).
Hospedeiro intermediário: o ciclo biológico do S. mansoni depende da presença do hospedeiro intermediário no ambiente. Os caramujos gastrópodes aquáticos, pertencentes à família Planorbidae e gênero Biomphalaria, são os organismos que possibilitam a reprodução assexuada do helminto. No Brasil, as espécies Biomphalaria glabrata, Biomphalaria straminea e Biomphalaria tenagophila estão envolvidas na disseminação da esquistossomose. Há registros da distribuição geográfica das principais espécies em 24 estados, localizados, principalmente, nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.


Biomphalaria glabrata



Como ocorre a transmissão da esquistossomose?

A transmissão da esquistossomose ocorre quando o indivíduo infectado elimina os ovos do verme por meio das fezes humanas. Em contato com a água, os ovos eclodem e liberam larvas que infectam os caramujos, hospedeiros intermediários que vivem nas águas doces. Após quatro semanas, as larvas abandonam o caramujo na forma de cercarias e ficam livres nas águas naturais. O ser humano adquire a doença pelo contato com essas águas.


Destaca-se que a transmissão da esquistossomose não ocorre por meio do contato direto com o doente. Também não ocorre “autoinfecção”.


Prevenção

A prevenção da esquistossomose consiste em evitar o contato com águas onde existam os caramujos hospedeiros intermediários infectados. O controle da esquistossomose é baseado no tratamento coletivo de comunidades de risco, acesso a água potável e saneamento básico, educação em saúde e controle de caramujos em lagos e rios.

Grupos-alvo para o tratamento são:
Comunidades inteiras que vivem em áreas de alta contaminação.
Crianças em idade escolar nas áreas urbanas residentes em áreas endêmicas.
Pessoas com profissões que envolvem contato com a água contaminada, tais como pescadores, agricultores, trabalhadores de irrigação.
Pessoas que praticam tarefas domésticas que envolvem contato com água contaminada.

IMPORTANTE: Ainda não há vacina contra a esquistossomose.



Tratamento

O tratamento da esquistossomose, para os casos simples, é em dose única e supervisionado feito por meio do medicamento Praziquantel, receitado pelo médico e distribuído gratuitamente pelo Ministério da Saúde.  Os casos graves geralmente requerem internação hospitalar e até mesmo tratamento cirúrgico, conforme cada situação.


Situação epidemiológica

No mundo 

A esquistossomose mansoni é uma doença de ocorrência tropical, registrada em 54 países, principalmente na África e Leste do Mediterrâneo, atinge as regiões do Delta do Nilo e países como Egito e Sudão.

Américas

Atinge a América do Sul, destacando-se a região do Caribe, Venezuela e Brasil.

Brasil

Estima-se que cerca de 1,5 milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados sendo que a ocorrência está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores.

Atualmente, a doença é detectada em todas as regiões do país. As áreas endêmicas e focais abrangem os Estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte (faixa litorânea), Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais (predominantemente no Norte e Nordeste do Estado).
No Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal, a transmissão é focal, não atingindo grandes áreas.


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Fontes:





Imagens:

Fiocruz
Wikipedia


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Saiba o que é esquistossomose


Conhecida como doença do caramujo, barriga d'água e xistose, a doença pode evoluir para formas graves e levar à morte





Conhecida como uma doença prevalente em áreas tropicais e subtropicais, a esquistossomose afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Popularmente conhecida como barriga d'água, xistose ou doença do caramujo, a esquistossomose atinge principalmente comunidades carentes, sem acesso a água potável e sem o saneamento adequado. Se não for tratada adequadamente, a esquistossomose pode evoluir e provocar complicações graves, levando à morte.

De acordo com a coordenadora-geral substituta de Doenças em eliminação do Ministério da Saúde, Jeann Marie Marcelino, a esquistossomose está relacionada diretamente com certos hábitos de vida. “É uma doença relacionada com a falta de saneamento básico e uso da água doce para lazer ou para trabalho, como pescadores e mulheres que lavam louças na beira do rio”, esclarece.

A principal forma de ser infectado pelos vermes causadores da esquistossomose é entrando em contato com água doce com caramujos infectados. Quando uma pessoa entra em contato com essa água contaminada, as larvas penetram na pele e ela adquire a infecção.


Como acontece a transmissão

No Brasil, a doença parasitária é causada pelo verme Trematódeo Schistosoma Mansoni. Ele tem a espécie humana como hospedeiro definitivo e os caramujos de água doce, do gênero Biomphalaria, como hospedeiros intermediários.






Pessoas contaminadas podem liberar ovos do parasita em suas fezes. Quando estas são depositadas em rios, córregos e outros ambientes de água doce ou quando chegam até estes locais pelas enxurradas, pode acontecer a contaminação através da pele. O verme é capaz de penetrar na pele de pessoas que pisam descalças, nadam, tomam banho ou simplesmente lavam roupas e objetos na água infectada.




Marcelino explica que, no Brasil, a principal região com áreas de transmissão é o Nordeste. Mas outros estados, como Minas Gerais e o Espírito Santo, também possuem casos da doença. “Destacamos que os estados que possuem maior número de casos são Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe. Além deles, podemos destacar o Rio Grande do Norte, Paraíba, e Maranhão. Também existem pequenas áreas de transmissão no Ceará e no Pará. A indicação é que quando uma pessoa visite esses estados tenha muita atenção para o banho em águas doces com correnteza leve, pequenos rios e riachos”, alerta.


Sintomas da esquistossomose

Na fase aguda, o paciente infectado por esquistossomose pode apresentar diversos sintomas, como febre, dor de cabeça, calafrios, suores, fraqueza, falta de apetite, dor muscular, tosse e diarreia. Em alguns casos, o fígado e o baço podem inflamar e aumentar de tamanho.

Porém, a coordenadora explica que, na maioria dos casos, as pessoas infectadas não sentem sintomas da doença. “A maioria dos portadores do parasita não apresentam sinais da doença, são assintomáticos. É uma doença bastante silenciosa, o que a torna perigosa”, disse.

Quando os sintomas surgem, o tempo de aparecimento dos primeiros sinais é de duas a seis semanas, a partir da infecção. Além disso, a doença pode se tornar crônica. “Se a pessoa contraiu a doença e não teve tratamento durante muito tempo ou se ela vive em uma área endêmica e está sempre se reinfectando, ela pode desenvolver uma forma crônica da doença”, explica Marcelino.

Na forma crônica da doença, a diarreia se torna mais constante, alternando-se com prisão de ventre, e pode aparecer sangue nas fezes. Além disso, a pessoa pode ter outros sintomas, como tonturas, dor na cabeça, sensação de plenitude gástrica, coceira anal, palpitações, impotência, emagrecimento, endurecimento e aumento do fígado.

Nos casos mais graves, o estado geral do paciente piora bastante, com emagrecimento, fraqueza acentuada e aumento do volume do abdômen, conhecido popularmente como barriga d’água.


Tratamento

Uma pessoa infectada terá ovos do parasita nos tecidos do corpo humano e a reação do organismo a eles pode causar grandes danos à saúde. Por isso, é importante que o tratamento seja iniciado o quanto antes.

O tratamento da esquistossomose, para os casos com menor gravidade, é simples, em dose única, na unidade de saúde, por meio de medicamentos específicos receitados pelo médico. Os casos graves geralmente requerem internação hospitalar e até mesmo tratamento cirúrgico, conforme cada situação.

O tratamento é oferecido de forma integral e gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em caso de suspeita de infecção, procure a Unidade de Saúde mais próxima para os cuidados necessários.







segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Fiocruz anuncia nova fase de vacina para esquistossomose


A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) dará início aos estudos clínicos de Fase II da vacina brasileira para esquistossomose, chamada de Vacina Sm14, em etapa realizada em parceria com a empresa Orygen Biotecnologia S.A. A vacina é um dos projetos de pesquisa e desenvolvimento em saúde priorizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), visando garantir o acesso da população dos países pobres a ferramentas de medicina coletiva com tecnologia de última geração.

Uma das doenças parasitárias mais devastadoras socioeconomicamente, atrás apenas da malária, a esquistossomose infecta mais de 200 milhões de pessoas, de acordo com a OMS, essencialmente em países pobres. Relacionada à precariedade de saneamento, a doença tem áreas endêmicas em mais de 70 países, onde 800 milhões de pessoas vivem sob risco de infecção, sobretudo na África. No Brasil, 19 estados apresentam casos, especialmente os da região Nordeste, além de Minas Gerais e Espírito Santo.


Vacina inédita

Desenvolvida e patenteada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a vacina foi produzida a partir de um antígeno – substância que estimula a produção de anticorpos, evitando que o parasita causador da doença se instale no organismo ou que lhe cause danos. Foi utilizada a proteína Sm14, sintetizada a partir do Schistosoma mansoni, verme causador da esquistossomose na América Latina e na África. “Esta é a primeira vez no mundo que uma vacina parasitária produzida com tecnologia brasileira de última geração chega à Fase II de estudos clínicos. Estamos trabalhando para contribuir para o enfrentamento de um problema de saúde pública que afeta populações pobres de diversas localidades do mundo”, destaca Miriam Tendler, pesquisadora do Laboratório de Esquistossomose Experimental do IOC/Fiocruz, que lidera os estudos.

Baseada em uma tecnologia inovadora, a vacina Sm14 possui patentes depositadas no Brasil, Europa, Estados Unidos, Austrália, Japão, Nova Zelândia, África do Sul, Canadá, Cuba, Egito e Índia, além das organizações africanas de propriedade intelectual ARIPO e OAPI. De acordo com o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, a vacina para esquistossomose desenvolvida pela Fundação representa mais um decisivo passo no objetivo de fortalecer, no Brasil, uma base tecnológica capaz de assegurar o atendimento das demandas do sistema público de saúde. “A vacina traduz uma conjunção de valores significativos, pois reúne competência científica e capacidade de transformação, levando a um processo de inovação voltado para a resolução de uma doença negligenciada, com impacto mundial extremamente significativo. Este imunizante, o primeiro para a doença em todo o mundo, é fruto de uma iniciativa enraizada na Fiocruz, com liderança da pesquisadora Miriam Tendler, além da criação de parcerias exemplares da relação público/privado”, pontua.

A etapa final de desenvolvimento da Vacina Sm14 é alvo de uma parceria público-privada (PPP) entre a Fiocruz e a empresa Orygen Biotecnologia S.A., agora parceira no desenvolvimento e produção da vacina humana. “Essa pesquisa poderá trazer um enorme impacto social e científico para o Brasil, que é a grande missão da Orygen desde sua criação. A Sm14 é uma daquelas iniciativas que mostram a capacidade de inovação do país e nós estamos orgulhosos em participar ativamente”, afirma Andrew Simpson, diretor científico da Orygen Biotecnologia S.A.


Prioridade para a Organização Mundial da Saúde

É crescente a preocupação da OMS com o contraste entre os países ricos e pobres na área de insumos tecnológicos para a saúde. Em 2010, a Assembleia Mundial da Saúde anunciou a criação de um grupo de trabalho com consultores experts em financiamento e coordenação de pesquisa e desenvolvimento científico, que em inglês tem a sigla CEWG. Em maio de 2013, o CEWG divulgou um plano estratégico de ação com vistas a proporcionar aos países pobres o acesso a plataformas para a solução de questões crônicas em saúde pública específicas desses países. Poucos meses depois, o grupo tornou pública uma lista preliminar com 22 projetos candidatos, para, enfim, em dezembro de 2013, anunciar os 7+1 projetos de inovação selecionados para serem apoiados política e estrategicamente pelo fundo cooperado gerenciado pela OMS – entre os quais, a Vacina Sm14, que assim tem assegurado o seu desenvolvimento final.

Uma particularidade relacionada à Vacina Sm14 é o fato de desequilibrar e mudar o paradigma de transferência de tecnologia que tradicionalmente segue uma lógica vertical onde o Hemisfério Norte ‘fornece’ conhecimento para o Hemisfério Sul. O Sm14 inaugura uma premissa horizontal, onde o Hemisfério Sul desenvolve uma tecnologia para o próprio Hemisfério Sul, começando com a colaboração Brasil-África nos Testes Clínicos de Fase II da vacina contra esquistossomose.


Estudos clínicos de Fase II

Os estudos clínicos da Fase II A serão realizados em adultos moradores da região endêmica no Senegal, na África, local atingido simultaneamente por duas espécies do parasito Schistosoma, causador da doença. Essa característica, que não existe em nenhuma região brasileira, é muito importante para que se possa verificar a segurança da Vacina Sm14 com escopo ampliado em relação a estes dois agentes. A área escolhida é hiperendêmica, ou seja, possui alta taxa de prevalência da doença, que afeta a população de forma continuada. Nessa etapa, a segurança do produto será avaliada, bem como a sua capacidade de induzir imunidade nas pessoas vacinadas. Está prevista a participação de 350 voluntários, entre adultos, inicialmente, e em crianças, ao longo de três etapas de Fase II. Os estudos foram aprovados por comitê de ética no Senegal.

Enquanto os estudos de Fase I foram realizados em área não endêmica, com voluntários saudáveis, nos estudos de Fase II os voluntários serão moradores de áreas endêmicas, que já tiveram contato com a doença, o que reflete a situação real onde a vacina será utilizada efetivamente. A Vacina Sm14 será administrada em três doses, com intervalos de um mês entre cada uma.

A Fase II A de estudos clínicos será realizada em parceria com a organização não-governamental senegalesa Espoir pour La Santé, sendo coordenada em campo pelo pesquisador Gilles Riveau, do Instituto Pasteur de Lille, na França, e diretor geral do Centre de Recherche Biomedicale Espoir pour La Santé. “Esta fase será conduzida por uma entidade respeitada internacionalmente, em uma estrutura de laboratório de última geração, composta por profissionais altamente qualificados”, ressalta Miriam. Estão previstas auditorias independentes de instituições locais, seguindo as regras internacionais de pesquisa com seres humanos e que incluirão o acompanhamento por um conselho assessor composto por especialistas de vários países. Os testes acontecerão entre setembro e dezembro de 2016, período que corresponde à mais alta endemicidade da doença em território africano. Tanto o protocolo de pesquisa quanto a documentação regulatória foram submetidos às autoridades senegalesas. A conclusão e os resultados dos estudos estão previstos para 2017.

“Temos orgulho da importante contribuição que a Vacina Sm14 representa, não apenas por seu caráter científico inovador, mas por inovar também no fluxo criativo, em que um país endêmico é capaz de gerar uma tecnologia que responde a um desafio, ao mesmo tempo, local e global. Isso é, de fato, fazer ciência para a sociedade”, avalia o diretor do IOC/Fiocruz, Wilson Savino.


Expectativas

Na etapa de estudos clínicos de Fase I, conduzido junto ao Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), que teve os resultados publicados em janeiro de 2016 na revista científica internacionalVaccine, os pesquisadores já haviam comprovado um dos mecanismos específicos da resposta imune provocada pela Vacina Sm14: a ativação de anticorpos e da citocina Interferon-gama, que é produzida pelo organismo em resposta ao agente infeccioso. A partir desta etapa, os especialistas irão mapear os mecanismos que atuam para que a pessoa adquira proteção contra a doença.

Os casos de esquistossomose acontecem em ambientes onde não há infraestrutura adequada de saneamento básico: fezes de pessoas infectadas com o verme Schistosoma, quando despejadas inapropriadamente em rios e outros cursos de água doce, podem infectar caramujos do gênero Biomphalaria. Por sua vez, os caramujos liberam larvas do verme na água, podendo infectar outras pessoas por meio do contato com a pele, reiniciando o ciclo da doença. “A vacinação tem o potencial de interromper o ciclo de transmissão. A vacina Sm14 foi desenvolvida para induzir uma imunidade duradoura”, completa a pesquisadora Miriam Tendler.


Financiamento e parcerias

A pesquisa é financiada pelo IOC/Fiocruz, Fiocruz, OMS e Orygen Biotecnologia S.A., por meio de recursos próprios e também através de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A etapa de desenho da molécula contou com a parceria do pesquisador Richard Garret, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC). 


Fonte:  FIOCRUZ