sábado, 29 de dezembro de 2018

Como o aquecimento global pode multiplicar a população de ratos


Getty Images


Chicago, uma cidade americana associada a muitos símbolos, incluindo a música e os esportes, é hoje conhecida como a "capital dos ratos" dos Estados Unidos.

Na Indonésia, estima-se que as perdas anuais de colheitas de arroz decorrentes de danos causados por roedores estão na ordem de 17%.

Se isto é uma guerra, então os humanos estão perdendo. E as coisas estão fadadas a piorar: cientistas alertam que a urbanização crescente e o aquecimento global provocarão aumento nas populações de roedores em todo o mundo.


Urbanização: mais prédios para humanos... e para ratos também



Getty Images
Ratos espalham doenças, comprometem a segurança alimentar e causam estragos em estruturas criadas pelo homem. Um estudo da Universidade de Cornell, por exemplo, estima que estes animais causam prejuízos de US$ 19 bilhões (cerca de R$ 74 bilhões) todos os anos nos Estados Unidos.

Sobre as populações humanas, a estimativa das Nações Unidas aponta que, até 2050, quase 70% das pessoas em todo o mundo viverão em cidades - acima dos atuais 55%.

Mais pessoas e mais prédios nas cidades significam mais comida e abrigo para os ratos, que há milhares de anos têm vivido bem perto dos seres humanos para aproveitar o que deixam para trás.

Uma espécie, mais do que qualquer outra, representa um grande problema: o Rattus norvegicus, conhecido como ratazana ou rato-castanho, um dos tipos mais comuns.

Temperaturas mais altas levarão a ciclos reprodutivos mais longos - ou seja, com o nascimento de mais filhotes -, o que não pode ser menosprezado no caso do roedor. De acordo com especialistas, um casal de ratos pode criar um ninho com 1.250 indivíduos em apenas 12 meses.

"Os ratos são um inimigo terrível e precisamos aceitar que é impossível erradicá-los. Matá-los não funciona, porque os que ficam para trás podem se recuperar rapidamente", explicou à BBC Steve Belmain, professor de ecologia da Universidade de Greenwich, em Londres.


Mudando a tática


"Uma ratazana fêmea já pode ter filhotes às 5 ou 6 semanas de idade, por exemplo", diz o cientista.

Belmain faz parte de um grupo de pesquisadores que tentam alterar o "discurso militar" na abordagem dos problemas criados pelos ratos.

"O problema que temos com a abordagem da guerra é que estamos simplesmente reagindo ao inimigo em vez de planejarmos proativamente antes de atacar", diz Michael Parsons, biólogo da Fordham University, em Nova York.

"Não ajuda o fato de sabermos muito mais sobre pandas gigantes do que sobre ratos-castanhos. Existe uma escandalosa falta de pesquisas sobre eles".

Para ilustrar seu desânimo, Parsons cita uma estatística surpreendente: alguns pesquisadores calcularam que os ratos causaram mais mortes do que todas as guerras combinadas nos últimos mil anos.

Estes animais foram associados, por exemplo, à peste negra, uma pandemia de peste bubônica que dizimou um terço da população da Europa no século 14. Alguns cientistas, no entanto, têm questionado se são os roedores, e não pulgas e piolhos humanos, os verdadeiros culpados pela pandemia.

"Os ratos não vão embora, porque aprenderam a viver perto de nós e a não se assustar com os humanos. Ainda assim, estamos incrivelmente no escuro no que sabemos sobre seus hábitos", critica Parsons.

A maioria das soluções usadas hoje em dia envolve matar os animais, especialmente por envenenamento. Mas isso cria riscos ambientais e também pode afetar seres humanos e outros animais.

Os cientistas também registraram casos em que ratos desenvolveram imunidade a alguns tipos de substâncias supostamente destinadas a matá-los.

Além disso, de acordo com organizações como o Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), o envenenamento é um método extremamente doloroso para matar estes animais.


Gatos não dão conta


"Os venenos são inúteis, perigosos para os humanos e extremamente cruéis, já que os animais passam dias sofrendo antes de finalmente morrerem em agonia", diz um porta-voz do Peta.

"Quando os animais morrem, o aumento resultante na disponibilidade de alimentos provoca acasalamento acelerado entre os sobreviventes e os recém-chegados - e isso significa aumento das populações".

Getty Images
Algumas cidades também apostaram no uso de predadores contra infestações de ratos. Washington, por exemplo, colocou "pelotões" de gatos em plena capital americana.

Discute-se há muito tempo o papel dos ratos na disseminação da peste bubônica
Mas a pesquisa de Parson foi um grande golpe para esse tipo de iniciativa.

No período de cinco meses em que ele e sua equipe monitoraram uma colônia de ratos no Brooklyn, em Nova York, os gatos conseguiram matar apenas dois de uma população estimada de 150 ratos.

"Gatos e ratos são mais propensos a ignorar ou a evitar um ao outro do que se engajar em conflitos diretos, especialmente depois que os ratos atingem um certo tamanho", explica Gregory Glass, ecologista de doenças da Universidade da Flórida.


Contraceptivos para ratos


Em 2016, a empresa americana Sensetech anunciou ter criado um contraceptivo que poderia tornar as ratas inférteis. Nas palavras da fundadora da empresa, Loretta Mayer, a invenção "mudaria o mundo".

O produto, o ContraPest, foi testado em vários tipos de ambiente e, de acordo com a Sensetech, resultou em uma "redução adicional de 46% na atividade de ratos na comparação com o uso de um método letal sozinho".

O ContraPest foi testado em Nova York no ano passado - acredita-se que a cidade seja a casa de mais de 2 milhões de ratos. Mas alguns especialistas são mais céticos na eficácia deste produto.

"Os ratos que não morderem a isca podem na verdade acabar procriando mais, pois haverá menos competição por comida", disse Peter Banks, especialista da Universidade de Sydney, à revista New Scientist.

O que parece ser consenso é que a interrupção da disponibilidade de comida para ratos é a chave para manter as populações destes animais à distância.


Cada rato por si


"As soluções são mais básicas do que pensamos. Se as autoridades lidarem com questões como armazenamento de lixo e falta de saneamento, isso pode ter efeitos profundos", diz Steve Belmain.

Com menos comida, os ratos "se voltam para si", de acordo com Mike Parsons.

"A indústria de combate aos roedores é um negócio de bilhões de dólares. Mas ações simples como carregar o lixo consigo em vez de despejá-lo em uma lixeira pública podem ser mais eficazes."

"Com menos comida, os ratos terão que ajustar sua população. Isso implica em se reproduzir menos e lutar uns contra os outros."

Mas, para Jan Zalasiewicz, paleobiologista da Leicester University, se as coisas continuarem como estão, o futuro pode realmente pertencer a ratos.

"Os ratos são um dos melhores exemplos de espécies que ajudamos a espalhar pelo mundo e que se adaptaram com sucesso a muitos dos novos ambientes em que acabaram se encontrando", disse Zalasiewicz à BBC.

"Eles serão protagonistas do futuro geológico da Terra e podem sobreviver aos humanos."


Fonte:  BBC News Brasil


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

CCZ promove ações educativas para agentes comunitários da região de Pendotiba




Agentes comunitários de saúde do Programa Médico de Família da região de Pendotiba receberam neste mês de dezembro ações educativas promovidas pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) – através do setor de Informação, Educação e Comunicação em Saúde (IEC).

Ministrada por Delcir Vieira e Patrícia de Oliveira, as atividades desenvolveram-se por meio de bate papo interativo e exibição de slide-show, nos moldes de palestra, e tiveram o objetivo principal de instruir os profissionais para o emprego do conhecimento nas ações educativas a serem realizadas na comunidade. 

O tema Pombos Urbanos foi discutido nos módulos do PMF Abelardo Ramirez bairro Matapaca, em 11/12, e do PMF Sapê, em 17/12, com o objetivo de sensibilizar sobre a importância da adoção de medidas que evitem a oferta de alimento e o acesso a locais que possam se tornar abrigo dos pombos e favorecer a reprodução dessa ave – especialmente no ambiente domiciliar e de convívio. Teve como pauta os tópicos: biologia dos pombos, os fatores que favorecem sua presença, os cuidados para manejá-lo, quais as principais doenças causadas e como deve ser feito o controle efetivo desses animais.

Segundo relatos dos agentes do Sapê, a comunidade no entorno da unidade tem a prática de alimentar pombos e animais de rua, favorecendo a proliferação destes, além de ratos, e com as informações apresentadas será mais fácil sensibilizar os moradores quanto a esse hábito desacertado.  Já os agentes do Matapaca disseram que não sabiam da dimensão dos riscos que os pombos oferecem à Saúde Pública.


PMF Matapaca (11/12)


 PMF Sapê (17/12)


No PMF Sapê tratou-se também do assunto Pediculose (03/12), abordando os itens:  tipos de piolhos, o piolho capilar, ciclo de vida, dificuldades causadas nas crianças e jovens, prevenção e tratamento. O propósito da atividade foi de informar a respeito dos cuidados básicos para prevenir e tratar possível infestação de piolhos. 

“Além de toda a informação apresentada, como prevenção e tratamento, percebemos que muitos moradores ainda utilizam venenos para o combate aos piolhos. Essa palestra esclareceu bastante os riscos que produtos como álcool e inseticidas podem provocar, especialmente graves acidentes em crianças”, esclareceu Patrícia de Oliveira.





Visando sensibilizar sobre a importância do cuidado com a saúde familiar, nos módulos do PMF João Sampaio, bairro Maceió, em 12/12, e PMF do Matapaca, em 13/12, falou-se a respeito de higiene pessoal e ambiental, tendo como questões: conceito de higiene, higiene pessoal e ambiental, lavagem das mãos e saúde, cuidados com a água de consumo e alimentos, piolho e sarna.

As orientações reforçaram conhecimentos adquiridos e motivaram os ACS’s a trabalharem mais intensamente as práticas com alguns usuários da unidade.  No módulo do Maceió, a dentista Ana participou da palestra e contribuiu com informações valiosas sobre higiene bucal.


  PMF Maceió (12/12)



 PMF Matapaca (13/12)


Em 18/12 a equipe do IEC encerrou o ciclo de ações com o tema Arboviroses no PMF do Maceió. O objetivo foi alertar acerca dos perigos à saúde causados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti como dengue, zika, chikungunya e febre amarela.  Os palestrantes discorreram sobre o histórico e conceito das arboviroses, sintomas, comportamento do mosquito transmissor (o Aedes aegypti), principais criadouros do inseto, distribuição de casos da doença no município, e métodos de controle do vetor de transmissão. 

Segundo Patrícia, com a proximidade do verão e consequente aumento de chuvas, a unidade já vem recebendo pessoas com suspeita de arboviroses. “Transmitimos algumas atualizações sobre a mutação do Aedes aegypti e reforçamos sobre as diversas maneiras de como podemos sensibilizar os moradores que ainda não mudaram seus hábitos quanto aos possíveis criadouros”, contou a palestrante.




quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Educação em Saúde fala sobre Boas Práticas na Manipulação de Alimentos na UMEI Eduardo Campos


Com o objetivo de informar a respeito dos procedimentos adequados à manipulação de alimento que beneficiam a qualidade dos produtos e a saúde do consumidor, o Centro de Controle de Zoonoses de Niterói (CCZ) – através do setor de Informação, Educação e Comunicação em Saúde (IEC) – realizou a palestra Boas Práticas na Manipulação de Alimentos para merendeiras da Unidade Municipal de Educação Infantil Governador Eduardo Campos, bairro Maria Paula, em 10 de dezembro.

Ministrada pelos agentes Delcir Vieira e Patrícia de Oliveira, a ação educativa em saúde desenvolveu-se por meio de bate papo interativo e exibição de slide-show. Principais tópicos discutidos: conhecendo os erros na cozinha; como implantar as boas práticas; meios de contaminação; alimentos de maior risco; contaminação cruzada; sintomas das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs); higienização; além de algumas orientações sobre tempo e temperatura dos alimentos.

“Foi muito gratificante.  Como o tema era de grande interesse, as servidoras participaram ativamente e aproveitaram para falar sobre o funcionamento cotidiano de uma cozinha de unidade escolar. Algumas já conheciam as práticas corretas de como manipular alimentos, mas segundo as mesmas, o reforço nas informações contribuíram para a atualização do conhecimento”, relatou a palestrante Patrícia de Oliveira.



quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Atalaia recebe mutirão contra dengue




Na manhã deste sábado (22), cerca de 30 agentes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Niterói, realizaram no Atalaia, em Santa Rosa, mutirão de combate ao mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, zika e chikungunya. No total, 439 imóveis foram vistoriados.

Além dos imóveis, os agentes percorreram as ruas e canteiros vistoriando possíveis focos do mosquito e orientaram a população com distribuição de material informativo. A equipe também realizou desratização, quando necessário.

De acordo o chefe do CCZ de Niterói, Francisco de Faria Neto, o combate ao vetor no ambiente domiciliar e nos logradouros públicos é de vital importância para um bom resultado.

“A melhor forma de prevenir essas doenças é a eliminação do vetor, para isso é preciso combater os criadouros do Aedes aegypti, que coloca seus ovos em recipientes com água parada, como garrafas, sacos plásticos e pneus velhos que ficam expostos à chuva”, sinaliza Francisco.

O eletricista, Adenilson Santos, de 60 anos, disse que iniciativas como esta são muito importantes para o combate ao mosquito e contou que ajuda na prevenção de foco do Aedes.

“Eu tento fazer a minha parte e a comunidade tem que fazer o mesmo. Acho importante esse trabalho para prevenir essas doenças e é fundamental ter ações como essa para orientar as pessoas e esclarecer alguma dúvida", disse.

Ação diária – Além dos mutirões, as equipes do CCZ realizam trabalho intenso de rotina de prevenção e combate ao mosquito em Niterói. Agentes vistoriam diariamente imóveis em todas as regiões do município, combatendo focos do inseto e orientando a população. Profissionais do Programa Médico de Família também atuam em parceria com o CCZ nas suas áreas de cobertura. Niterói também possui Comitês Regionais de Combate à Dengue, organizados pelas Policlínicas Regionais, com ações elaboradas de acordo com as características de cada comunidade.


Fonte:  Prefeitura de Niterói


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Prefeitura de Niterói intensifica ações de combate ao mosquito Aedes aegypti

 
A Prefeitura de Niterói vai intensificar, a partir desta semana, quando começa o verão, período de maior incidência de doenças causadas pelo Aedes aegypti, as ações de combate ao mosquito no município. O prefeito em exercício, Paulo Bagueira, e a secretária municipal de Saúde, Maria Célia Vasconcellos, se reuniram para finalizar as estratégias de intensificação das ações que já são realizadas de forma rotineira na cidade. Além do trabalho realizado durante todo o ano, o carro fumacê já começou a circular por Niterói e, nos próximos dias, os mutirões de combate ao mosquito terão início nos bairros.

O verão começa nesta sexta-feira (21), período com maior incidência do mosquito e de doenças transmitidas pelo inseto, como dengue, zika e chikungunya. Por isso, nos próximos dias, a Fundação Municipal de Saúde dá início aos mutirões de final de semana e ações em parceria com as administrações regionais, secretarias de Conservação e Serviços Públicos, Saúde, Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (CLIN), além de associações de moradores, escolas e unidades de saúde.

“A Prefeitura de Niterói não vai medir esforços para prevenir a proliferação do Aedes aegypti. A população tem papel fundamental nesse cenário e precisa fazer sua parte no combate ao mosquito. É muito importante que todos ajudem na eliminação dos criadouros do Aedes, que coloca seus ovos em recipientes com água parada, como pneus velhos expostos à chuva e garrafas vazias”, ressaltou o prefeito em exercício.

Além dos mutirões, as equipes do CCZ realizam, durante todo o ano, um trabalho intenso de prevenção e combate ao mosquito em Niterói. Agentes vistoriam diariamente imóveis em todas as regiões do município, combatendo focos do inseto e orientando a população. Profissionais do Programa Médico de Família também atuam em parceria com o CCZ nas suas áreas de cobertura. Niterói também possui Comitês Regionais de Combate à Dengue, organizados pelas Policlínicas Regionais, com ações elaboradas de acordo com as características de cada comunidade.

A secretária municipal de Saúde, Maria Célia Vasconcellos, fala sobre o trabalho de prevenção e a importância das ações intersetoriais. “O trabalho de combate ao mosquito Aedes aegypti é intenso e de rotina, realizado durante o ano todo e não apenas no período mais crítico. No verão, intensificamos as ações e trabalhamos em parceria com outras secretarias, o que permite um resultado mais positivo”, destaca.


Fonte:  Prefeitura de Niterói

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Educação em Saúde fala sobre arboviroses no Centro Educacional Alzira Bittencourt




Tendo o objetivo de alertar os alunos acerca dos perigos à saúde causados pelas arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela), estimulando atitudes preventivas e a multiplicação das informações na família, a equipe do setor de Informação, Educação e Comunicação em Saúde (IEC) – do Centro de Controle de Zoonoses de Niterói (CCZ) – realizou palestras no Centro Educacional Alzira Bittencourt, em Icaraí, na última semana (dias 10 e 11/12).

A atividade foi realizada pelas agentes Daniele Caviare e Leila Neves, que utilizaram a metodologia do bate papo interativo com apresentação de slide-show e vídeo.  O conteúdo programático contemplou os seguintes temas: arboviroses (dengue, zika e chikungunya) e seus sintomas, a importância da vacinação contra a febre amarela, a desmistificação da questão equivocada da relação dos macacos com a transmissão direta da febre amarela em humanos, características do mosquito transmissor (o Aedes aegypti), principais medidas de prevenção e combate aos possíveis criadouros do vetor.

Segundo a equipe, as crianças participaram de modo efetivo.  “Os alunos foram maravilhosos e demostraram muito interesse pelo tema”, destacou Leila Neves.



segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Pesquisa mostra impactos sociais do vírus zika


Tão vulneráveis quanto as crianças nascidas com microcefalia em decorrência da zika nos últimos três anos, no Brasil, são suas mães e outras mulheres envolvidas em seus cuidados diários. Numa rotina sistemática de consultas médicas, atividades de estímulo e de recuperação de suas crianças, elas tiveram que largar o trabalho - o que impacta na renda da família -, abandonar projetos pessoais e enfrentar as dificuldades de um sistema de saúde despreparado para atender seus filhos. Esses dados são parte dos resultados da pesquisa Impactos Sociais e Econômicos da Infecção pelo Vírus Zika, que foram apresentados na última sexta-feira (30/11), no auditório da Fiocruz Pernambuco. Desenvolvido em conjunto pela Fiocruz Pernambuco, Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e London School of Hygiene and Tropical Medicine, o estudo mostra que avós, tias e irmãs adolescentes também são figuras importantes na rotina de atendimentos terapêuticos e nas atividades domésticas.

Os pais, quando presentes na vida cotidiana dessas crianças, são responsáveis por manter o sustento da família e ajudar em atividades domésticas que visam tornar mais leves os cuidados centrados nas mães. Com dados coletados de maio de 2017 a janeiro de 2018, nas cidades do Recife, Jaboatão dos Guararapes (PE) e Rio de Janeiro, a pesquisa, além de descrever o impacto da Síndrome Congênita da Zika (SCZ) nas famílias, estimou o custo da assistência à saúde das crianças com SCZ para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para suas famílias – 50% tinham renda entre um e três salários mínimos - e identificou os impactos nas ações e serviços de saúde e na saúde reprodutiva.

Em relação às despesas, verificou-se que o custo médio com consultas em um ano foi 657% maior entre as crianças com microcefalia ou com atraso de desenvolvimento grave causado pela síndrome (grupo 1) do que com crianças sem nenhum comprometimento (grupo 3 – controle). A quantidade de consultas médicas e com outros profissionais de saúde foram superiores em 422% e 1.212%, respectivamente. Já os gastos das famílias com medicamentos, hospitalizações e óculos, entre outras coisas, ficaram entre 30% e 230% mais elevados quando comparados com as crianças sem microcefalia, mas com manifestações da SCZ e com atraso de desenvolvimento (grupo 2) e com as do grupo 3, respectivamente.

Entre as dificuldades do dia a dia, essas famílias também esbarraram numa assistência de saúde insuficiente e fragmentada, com problemas no cuidado, ausência de comunicação entre os diversos serviços especializados, assim como entre níveis de complexidade. Para os profissionais de saúde, a epidemia deu visibilidade às dificuldades de acesso de outras crianças com problemas semelhantes, determinados por outras patologias/síndromes congênitas. Revelou, ainda, que as ações governamentais continuam centradas no mosquito transmissor e na prevenção individual, sem atuação sobre os determinantes sociais.

Nas entrevistas, a maioria das mulheres em idade reprodutiva expressou sentimento de pânico em referência à gravidez durante a epidemia de zika. Elas temiam, principalmente, o impacto sobre a criança, embora não compreendessem totalmente o termo Síndrome Congênita da Zika. Por isso, utilizavam frequentemente o termo microcefalia. Incertezas sobre como elas ou os bebês podiam ser infectados foram comuns. Assim como preocupações e expressões de sofrimento em relação à deficiência e ao impacto disso sobre suas vidas.

Outro medo delas era uma gravidez não planejada, pois estavam insatisfeitas com a oferta de métodos contraceptivos disponíveis nos serviços de saúde. A maioria usava contraceptivos hormonais injetáveis no momento das entrevistas e relataram falta de informação e falhas nos métodos utilizados. O DIU não apareceu como opção e os homens mostraram-se ausentes do planejamento reprodutivo. Quase todos os entrevistados desconheciam a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika e alguns ouviram informações sobre isso na televisão, mas não deram importância porque não era um assunto recorrente na mídia.

Também foram registradas incertezas sobre as possibilidades de transmissão e poucos receberam informações de profissionais de saúde. “Diante da falta de informações e de acesso aos métodos contraceptivos a gente questiona como a mulher vai exercer sua autonomia reprodutiva, escolher se ou quando engravidar”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Camila Pimentel, que participou do estudo. “Os epidemiologistas já alertaram que uma nova epidemia de zika pode ocorrer. Ainda assim, outras questões ligadas à zika continuam sem serem trabalhadas, como a questão dos direitos reprodutivos, do apoio psicológico e da geração de renda para as mães desses bebês”, analisa Camila.

Para a realização da pesquisa foram entrevistadas mães e outros cuidadores de crianças com SCZ, mulheres grávidas, homens e mulheres em idade fértil e profissionais de saúde, totalizando 487 pessoas.


Fonte:  Fiocruz