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terça-feira, 5 de abril de 2022

Cinco motivos que comprovam que a pandemia de Covid-19 ainda não acabou

 

Bilhões de pessoas sem acesso às vacinas, milhões com esquema incompleto e crianças desprotegidas são exemplos


Com a flexibilização do uso de máscaras e a queda no número de casos e de mortes pela Covid-19 em vários países, inclusive no Brasil, a ideia de que a pandemia está chegando ao fim foi sugerida por muita gente. Porém, a Organização das Nações Unidas (ONU) e seu braço da saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS), descartam a hipótese. Para seus líderes, é um erro grave pensar dessa forma, especialmente pela distribuição “escandalosamente desigual de vacinas” e o alto número de novos casos e mortes que ainda continuam em todo o mundo. 

"Os estragos mais trágicos da pandemia foram na saúde e na vida de milhões de pessoas, com mais de 446 milhões de casos no mundo, mais de seis milhões de mortes confirmadas e outro grupo incontável de pessoas lutando contra a piora da saúde mental. [...] A primeira dose ainda não chegou a 3 bilhões de pessoas. Seria um grave erro pensar que a pandemia acabou”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em discurso na semana passada disse o secretário. 

A ideia foi reforçada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, que disse que “a pandemia está longe do fim”, embora os casos e as mortes globais estejam decrescendo e vários países tenham diminuído as restrições. Segundo Tedros, “a crise não terminará em nenhum lugar até que termine em todos”. 

Com base nas determinações da OMS, destacamos cinco motivos que mostram por que a pandemia ainda não acabou.

Bilhões de pessoas sem vacina

Como a própria OMS destacou, há pelo menos 3 bilhões de pessoas no planeta sem acesso a qualquer vacina contra Covid-19, ou seja, que podem contrair o SARS-Cov-2 e desenvolver a forma mais grave da doença, que envolve internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o risco elevado de morrer. Como exemplo, há vários países do continente africano e americano com menos de 40% da população vacinada, meta mínima sugerida pela OMS. No mês passado, a OMS informou que apenas 11% da população elegível à vacinação em todo o continente africano tinha recebido ao menos uma dose.  Ainda segundo o órgão, 14 países das Américas não bateram a meta de vacinação. 




Crianças não elegíveis à vacinação

Há ainda uma grande população infantil sem acesso às vacinas contra Covid-19 em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, somente crianças a partir de cinco anos podem tomar o imunizante. A população de zero a quatro anos está vulnerável ao vírus, que continua circulando e tende a atacar de forma mais grave justamente os não vacinados. A CoronaVac, vacina do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, já é oferecida no país para crianças e adolescentes de seis a 17 anos. O Butantan entrou com pedido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberar o imunizante para crianças a partir dos três anos, após pesquisa realizada no Chile e em outros países mostrarem que ele é altamente eficaz contra a Covid-19 nesta população, e praticamente não causa efeitos colaterais. Sete países já aplicam a CoronaVac em crianças a partir dos três anos. 




Milhões ainda não completaram o esquema vacinal

Pesquisas indicam que a alta proteção contra casos graves de Covid-19 conferida pelas vacinas ocorre somente com esquema vacinal completo. No entanto, no Brasil até janeiro/22, 54 milhões de pessoas ainda não tinham tomado a dose de reforço. Segundo o Ministério da Saúde, 66,6% dos idosos tomaram a terceira dose, quando a meta é 80%. Por isso, é fundamental, completar o esquema vacinal primário de acordo com a bula do fabricante (no caso de quem tomou CoronaVac, o intervalo entre doses é de 28 dias para qualquer idade), mesmo com atraso, e depois tomar a dose de reforço. 




Surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 

As sublinhagens da variante ômicron BA.1, BA.2 e a aparição da delta-ômicron, uma nova variante surgida a partir da fusão de outras duas variantes de preocupação (VOCs, na sigla em inglês), preocupam a OMS e são mais um indicativo de que a pandemia não acabou. Segundo a OMS, a BA.1 é hoje a variante predominante no mundo. No entanto, a proporção de casos de BA.2 está aumentando nas últimas semanas. 

Na semana passada, cientistas do Instituto Pasteur, da França, disseram ter descoberto a primeira evidência sólida da variante delta-ômicron, ou deltacron, com estrutura recombinante derivada das sublinhagens AY.4 (delta) e BA.1 (ômicron).

Segundo os cientistas, este vírus recombinante foi identificado em várias regiões da França pelo Consórcio de Emergência Europeu (Emergen) e vem circulando desde o início de janeiro de 2022. Genomas com um perfil semelhante foram também identificados na Dinamarca e na Holanda. “Outras investigações são necessárias para determinar se estes recombinantes derivam de um único ancestral comum ou podem resultar de vários eventos semelhantes de recombinação”, informou um comunicado da GISAID, plataforma internacional de dados genômicos sobre o coronavírus e o vírus influenza. 

Além do surgimento de novas variantes aumentar o risco do escape vacinal, isto é, a diminuição da proteção das vacinas já existentes, quanto mais variantes circularem, maior o risco de mais pessoas se infectarem, dos não vacinados terem quadros graves e de novas ondas de infecções surgirem – diminuindo ainda mais a chance de a pandemia acabar. 




Número de casos e mortes continua alto

Apesar de os casos de Covid-19 estarem em declínio no mundo, o avanço da variante ômicron mostrou que cada mutação do novo coronavírus se mostrou ainda mais transmissível do que a anterior, aumentando avassaladoramente o número de infectados nas últimas ondas de infecções em vários países. No Brasil, especificamente, a ômicron tomou conta rapidamente e promoveu uma explosão de casos em 2022. No começo de fevereiro, em um único dia houve a notificação de mais de 298 mil casos de Covid-19 pelo Ministério da Saúde, considerado um recorde diário; e no mesmo período o país voltou a reportar mais de mil mortes por dia. O número de mortes atualmente está em queda, mas ainda com média de 500 óbitos por dia.





segunda-feira, 4 de maio de 2020

Em tempos de pandemia, vírus da dengue pode ser invisibilizado





Professor Expedito Luna (FMUSP) alerta para o fato de que, a despeito do coronavírus, o vírus da dengue continua ativo e fazendo vítimas pelo Brasil

Novas espécies de vírus foram identificadas em pacientes que apresentavam sintomas da dengue. Um dos microrganismos pertence ao gênero Ambidensovirus e foi encontrado em amostra coletada no Amapá. O outro, presente em amostra do Tocantins, pertence ao gênero Chapparvovirus. Antonio Charlys da Costa, pós-doutorando da Faculdade de Medicina da USP e um dos autores do estudo, compartilha que essas espécies nunca foram encontradas antes em humanos e foi possível identificá-las através da técnica de metagenômica viral. 

Embora tenham sido encontrados em pacientes com sintomas de dengue, ainda não é conclusivo que os novos vírus tenham desencadeado esses sintomas ou se oferecem de fato risco para a população, mas a descoberta de novos microrganismos pode ser um alerta para a importância de se estudar e analisar novos vírus que podem, por exemplo, ajudar na identificação de doenças não reconhecíveis, como afirma o pesquisador: “Essa descoberta pode trazer alguma luz para os diagnósticos não resolvidos, ou seja, para aqueles pacientes que tinham alguma suspeita de alguma arbovirose e os testes deram negativos. Você tem mais opção de buscar causadores de doenças, entendeu, isso também daria mais força para pessoas procurarem mais vírus diferentes aqui no nosso país”.

Em um período em que estamos enfrentando a ameaça mundial do coronavírus, o Brasil, país com histórico de epidemias virais, precisa estar sempre atento com os novos e também com os antigos vírus, como, por exemplo, o da dengue, uma das arboviroses que podem ser invisibilizadas pela pandemia, como explica o professor Expedito Luna, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto de Medicina Tropical: “Ela [a pandemia] veio acompanhada com um quadro de extrema gravidade, com uma letalidade que não é desprezível e é natural que o mundo inteiro desenvolva esforços no sentido de controlar essa doença. Um problema que acontece é que, simultaneamente à ocorrência da covid-19, outras doenças continuam ocorrendo, dentre elas, a dengue”.

Nas primeiras dez semanas deste ano, o Brasil registrou ao menos 332.397 casos de dengue, segundo dados do último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde até o dia 7 de março. Em 2020, a atenção deve ser redobrada porque o pico da doença coincidirá com o da covid-19 e o da gripe influenza, previstos para maio, como explica o professor: “O pico de ocorrência de dengue no Brasil costuma ser no mês de maio, então, até a semana do dia 12, ou seja, que é mais ou menos o meio do mês de março, o Ministério da Saúde já nos informava 450 mil casos prováveis de dengue no Brasil, ou seja, caminhamos para mais um ano epidêmico”.

Fonte:  Jornal da USP 
Por Gabrielle Abreu

Foto: UNICEF/BRZ/Ueslei Marcelino, site Nações Unidas Brasil