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segunda-feira, 23 de maio de 2022

Pesquisador do Butantan desenvolve lista de escorpiões nativos que ajuda a identificar onde vivem espécies mais perigosas

Lista “Escorpiões do Brasil” reconhece novas espécies e mostra onde elas vivem pelo país; veja como evitar acidentes

No mundo, existem mais de duas mil espécies de escorpiões registradas. Destas, 172 vivem no Brasil. A espécie que mais causa acidentes no país, principalmente em crianças, é o Tityus serrulatus, também conhecido como escorpião-amarelo. Esta e outras espécies de escorpiões estão catalogadas na página “Escorpiões do Brasil”, produzida pelo pesquisador do Butantan Rogério Bertani, juntamente com o tecnologista da Fundação Oswaldo Cruz Alessandro Giupponi, e o doutor em zoologia Jairo González-Moreno.

A página, que está hospedada no site do Laboratório de Ecologia e Evolução do Butantan, mostra as espécies de escorpiões descobertas em território nacional por família e gênero, e inclui registros dessas espécies nos estados brasileiros.

A página também traz informações sobre as espécies consideradas de importância em saúde no Brasil.

Todas elas são do gênero Tityus: escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), escorpião-marrom (Tityus bahiensis), escorpião-amarelo-do-nordeste (Tityus stigmurus) e escorpião-preto-da amazônia (Tityus obscurus). Na página são apresentadas características desses aracnídeos para facilitar a identificação caso sejam encontrados em casa, ou para que um profissional da saúde consiga saber qual espécie causou um acidente grave. 

 


“Saber onde esses animais vivem é fundamental para direcionar o soro para o tratamento dos picados”, afirma Rogério. “A listagem também é essencial para os serviços médicos, que precisam saber se essas espécies ocorrem nas suas regiões e se preparar para atender os acidentados”, completa.

O trabalho, realizado entre 2019 e 2021, foi feito a partir da revisão da literatura dos escorpiões e a listagem daqueles registrados no Brasil. Ela será atualizada a cada seis meses, com base em artigos publicados sobre descobertas de novas espécies.

Vale lembrar que a maioria das espécies de escorpião não são responsáveis por causar acidentes graves na população. Ao contrário, esse é um aracnídeo que tem uma grande importância para o equilíbrio ambiental, pois se alimenta de insetos, fazendo o controle da população de pragas e vetores de doenças.

Além do controle ambiental, o escorpião tem também grande importância na pesquisa científica. “O veneno de várias espécies contém moléculas que vêm sendo estudadas para tratar doenças, ou serem utilizadas como ferramentas farmacológicas”, afirma o pesquisador do Butantan.

 

Espécies mais comuns no Brasil

As espécies que existem no Brasil são divididas em quatro famílias. Três delas são inofensivas ou causam picadas que provocam efeitos mais leves: Bothriuridae, escorpiões de pequeno porte que vivem no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste; Chactidae, que são escuros e de tamanho variado, comuns na Amazônia; e Hormuridae, que compreende escorpiões grandes e escuros, que vivem em algumas regiões do Centro-Oeste e da Amazônia e raramente provocam acidentes.

Os Buthidae são encontrados em todo o Brasil e compõem cerca de 60% das espécies nacionais. Dessa família faz parte o gênero Tityus, o mais perigoso.




Dicas de como prevenir acidentes com escorpiões

É comum que o número de acidentes com escorpiões aumente no verão. Muitas vezes, esses acidentes podem ser evitados seguindo algumas dicas de segurança e higiene.

1 - Não acumule lixo ou entulho.

2 - Limpe terrenos baldios.

3 - Vede soleiras de portas e janelas, frestas e buracos nas paredes.

4 - Coloque telas em ralos.

5 - Sacuda roupas e sapatos antes de usá-los.

6 - Não coloque a mão em buracos, pedras e troncos.

7 - Use calçados e luvas grossas nas atividades de jardinagem.

 

Fonte:  Instituto Butantan


terça-feira, 5 de abril de 2022

Cinco motivos que comprovam que a pandemia de Covid-19 ainda não acabou

 

Bilhões de pessoas sem acesso às vacinas, milhões com esquema incompleto e crianças desprotegidas são exemplos


Com a flexibilização do uso de máscaras e a queda no número de casos e de mortes pela Covid-19 em vários países, inclusive no Brasil, a ideia de que a pandemia está chegando ao fim foi sugerida por muita gente. Porém, a Organização das Nações Unidas (ONU) e seu braço da saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS), descartam a hipótese. Para seus líderes, é um erro grave pensar dessa forma, especialmente pela distribuição “escandalosamente desigual de vacinas” e o alto número de novos casos e mortes que ainda continuam em todo o mundo. 

"Os estragos mais trágicos da pandemia foram na saúde e na vida de milhões de pessoas, com mais de 446 milhões de casos no mundo, mais de seis milhões de mortes confirmadas e outro grupo incontável de pessoas lutando contra a piora da saúde mental. [...] A primeira dose ainda não chegou a 3 bilhões de pessoas. Seria um grave erro pensar que a pandemia acabou”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em discurso na semana passada disse o secretário. 

A ideia foi reforçada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, que disse que “a pandemia está longe do fim”, embora os casos e as mortes globais estejam decrescendo e vários países tenham diminuído as restrições. Segundo Tedros, “a crise não terminará em nenhum lugar até que termine em todos”. 

Com base nas determinações da OMS, destacamos cinco motivos que mostram por que a pandemia ainda não acabou.

Bilhões de pessoas sem vacina

Como a própria OMS destacou, há pelo menos 3 bilhões de pessoas no planeta sem acesso a qualquer vacina contra Covid-19, ou seja, que podem contrair o SARS-Cov-2 e desenvolver a forma mais grave da doença, que envolve internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o risco elevado de morrer. Como exemplo, há vários países do continente africano e americano com menos de 40% da população vacinada, meta mínima sugerida pela OMS. No mês passado, a OMS informou que apenas 11% da população elegível à vacinação em todo o continente africano tinha recebido ao menos uma dose.  Ainda segundo o órgão, 14 países das Américas não bateram a meta de vacinação. 




Crianças não elegíveis à vacinação

Há ainda uma grande população infantil sem acesso às vacinas contra Covid-19 em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, somente crianças a partir de cinco anos podem tomar o imunizante. A população de zero a quatro anos está vulnerável ao vírus, que continua circulando e tende a atacar de forma mais grave justamente os não vacinados. A CoronaVac, vacina do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, já é oferecida no país para crianças e adolescentes de seis a 17 anos. O Butantan entrou com pedido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberar o imunizante para crianças a partir dos três anos, após pesquisa realizada no Chile e em outros países mostrarem que ele é altamente eficaz contra a Covid-19 nesta população, e praticamente não causa efeitos colaterais. Sete países já aplicam a CoronaVac em crianças a partir dos três anos. 




Milhões ainda não completaram o esquema vacinal

Pesquisas indicam que a alta proteção contra casos graves de Covid-19 conferida pelas vacinas ocorre somente com esquema vacinal completo. No entanto, no Brasil até janeiro/22, 54 milhões de pessoas ainda não tinham tomado a dose de reforço. Segundo o Ministério da Saúde, 66,6% dos idosos tomaram a terceira dose, quando a meta é 80%. Por isso, é fundamental, completar o esquema vacinal primário de acordo com a bula do fabricante (no caso de quem tomou CoronaVac, o intervalo entre doses é de 28 dias para qualquer idade), mesmo com atraso, e depois tomar a dose de reforço. 




Surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 

As sublinhagens da variante ômicron BA.1, BA.2 e a aparição da delta-ômicron, uma nova variante surgida a partir da fusão de outras duas variantes de preocupação (VOCs, na sigla em inglês), preocupam a OMS e são mais um indicativo de que a pandemia não acabou. Segundo a OMS, a BA.1 é hoje a variante predominante no mundo. No entanto, a proporção de casos de BA.2 está aumentando nas últimas semanas. 

Na semana passada, cientistas do Instituto Pasteur, da França, disseram ter descoberto a primeira evidência sólida da variante delta-ômicron, ou deltacron, com estrutura recombinante derivada das sublinhagens AY.4 (delta) e BA.1 (ômicron).

Segundo os cientistas, este vírus recombinante foi identificado em várias regiões da França pelo Consórcio de Emergência Europeu (Emergen) e vem circulando desde o início de janeiro de 2022. Genomas com um perfil semelhante foram também identificados na Dinamarca e na Holanda. “Outras investigações são necessárias para determinar se estes recombinantes derivam de um único ancestral comum ou podem resultar de vários eventos semelhantes de recombinação”, informou um comunicado da GISAID, plataforma internacional de dados genômicos sobre o coronavírus e o vírus influenza. 

Além do surgimento de novas variantes aumentar o risco do escape vacinal, isto é, a diminuição da proteção das vacinas já existentes, quanto mais variantes circularem, maior o risco de mais pessoas se infectarem, dos não vacinados terem quadros graves e de novas ondas de infecções surgirem – diminuindo ainda mais a chance de a pandemia acabar. 




Número de casos e mortes continua alto

Apesar de os casos de Covid-19 estarem em declínio no mundo, o avanço da variante ômicron mostrou que cada mutação do novo coronavírus se mostrou ainda mais transmissível do que a anterior, aumentando avassaladoramente o número de infectados nas últimas ondas de infecções em vários países. No Brasil, especificamente, a ômicron tomou conta rapidamente e promoveu uma explosão de casos em 2022. No começo de fevereiro, em um único dia houve a notificação de mais de 298 mil casos de Covid-19 pelo Ministério da Saúde, considerado um recorde diário; e no mesmo período o país voltou a reportar mais de mil mortes por dia. O número de mortes atualmente está em queda, mas ainda com média de 500 óbitos por dia.





segunda-feira, 4 de abril de 2022

Vacina da dengue tem imunogenicidade superior a 90%, mostra ensaio clínico; Butantan deve finalizar fase 3 até 2024

 

Estudo americano mostrou 100% de soroconversão em quem já teve dengue e mais de 90% naqueles sem infecção prévia


Um novo estudo publicado no dia 15/3 na revista científica Human Vaccines & Immunotherapeutics reforçou as descobertas anteriores sobre a imunogenicidade da vacina da dengue, que vem sendo desenvolvida há mais de dez anos pelo Instituto Butantan em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID). De acordo com o artigo, publicado por pesquisadores da farmacêutica Merck, também parceira do Butantan, a vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus.

Os resultados se referem à fase 1 do ensaio clínico, realizada nos Estados Unidos. Atualmente, a pesquisa já se encontra na fase 3, sendo que as conclusões da fase 2 foram publicadas em artigo na revista The Lancet Infectious Diseases em março de 2020. A segunda etapa da pesquisa mostrou que a vacina induz soroconversão em mais de 70% dos indivíduos contra os quatro subtipos do vírus com apenas uma dose.

O novo artigo demonstra, mais uma vez, que a vacina tetravalente contra a dengue protege pessoas com e sem contato prévio com o vírus. A análise randomizada incluiu 200 adultos que receberam duas doses do imunizante ou placebo, para avaliar a capacidade da segunda dose de aumentar os anticorpos. Após a primeira dose, a soroconversão foi de 100% em quem já teve dengue e 92,6% em quem nunca foi infectado. A dose adicional não induziu diferenças significativas, confirmando que uma única dose é suficiente para produzir resposta imunológica contra a doença.

A imunogenicidade foi analisada durante um ano por meio de testes de neutralização do vírus e se manteve alta em todos os participantes. A vacina também se mostrou segura e sem efeitos adversos graves. As reações mais comuns foram dor de cabeça, fadiga, erupção cutânea e mialgia (dor muscular).




O percurso de mais de dez anos do estudo

O Butantan participa do desenvolvimento da vacina contra a dengue desde 2009. O acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos prevê que o Instituto produza e distribua o imunizante em território brasileiro. O estudo avançou para fase 3 em 2016, com 17 mil voluntários, e hoje está na etapa de acompanhamento – os voluntários serão avaliados durante cinco anos. A previsão é que a pesquisa seja concluída até 2024.


Sobre a vacina da dengue

A vacina é feita com os quatro tipos do vírus da dengue atenuados, ou seja, enfraquecidos, que induzem a produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas. Quem tem dengue uma vez ainda pode ser reinfectado por outro subtipo do vírus e, quando isso acontece, a doença costuma ser mais grave. “Por isso é muito importante que uma vacina contra a dengue proteja contra os quatro tipos do vírus ao mesmo tempo, para conferir proteção permanente”, afirma o diretor de Alianças Científicas Internacionais do Butantan, Alexander Precioso.

Os vírus atenuados foram cultivados em células Vero de macaco verde africano, uma técnica amplamente conhecida, e depois o material foi purificado e seguiu para a formulação. A última etapa é a liofilização, processo que transforma o líquido em pó, e a criação do diluente para ser adicionado ao pó no momento da aplicação da vacina. Saiba mais sobre o processo de produção da vacina.

Fonte:  Instituto Butantan



segunda-feira, 28 de março de 2022

Perguntas e respostas sobre o mundo das serpentes: desvende seis mitos sobre as cobras

 

Vitimas de fake news, as serpentes auxiliam muito mais do que imaginamos em vários aspectos do nosso cotidiano


Desde pequenos, ouvimos diversas histórias sobre serpentes e mal sabemos os benefícios que elas trazem ao mundo. O veneno da jararaca, por exemplo, foi usado em um componente como modelo para a fabricação de um remédio muito usado para controlar pressão alta, e há pesquisas que indicam que na peçonha da cascavel pode estar um possível medicamento contra o câncer. Sem contar o quanto as serpentes são imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio ambiental no planeta. Então por que tanta gente diz que não gosta de cobras? Muitas histórias foram espalhadas como verdade e colocam esses animais como inimigos do ser humano ou agressivos. Mas isso não é verdade. Conheça a seguir alguns mitos e verdades sobre as serpentes e saiba mais sobre esse animal tão importante para o mundo e para o homem. 


É possível diferenciar uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta?

É, sim. Isso pode ser feito por meio do reconhecimento do gênero ou família à qual a serpente pertence. As jararacas (gênero Bothrops) podem ser reconhecidas por meio de uma estrutura presente nas serpentes venenosas da família Viperidae chamada fosseta loreal. A fosseta loreal é uma espécie de buraco que fica entre a narina e os olhos das cobras e funciona como um termômetro usado para identificar uma presa ou um predador pelo calor que emitem. Para um especialista, essa distinção pode ser fácil, enquanto que para o cidadão comum, não. Mas a observação da fosseta loreal não é infalível. Ela não permite, por exemplo, identificar se a serpente é uma coral, sendo que todas as corais são venenosas. Outra forma de reconhecer as serpentes venenosas é identificar se ela é da espécie de cobra-coral do gênero Micrurus, pois todas são venenosas. Entretanto, existem as falsas corais – espécies não peçonhentas que imitam as características de uma coral verdadeira, mas não são venenosas. Como essa distinção é difícil de ser feita, a recomendação é assumir todas corais como venenosas e ficar distante, para não correr nenhum perigo.




A serpente com o veneno mais potente é a que mais mata?

Isso não é verdade. No Brasil, as cobras que mais causam acidentes são as do gênero Bothrops (fazem parte desse gênero jararacas, jararacuçus, urutus, entre outras), porque estão presentes em grande número no território nacional. Sua letalidade, porém, não chega a 0,3% – ainda que o veneno cause uma reação muito forte no local da picada que pode até levar à amputação do membro. As que possuem o veneno mais potente são as do gênero Micrurus, as corais, mas elas não causam tantos óbitos por conta do seu comportamento que, na maioria das vezes, é fugir ou se esconder. "Quase sempre os acidentes acontecem porque uma pessoa foi manipular, achou bonito e mexeu nela. Ela só vai atacar se for agarrada ou pisada", explica o curador da coleção herpetológica do Instituto Butantan, Felipe Gobbi Grazziotin. Outro motivo dos acidentes serem em números baixos é a falta de efetividade do bote da coral por conta da sua dentição, que é fixa – ou seja, para injetar o veneno, ela precisa que a mordida seja feita completamente. Sem contar que essas serpentes são menores e têm muito menos veneno para injetar. Em outras palavras, mesmo que o veneno seja mais potente, a quantidade injetada é muito menor. Comparativamente, as cascavéis, apesar de possuírem um veneno menos potente do que as corais, são mais letais, pois devido à mobilidade da dentição e à precisão do bote conseguem frequentemente injetar grande quantidade de veneno.




Venenos matam instantaneamente?

Nenhum veneno mata um ser humano instantaneamente. Toda a evolução dos venenos das serpentes foi em direção à captura de animais pequenos, as presas tradicionais das cobras. Ou seja, é esperado que o veneno mate, mas não um ser humano adulto. Quem sofrer um acidente e tomar uma picada vai ter tempo de ser conduzido até um hospital para receber o soro antiofídico. "O quanto antes você for atendido, melhor vai ser. A pessoa vai ter menos sequelas", explica a pesquisadora do Laboratório de Imunopatologia do Butantan Ana Maria Moura da Silva.





Toda picada de cobra tem veneno injetado?

Não! Pode acontecer da picada ir sem veneno. Esse acontecimento chama-se “picada seca”. A própria cobra coral, em algumas ocasiões, não injeta todo o veneno contido nas glândulas por conta de sua dentição (que a impede de completar a mordida) ou por outros motivos, como ter se alimentado recentemente e já ter usado o veneno na pressa (a cobra leva um tempo para conseguir produzir mais peçonha após tê-la usado).




As cobras podem ser envenenadas pelo seu próprio veneno?

Não. "Normalmente, elas têm uma resistência ao veneno delas mesmas", explica Ana Maria. As serpentes possuem um componente no sangue que neutraliza seu próprio veneno e de outras cobras da mesma espécie. Esses inibidores também são encontrados em animais como o gambá e serpentes que se alimentam de cobras venenosas, como a muçurana – os predadores de serpentes venenosas evoluíram até desenvolverem uma proteção contra o veneno delas.





O soro antiofídico serve para todos os acidentes com serpentes?

Não. O fundador e primeiro diretor do Instituto Butantan, Vital Brazil, revolucionou a saúde pública e o tratamento de acidentes com animais peçonhentos quando, contrariando as afirmações de especialistas europeus, comprovou que, para proteger a vítima, era necessário aplicar um soro específico para a espécie que havia causado o acidente. Essa descoberta entrou para a história da medicina e ficou conhecida como “princípio da especificidade antigênica”, ou seja: se alguém for picado por uma cobra, deve ser tratado com um soro específico para o veneno daquela cobra. Atualmente, são produzidos cinco diferentes soros antiofídicos no Butantan: antibotrópico (pentavalente), contra serpentes do gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia); anticrotálico, para serpentes do gênero Crotalus (cascavel); antielapídico, para serpentes do gênero Micrurus (coral verdadeira); o combinado antibotrópico (pentavalente) e antilaquético, indicado para o envenenamento por Bothrops ou Lachesis (surucucu-pico-de-jaca); e o combinado antibotrópico (pentavalente) e anticrotálico.






quinta-feira, 17 de março de 2022

Vacina da chikungunya é segura e gera resposta imune duradoura em 96% dos voluntários, apontam resultados finais de fase 3 nos EUA

 


Imunizante desenvolvido por farmacêutica parceira do Butantan apresentou 96,3% de soroconversão em ensaio clínico


Os resultados finais do ensaio clínico de fase 3 da vacina contra a chikungunya (VLA1553), desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, mostraram que a imunogenicidade alcançada após a vacinação permaneceu por ao menos seis meses, com manutenção da produção de anticorpos durante esse período em 96,3% dos indivíduos avaliados. Além disso, o imunizante é seguro e causa reações adversas mínimas.

O estudo foi conduzido nos Estados Unidos com 4.115 homens e mulheres acima de 18 anos. Em dados divulgados anteriormente, a taxa de soroconversão da vacina foi de 98,5% tanto para adultos quanto para idosos acima de 65 anos, promovendo níveis semelhantes de anticorpos neutralizantes. Passados seis meses da aplicação da vacina, a soroconversão continuou elevada, sendo detectada em 96,3% dos participantes da pesquisa. A duração da imunidade continuará sendo monitorada periodicamente com testes sorológicos durante pelo menos cinco anos.

O indicador é representativo porque os Estados Unidos, onde foi realizado o ensaio clínico, não são uma região endêmica de chikungunya. Ou seja, a presença de anticorpos neutralizantes se manteve alta após a vacinação em um ambiente no qual os voluntários não ficam em contato constante com o vírus – a tendência é que em locais onde a doença é endêmica, a produção de anticorpos seja ainda maior.

O chefe médico da Valneva, Juan Carlos Jaramillo, diz que o estudo confirma a segurança, tolerabilidade e imunogenicidade da vacina em adultos e idosos. “Entregar pela primeira vez os resultados finais de fase 3 de uma vacina contra chikungunya significa que estamos um passo mais próximos de solucionar uma importante e crescente ameaça de saúde pública”, afirma.

A avaliação de segurança foi feita com 3.082 voluntários e a maior parte das reações adversas relatadas foram leves a moderadas. Cerca de 50% dos participantes apresentaram reações sistêmicas como dor de cabeça, fadiga e dor no local da injeção, que se resolveram em poucos dias. Apenas 2% dos participantes reportaram efeitos mais severos, sendo febre o mais comum.

A imunogenicidade e segurança da VLA1553 já haviam sido demonstradas em ensaios clínicos de fase 1 e 2 em 2018, feitos com 120 pessoas de 18 a 45 anos que nunca tiveram contato com o vírus chikungunya. Após 14 dias da dose única, houve 100% de soroconversão e os anticorpos foram mantidos mesmo depois de um ano. Não foi registrado nenhum evento adverso grave até um ano após a aplicação.


Eficácia da vacina será avaliada em adolescentes brasileiros

Ensaios clínicos com a vacina da chikungunya também estão sendo realizados no Brasil. O objetivo é avaliar a vacina em uma região endêmica da doença, algo fundamental para atestar a real eficácia de um imunizante. O estudo terá duração de 15 meses e será feito com 750 voluntários, todos adolescentes de 12 a 17 anos. No final de janeiro, o Butantan iniciou o ensaio clínico em São José do Rio Preto. Também participarão do estudo centros de pesquisa de São Paulo-SP, Salvador-BA, Fortaleza-CE, Belo Horizonte-MG, Aracaju-SE e Campo Grande-MS.

Para o gerente de parcerias estratégicas e novos negócios do Butantan, Tiago Rocca, os resultados de segurança e manutenção de seis meses da imunogenicidade em adultos dos Estados Unidos trazem ainda mais segurança para os adolescentes brasileiros que participarão do estudo. “Os dados trazem uma confiança maior de que estamos no caminho certo e teremos uma vacina em breve”, afirma.

 
Combate à doença no Brasil e em países emergentes

Segundo Tiago, a missão do Butantan na parceria com a Valneva é fazer a transferência de tecnologia para a produção e distribuição nacional da vacina contra a chikungunya e distribuir o imunizante para países de baixa e média renda que também são afetados pela doença, como os da América Latina, Ásia e África.

“Como premissa de negócios, o Butantan tinha interesse de não só trazer a vacina para o Brasil, mas também ter a tecnologia produtiva e colaborar com o desenvolvimento do produto, assim como fizemos com a vacina da dengue e a própria CoronaVac. O Instituto tem uma perspectiva maior de atender grandes populações em países emergentes”, diz.
 

Sobre a chikungunya

A chikungunya é uma doença infecciosa causada pelo vírus de mesmo nome que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus (mesmos mosquitos que transmitem a dengue e a febre amarela, respectivamente). Os sintomas incluem febre acima de 38,5°C, de início repentino, e dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dor de cabeça, nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos são assintomáticos.

A circulação do vírus foi identificada no Brasil pela primeira vez em 2014 e ele já está presente em mais de 120 países. Como a transmissão ocorre por mosquitos, é fundamental reforçar as medidas de eliminação dos criadouros de mosquitos nas residências. As recomendações são as mesmas aplicadas à prevenção da dengue.



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Butantan inicia a terceira etapa de testes humanos da vacina contra a dengue


Os primeiros 1,2 mil voluntários serão selecionados em São Paulo. No total, 17 mil pessoas participam dos testes realizados por institutos de cinco regiões do país


Começou por São Paulo a terceira etapa dos testes humanos da primeira vacina brasileira contra a dengue, produzida pelo Instituto Butantan, unidade da Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês).

Nesta etapa iniciada no dia 17 de agosto na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo participam 1,2 mil voluntários. No total, o estudo envolverá 17 mil pessoas, de 18 a 59 anos de idade, em 13 cidades de cinco regiões do Brasil.

Na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, os ensaios clínicos serão conduzidos pelo professor José Cassio Moraes. Os voluntários serão selecionados por meio do programa Estratégia de Saúde da Família, desenvolvido pelo centro de Saúde da Escola da Santa Casa de Misericórdia, criado em 1967.

Essa é a terceira e última etapa de testes antes de a vacina ser submetida à aprovação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O objetivo é comprovar a eficácia da vacina. Caso aprovada, ela passa a ser produzida em larga escala pelo Instituto Butantan e será utilizada em campanhas de imunização em massa na rede pública de saúde em todo o Brasil.

Nas etapas anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, realizada nos Estados Unidos, pelos NIH, e 300 na segunda etapa, realizada em São Paulo, em parceria com a Faculdade de Medicina da USP, através do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança, com o Instituto Adolf Lutz.

Os testes já estão em andamento em Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO), na região Norte, em mais dois centros no Estado de São Paulo (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), em um centro de pesquisa de Fortaleza (CE) e outro em Porto Alegre (RS). Ao todo são 14 centros de pesquisa credenciados pelo Butantan para a realização dos estudos.

Os testes envolvem 17 mil voluntários. São convidadas a participar pessoas saudáveis que já tiveram ou não dengue em algum momento da vida e que se enquadrem em três faixas etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59 anos.  Os participantes do estudo são acompanhados pela equipe médica por um período de cinco anos para verificar a duração da proteção oferecida pela vacina.

A vacina desenvolvida pelo Butantan, em parceria com o NIH, é produzida com vírus vivos, mas geneticamente atenuados, isto é, enfraquecidos, incapazes de provocar a doença. 

Do total de voluntários, 2/3 receberão a vacina e 1/3 receberá placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem efeito. Tanto a equipe médica quanto os participantes não saberão quem vai receber a vacina ou o placebo. Só posteriormente, a partir de exames coletados dos voluntários é que será possível saber se quem recebeu a vacina ficou protegido ou quem tomou o placebo contraiu a doença.

Os dados disponíveis até agora das duas primeiras fases indicam que a vacina é segura, que induz o organismo a produzir anticorpos de maneira equilibrada contra os quatro vírus da dengue e que é potencialmente eficaz.