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segunda-feira, 7 de junho de 2021

DOENÇA DE CHAGAS

 

O QUE É DOENÇA DE CHAGAS?

A tripanossomíase americana, posteriormente denominada doença de Chagas em homenagem ao seu descobridor o pesquisador brasileiro Carlos Chagas, é uma importante doença parasitária resultante da infecção pelo protozoário parasito hemoflagelado Trypanosoma cruzi, tendo insetos triatomíneos como vetores. A Triatoma brasiliensis (“barbeiro”) é considerada hoje o vetor mais importante da doença no país.  As principais formas de transmissão da doença de Chagas ainda são as vetoriais (seja via lesão resultante da picada, seja por mucosa ocular ou oral), contudo apresentam também importância epidemiológica a transmissão transfusional e congênita.


Trypanosoma cruzi

SINTOMAS

A Doença de Chagas pode apresentar sintomas distintos nas duas fases que se apresenta, que são a aguda e a crônica. 

Na fase aguda, os principais sintomas são:

•  febre prolongada (mais de 7 dias);

•  dor de cabeça;

•  fraqueza intensa;

•  inchaço no rosto e pernas.

No caso de picada do barbeiro, pode aparecer uma lesão semelhante a um furúnculo no local.

Após a fase aguda, caso a pessoa não receba tratamento oportuno, ela desenvolve a fase crônica da doença, inicialmente sem sintomas (forma indeterminada), podendo, com o passar dos anos, apresentar complicações como:

•  problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca;

•  problemas digestivos, como megacolon e megaesôfago.

Cerca de 70% dos portadores permanece de duas a três décadas na chamada forma assintomática ou indeterminada da doença.


TRANSMISSÃO

As principais formas de transmissão da doença de chagas são:

•  Vetorial: a transmissão acontece pelas fezes do "barbeiro" depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue. A picada provoca coceira, facilitando a entrada do tripanossomo no organismo, o que também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele. 


Triatoma brasiliensis ("barbeiro")

•  Oral: ingestão de alimentos contaminados com parasitos provenientes de triatomíneos infectados.

•  Vertical: ocorre pela passagem de parasitos de mulheres infectadas por T. cruzi para seus bebês durante a gravidez ou o parto.

•  Transfusão de sangue ou transplante de órgãos de doadores infectados a receptores sadios.

•  Acidental: pelo contato da pele ferida ou de mucosas com material contaminado durante manipulação em laboratório ou na manipulação de caça.

O período de incubação da Doença de Chagas, ou seja, o tempo que os sintomas começam a aparecer a partir da infecção, é dividido da seguinte forma:

•  Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias.

•  Transmissão transfusional/transplante – de 30 a 40 dias ou mais.

•  Transmissão oral – de 3 a 22 dias.

•  Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias.


DIAGNÓSTICO

Na fase aguda da doença de Chagas, o diagnóstico se baseia na presença de febre prolongada (mais de 7 dias) e outros sinais e sintomas sugestivos da doença, como fraqueza intensa e inchaço no rosto e pernas, e na presença de fatores epidemiológicos compatíveis, como a ocorrência de surtos (identificação entre familiares/contatos).

Já na fase crônica, a suspeita diagnóstica é baseada nos achados clínicos e na história epidemiológica, porém ressalta-se que parte dos casos não apresenta sintomas, devendo ser considerados os seguintes contextos de risco e vulnerabilidade:

•  Ter residido, ou residir, em área com relato de presença de vetor transmissor (barbeiro) da doença de Chagas ou ainda com reservatórios animais (silvestres ou domésticos) com registro de infecção por T. cruzi;

•  Ter residido ou residir em habitação onde possa ter ocorrido o convívio com vetor transmissor (principalmente casas de estuque, taipa, sapê, pau-a-pique, madeira, entre outros modos de construção que permitam a colonização por triatomíneos);

•  Residir ou ser procedente de área com registro de transmissão ativa de T. cruzi ou com histórico epidemiológico sugestivo da ocorrência da transmissão da doença no passado;

•  Ter realizado transfusão de sangue ou hemocomponentes antes de 1992;

•  Ter familiares ou pessoas do convívio habitual ou rede social que tenham diagnóstico de doença de Chagas, em especial ser filho (a) de mãe com infecção comprovada por T. cruzi.


TRATAMENTO

O tratamento da doença de chagas deve ser indicado por um médico, após a confirmação da doença. O remédio, chamado benznidazol, deve ser utilizado em pessoas que tenham a doença aguda assim que ela for identificada. 

Para as pessoas na fase crônica, a indicação desse medicamento depende da forma clínica e deve ser avaliada caso a caso.

Em casos de intolerância ou que não respondam ao tratamento com benznidazol, o Ministério da Saúde disponibiliza o nifurtimox como alternativa de tratamento, conforme indicações estabelecidas em Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas.

Independente da indicação do tratamento com benznidazol ou nifurtimox, as pessoas na forma cardíaca e/ou digestiva devem ser acompanhadas e receberem o tratamento adequado para as complicações existentes.


PREVENÇÃO

A prevenção da doença de Chagas está intimamente relacionada à forma de transmissão.

Uma das formas de controle é evitar que o inseto “barbeiro” forme colônias dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas residuais por equipe técnica habilitada.

Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, podem-se usar mosquiteiros ou telas metálicas.

Recomenda-se usar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc.) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata.

Quando o morador encontrar triatomíneos no domicílio:

•  Não esmagar, apertar, bater ou danificar o inseto;

•  Proteger a mão com luva ou saco plástico;

•  Os insetos deverão ser acondicionados em recipientes plásticos, com tampa de rosca para evitar a fuga, preferencialmente vivos;

•  Amostras coletadas em diferentes ambientes (quarto, sala, cozinha, anexo ou silvestre) deverão ser acondicionadas, separadamente, em frascos rotulados, com as seguintes informações: data e nome do responsável pela coleta, local de captura e endereço.

Em relação à transmissão oral, as principais medidas de prevenção são:

•  Intensificar ações de vigilância sanitária e inspeção, em todas as etapas da cadeia de produção de alimentos suscetíveis à contaminação, com especial atenção ao local de manipulação de alimentos.

•  Instalar a fonte de iluminação distante dos equipamentos de processamento do alimento para evitar a contaminação acidental por vetores atraídos pela luz.

•  Realizar ações de capacitação para manipuladores de alimentos e de profissionais de informação, educação e comunicação.

•  Resfriamento ou congelamento de alimentos não previne a transmissão oral por T. cruzi, mas sim o cozimento acima de 45°C, a pasteurização e a liofilização.


Fonte:

Ministério da Saúde  

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/d/doenca-de-chagas

Fiocruz  

https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/doenca-de-chagas-sintomas-transmissao-e-prevencao

http://chagas.fiocruz.br/sessao/historia/


Fonte das imagens:  Fiocruz


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Doença de Chagas: uma nova realidade de enfrentamento





Por muito tempo, a possibilidade de receber uma picada do inseto conhecido como barbeiro e adquirir a Doença de Chagas preocupava a população brasileira. Durante as aulas de ciências, aprendíamos todo o ciclo da doença: o inseto barbeiro infectado picava a pele de uma pessoa e depositava suas fezes na região; ao coçar o local, as fezes contaminadas caiam na corrente sanguínea; e, assim, era transmitida a doença de chagas.

Mas essa realidade mudou. Ações realizadas no controle de vetores ajudaram o Brasil a receber, em 2006, a certificação internacional da interrupção da transmissão vetorial da doença pela principal espécie do inseto, o Triatoma infestans.

Atualmente, a doença é transmitida principalmente pelo contato do ser humano com o ciclo silvestre do inseto, como picadas que acontecem nas zonas de mata e a transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados, explica o coordenador-geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Renato Vieira Alves.

“A forma tradicional de transmissão, com o barbeiro colonizando e infestando residências, foi controlada no Brasil. Atualmente, os casos novos registrados acontecem principalmente na região norte do país. Mesmo nesses casos, a transmissão não costuma acontecer nos domicílios, mas na mata. Nessa nova realidade, a transmissão da doença de chagas acontece principalmente pela alimentação, quando em algum momento da produção do alimento existe a contaminação do alimento pelo conteúdo do estômago do inseto”, esclarece Alves.

Entre 2008 a 2017, a maioria dos estados brasileiros registraram casos confirmados de doença de chagas. Entretanto, a maior distribuição, cerca de 95%, concentra-se na região Norte. Destes, o estado do Pará é responsável por 83% dos casos


Consumo de alimentos é a principal forma de transmissão


Em relação às principais formas prováveis de transmissão ocorridas atualmente no país, 72% foram por transmissão oral, 9% por transmissão vetorial e 18% não identificada. “A contaminação alimentar acontece principalmente por caldo de cana, açaí e outros alimentos que são consumidos in natura, sem processo de cozimento”, destaca o coordenador.

De acordo com Alves, os cuidados que devem ser tomados com a doença de Chagas são praticamente os mesmos para qualquer doença transmitida por alimentos. “Por exemplo, ao consumir alimentos desse tipo, procurar por lugares com boa condição de higiene e inspecionados pela vigilância sanitária. Preparando em casa, é importante ter todos os cuidados de higienizar, lavar bem e também, possivelmente, escaldar os frutos antes do consumo. Qualquer tratamento térmico com cozimento acima de 45ºC elimina o perigo de transmissão da doença”, orienta. Por outro lado, o resfriamento ou congelamento de alimentos não previne a transmissão oral da infecção.

Quanto à transmissão vetorial, a recomendação do Ministério da Saúde é adotar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc.) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata ou barreiras físicas nas casas, com telas nas janelas e portas, para evitar a invasão eventual dos vetores.

O que é a Doença de Chagas?


A doença de Chagas (tripanossomíase americana) é uma condição infecciosa aguda e crônica causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, parasita encontrado em fezes de insetos. Estima-se que existam aproximadamente 12 milhões de portadores da doença crônica nas Américas, e que haja no Brasil, atualmente, pelo menos um milhão de pessoas infectadas. A transmissão da doença de Chagas pode ocorrer de diferentes formas:
  • Contato com fezes/e ou urina de triatomíneos (insetos popularmente conhecidos como barbeiro), por via direta (vetorial); 
  • Ingestão de alimentos contaminados com parasitos; 
  • Via materno-fetal; 
  • Transfusão de sangue ou transplante de órgãos; 
  • Acidentes laboratoriais, pelo contato da pele ferida ou de mucosas com material contaminado.

O período de incubação da Doença de Chagas, ou seja, o tempo que os sintomas começam a aparecer a partir da infecção, é dividido da seguinte forma:
  • Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias.
  • Transmissão transfusional/transplante – de 30 a 40 dias ou mais.
  • Transmissão oral – de 3 a 22 dias.
  • Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias.

A Doença de Chagas pode apresentar sintomas distintos nas duas fases que se apresenta, que são a aguda, na fase inicial e a crônica, quando os sintomas inicias desaparecem sem tratamento e retornam posteriormente. A fase aguda, que é a mais leve, a pessoa pode apresentar sinais moderados ou até mesmo não sentir nada.

Na fase aguda, os principais sintomas são:
  • febre prolongada (mais de 7 dias);
  • dor de cabeça;
  • fraqueza intensa;
  • inchaço no rosto e pernas.

Na fase crônica, a maioria dos casos não apresenta sintomas, porém de 30 a 40% das pessoas podem apresentar, depois de vários anos sem nenhum sinal clínico, formas sintomáticas e potencialmente graves:
  • problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca;
  • problemas digestivos, como megacolon e megaesôfago.

A Doença de Chagas tem cura e quanto antes for realizado o tratamento melhor. Todo caso diagnosticado deve ter acompanhamento médico e, quando indicado, deve ser tratado com medicação específica, disponível, gratuitamente, no SUS.






quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Identificado mais um barbeiro que pode transmitir doença de Chagas


Barbeiros da espécie “Rhodnius montenegrensis” infectados com “Trypanosoma cruzi” foram encontrados em Monte Negro, Rondônia


A descoberta é importante porque trata-se de uma nova espécie onde o T. cruzi foi encontrado e
ela apresenta potencial para transmissão da doença – Foto: Adriana Benatti Bilheiro


Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP identificaram, pela primeira vez, o protozoário causador da doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) em barbeiros da espécie Rhodnius montenegrensis, coletados na cidade de Monte Negro, em Rondônia. Os cientistas também encontraram barbeiros infectados com o Trypanosoma rangeli, que não causa a doença, mas que pode confundir o diagnóstico.

A descoberta gerou o artigo First Report of Natural Infection with Trypanosoma cruzi in Rhodnius montenegrensis (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) in Western Amazon, Brazil, publicado em julho na revista Vector-Borne and Zoonotic Diseases.

Estudos com a população moradora dos locais próximos onde os barbeiros foram encontrados indicam inexistência de transmissão da doença. Entretanto, apenas a presença do inseto perto dos domicílios já serve de alerta, pois representa um risco para a população. Segundo revisão sistemática publicada em 2014, estima-se que o número de casos de doença de Chagas no Brasil, atualmente, gire em torno de 4,6 milhões de pessoas.

O estudo foi realizado pela pesquisadora Adriana Benatti Bilheiro, da Universidade Federal de São João del-Rey, sob a orientação do professor Luís Marcelo Aranha Camargo, coordenador do ICB5, núcleo avançado da USP na cidade de Monte Negro que realiza pesquisas científicas e atividades de ensino, além de projetos da área da saúde com a comunidade local e da região.


Em Monte Negro, Rondônia, os barbeiros foram encontrados vivendo dentro de 
palmeiras, principalmente babaçu e bacuri, onde encontram abrigo, e se alimentam 
de sangue de ratos, aves, gambás e outros marsupiais – Foto: Adriana Benatti Bilheiro

A espécie Rhodnius montenegrensis foi descrita em 2012 pelo pesquisador João Aristeu da Rosa, docente do campus de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a partir de uma pesquisa de campo de coleta de barbeiros coordenada por Aranha Camargo.
“Essa descoberta é bem importante porque é uma espécie nova onde encontramos o T. cruzi e ela apresenta potencial para transmissão. Só acreditamos que ainda não está havendo porque o ambiente da casa amazônica é inóspito para o barbeiro”, explica o coordenador do ICB5.


Estratégia pode resultar em tratamento mais eficiente para Chagas


Segundo Aranha Camargo, o perfil de infecção pelo T. cruzi mudou ao longo dos anos. Antes, os Estados do Nordeste, além de São Paulo e Minas Gerais, concentravam os casos de Chagas no Brasil, com transmissão da doença através da urina e fezes do barbeiro, que abriga os parasitas e que, por sua vez, penetram pela pele no local da picada. As casas de pau a pique (barro), muito comum nesses locais, eram o hábitat perfeito para o barbeiro: temperatura adequada e espaços nas paredes onde podiam se esconder e se reproduzir, saindo à noite para se alimentar de sangue humano.

“Nos últimos dez anos, a ocorrência de casos de doença de Chagas desviou do eixo Sudeste-Nordeste para a região Norte, onde temos entre 30% a 40% dos casos brasileiros, totalizando mil casos novos notificados somente na região nos últimos dez anos”, informa Aranha Camargo. Em Monte Negro, a maioria das casas é de tábua com cobertura de telhas de amianto, o que deixa o local muito quente e sem “esconderijos” para o barbeiro.


Contaminação alimentar

Atualmente a transmissão é muito menos por via vetorial, ou seja, pelas fezes e urina do barbeiro no local da picada, e muito mais por contaminação de alimentos. O barbeiro é atraído pela luz da casa e pode cair dentro do alimento e ser triturado ou esmagado. Nesse tipo de contaminação, a doença se manifesta de uma forma mais severa, mais virulenta, por causa da forma de apresentação do parasita para o sistema imune humano. “No Estado do Pará, devido ao hábito de consumo de açaí in natura, em que a polpa e as sementes precisam ser trituradas, a contaminação via oral é muito comum”, conta.


Descoberta molécula que age na inflamação cardíaca no mal de Chagas

Em Monte Negro, os barbeiros foram encontrados vivendo dentro de palmeiras, principalmente babaçu e bacuri, onde encontram abrigo, e se alimentam de sangue de ratos, aves, gambás e outros marsupiais. Futuramente, eles podem migrar para o peridomicílio humano e começar a se alimentar de cachorros, porcos e galinhas. No caso do babaçu, o desmatamento e as queimadas favorecem a sua proliferação.

Aranha Camargo conta que foram encontrados, em média, cerca de cinco barbeiros por palmeira. Quanto mais perto das casas, maior era a quantidade desses insetos. “Independentemente de se domiciliar ou não, ele ainda representa um risco de transmissão de T. cruzi pela via oral, pois pode contaminar os alimentos que estão sendo preparados”, alerta.


A doença de Chagas

A doença de Chagas tem duas fases. A aguda ocorre entre uma semana e 15 dias após a infecção e pode ser confundida com um doença febril, malária, dengue ou gripe. O local onde o parasita depositou as fezes e a urina fica inchado e avermelhado (chagoma). Nesta fase aguda, muitas pessoas podem morrer por meningoencefalite (um tipo de meningite) e miocardite (inflamação aguda do coração que pode causar parada cardíaca e arritmia cardíaca).

“Não se faz diagnóstico nesta fase”, lamenta Aranha Camargo. “Seria fácil fazer o diagnóstico assim como fazemos para a malária”, explica, lembrando que o ICB5, por ser uma unidade de pesquisa da USP, faz o diagnóstico para Chagas, porém o mesmo não ocorre rotineiramente no SUS.

Depois dessa primeira fase aguda, a doença entra em sua forma silenciosa. O parasita se reproduz nas células musculares cardíacas e do tubo digestivo. Ele se multiplica e forma outras “ninhadas” de tripanossomatídeos.

De modo geral, 30% dos infectados não apresentam sintomas e morrem com Chagas mas sem manifestação clínica da doença.

Outros 30%, aproximadamente, apresentam manifestações gastrointestinais. As mais clássicas são dificuldade de engolir, deglutir alimentos e eliminar fezes. Ao se desenvolver em células nervosas do tubo digestivo, o parasita as destrói, o que leva à perda da motilidade desse sistema (que empurra o bolo alimentar da boca ao ânus). O esôfago pode perder o movimento que empurra o alimento e muitas pessoas morrem de desnutrição. Outras têm a paralisação do sistema do tubo digestivo na parte terminal e não conseguem eliminar as fezes, ficando semanas sem evacuar. Nesses casos, pode ser necessário intervenção cirúrgica.


Na próxima fase, os pesquisadores pretendem ampliar o estudo e verificar
a ocorrência de barbeiros nos quatro biomas existentes em Rondônia
 – Foto: Adriana Benatti Bilheiro


Os outros cerca de 30% desenvolvem as formas cardíacas da doença. O parasita se multiplica no coração e vai destruindo as fibras do órgão, que deveria ser elástico, mas vai ficando fibrosado (cicatrizado) e perdendo a capacidade de contração. Dependendo do local onde o parasita se alojou, ele pode também interromper a condição de estímulos elétricos do sistema elétrico do órgão, dando origem a arritmias ou insuficiência cardíaca – ou ambas.

Em poucos casos, cerca de 10%, a doença se manifesta tanto na sua forma cardíaca como na digestiva.

O tratamento é feito com benzonidazol, distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com certa regularidade. O medicamento é capaz de curar a doença de Chagas, pois mata o parasita e interrompe sua multiplicação.

Quanto mais precoce o tratamento, maiores as chances de cura sem evolução de gravidade da doença. O diagnóstico não costuma ser rápido. Em Monte Negro, por exemplo, o setor público está treinado para realizar testes de detecção de malária, mas não para o Trypanosoma cruzi.

“Minha sugestão é o governo qualificar os mesmos microscopistas que fazem diagnóstico de malária para que sejam treinados para identificar o T. cruzi”, sugere o docente.


Análise dos biomas

Na próxima fase, os pesquisadores pretendem ampliar o estudo e verificar a ocorrência de barbeiros nos quatro biomas existentes em Rondônia: cerrado, área entrópica (pastos onde há muito babaçu), floresta amazônica e floresta fluvial (beira de rio).

Segundo os pesquisadores, “no Estado de Rondônia, não há registro de casos autóctones de Chagas nos últimos anos. Entretanto, há registro de seis espécies de triatomíneos (barbeiros), uma grande variedade de reservatórios silvestres do T. cruzi e intenso processo de desmatamento que pode, ao longo do tempo, induzir à invasão e colonização de triatomíneos em áreas domiciliares e peridomiciliares”.


Foram encontrados, em média, cerca de cinco barbeiros por palmeira.
Quanto mais perto das casas, maior era a quantidade de insetos encontrada
 – Foto: Adriana Benatti Bilheiro


O ICB5 é um departamento do Instituto de Ciências Biomédicas da USP criado em 1997, na cidade de Monte Negro, em Rondônia. A princípio, o objetivo era pesquisar doenças tropicais negligenciadas como malária, Chagas, leishmaniose, verminoses e micoses profundas. Atualmente dedica-se também ao estudo e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como hipertensão, diabete e dislipidemias (gordura no sangue). Além de desenvolver estudos nessas áreas e realizar atendimento em saúde para a população de Monte Negro e região, o ICB5 oferece um cenário de internato e um programa de estágios.



Fonte:  ICB/USP