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quinta-feira, 11 de março de 2021

Arboviroses Emergentes: ZIKA

 

O que é Zika?

A zika é uma arbovirose (doença causadas por arbovírus, isto é, vírus que tem parte de seu ciclo de replicação nos artrópodes) também conhecida como infecção por zika vírus. Esse vírus é transmitido para seres humanos por meio da picada do mosquito Aedes aegypti e do Aedes albopictus. Ele é chamado assim porque os primeiros sinais da doença foram encontrados na Floresta Zika, localizada em Uganda (1947).



Em 2015 houve a identificação do vírus ZIKV no Brasil (suspeita-se que a introdução tenha ocorrido em 2013), que passou por uma epidemia de casos de zika, com milhares de pessoas diagnosticadas com a doença. Muitas mulheres grávidas sofreram e tiveram bebês que foram diagnosticados com microcefalia, uma condição médica em que o crânio do bebê é menor do que o normal para a sua idade, causando diversos atrasos em seu desenvolvimento mental e intelectual, por exemplo. 

Antes de se expandir para uma epidemia humana plenamente estabelecida, atingindo as manchetes de jornais como uma ameaça global, o zika vírus esteve presente por muito tempo na África e, em algum momento, chegou à Ásia. Na África, o zika vírus pode ter circulado principalmente entre os animais e só ocasionalmente pulou para os humanos. Tal vírus era caracterizado como um patógeno leve e essencialmente inofensivo; essa é a principal diferença entre ele e outros vírus emergentes percebidos como ameaças globais. O zika era considerado menos perigoso que os demais pertencentes ao mesmo grupo, os flavivírus; não se suspeitava de que ele seria capaz de prejudicar seriamente os fetos.  

A doença pelo vírus Zika apresenta risco superior a outras arboviroses, como dengue, febre amarela e chikungunya, para o desenvolvimento de complicações neurológicas, como encefalites, Síndrome de Guillain Barré e outras doenças neurológicas. Uma das principais complicações é a microcefalia. 


Transmissão

Existem três formas principais de transmissão do Zika Vírus:

•  Transmissão pela picada do mosquito Aedes Aegypti.

•  Transmissão sexual.

•  Transmissão de mãe para o feto durante a gravidez 



No caso do feto ser infectado durante a gestação, este pode desenvolver lesões cerebrais irreversíveis e ter comprometida, definitivamente, toda a sua estrutura em formação. As doenças neurológicas, especialmente nas crianças com a doença congênita (infectados no útero materno), têm sequelas de intensidade variável, conforme cada caso.

O comprometimento nesses casos é tão importante que algumas crianças, ao nascerem, têm microcefalia, uma deformação dos ossos do cabeça, sinal do não crescimento adequado do encéfalo (cérebro). 

Não há evidências de transmissão do vírus Zika por meio do leite materno, assim como por urina e saliva.


Sintomas

Cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus zika não desenvolvem manifestações clínicas. Entre os principais sintomas, podemos destacar:

•  dor de cabeça; 

•  febre baixa; 

•  dores leves nas articulações; 

•  manchas vermelhas na pele; 

•  coceira; 

•  vermelhidão nos olhos;

•  inchaço no corpo;

•  dor de garganta;

•  tosse; 

•  vômitos.

No geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. No entanto, a dor nas articulações pode persistir por aproximadamente um mês. Formas graves e atípicas são raras, mas quando ocorrem podem, excepcionalmente, evoluir para óbito, como identificado no mês de novembro de 2015, pela primeira vez na história.

 


Diagnóstico

O diagnóstico do Zika Vírus é clínico e feito por um médico. O resultado é confirmado por meio de exames laboratoriais de sorologia e de biologia molecular ou com o teste rápido, usado para triagem. A sorologia é feita pela técnica MAC ELISA, por PCR e teste rápido. Todos os exames estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

Os recém-nascidos com suspeita de comprometimento neurológico necessitam de exames de imagem, como ultrassom, tomografias ou ressonância magnética.


Tratamento

No geral, a infecção por zika vírus tem uma evolução benigna e, em poucos dias, a pessoa se encontra livre dessa condição médica. Não existe uma cura direta para o vírus, mas os sintomas da doença podem ser tratados com o uso de medicamentos, sendo que alguns remédios de uso comum devem ser evitados ao máximo, já que aumentam as chances de hemorragia do paciente. 

Idosos e grávidas devem ter um acompanhamento médico constante, por conta das complicações dessa condição médica.

A febre por zika vírus costuma durar sete dias.


Prevenção

As medidas de prevenção e controle são semelhantes aos da dengue e chikungunya. A melhor forma de prevenção, e a mais eficaz de todas elas, é evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, eliminando água armazenada que podem se tornar possíveis criadouros, como em vasos de plantas, latões de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas e pratos de plantas.

Atualmente não há vacina disponível contra o Vírus Zika. Por isso, é essencial que a população faça a sua parte. Se cada um agir corretamente e tomar todos os cuidados possíveis diários para evitar criadouros do mosquito Aedes aegypti, é possível evitar o Zika Vírus, a microcefalia, a febre amarela, a dengue e a chikungunya.  

Cuidados - gestantes

•  Busque uma Unidade Básica de Saúde para iniciar o pré-natal assim que descobrir a gravidez e compareça às consultas regularmente.

•  Vá às consultas às consultas uma vez por mês até a 28ª semana de gravidez; a cada quinze dias entre a 28ª e a 36ª semana; e semanalmente do início da 36ª semana até o nascimento do bebê.

•  Tome todas as vacinas indicadas para gestantes.

•  Em caso de febre ou dor, procure um serviço de saúde. Não tome qualquer medicamento por conta própria.


Fontes: Ministério da Saúde

Fiocruz

Rede D’Or São Luiz

Zika no Brasil: história recente de uma epidemia /  Ilana Löwy – Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2019.

Imagens:  freepik.com


terça-feira, 21 de julho de 2020

Droga experimental diminui a replicação do zika e previne microcefalia em camundongos


Composto inibe a ação de uma proteína que é ativada pelo vírus para suprimir a resposta imune
do hospedeiro. Terapia também se mostrou eficaz contra o vírus da dengue e será testada no
Instituto de Ciências Biomédicas da USP contra o novo coronavírus (micrografia eletrônica
de transmissão colorida do vírus zika; imagem: Cynthia Goldsmith/CDC)


Um grupo internacional de pesquisadores descobriu que a inibição de uma proteína chamada AhR (receptor para aril hidrocarboneto) permite ao sistema imune combater com muito mais eficácia a replicação do vírus zika no organismo. Em experimentos feitos no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), a terapia antiviral se mostrou capaz de prevenir o desenvolvimento de microcefalia e outras malformações em fetos de camundongos cujas mães foram infectadas durante a gestação.

Os resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foram divulgados hoje na revista Nature Neuroscience.

“Usamos nos testes uma droga experimental capaz de inibir a AhR e observamos diminuição na replicação tanto do zika como do vírus da dengue. Agora pretendemos testar o efeito da terapia contra o novo coronavírus”, conta o professor do ICB-USP Jean Pierre Peron, que coordenou a investigação ao lado dos pesquisadores Cybele Garcia (Universidad de Buenos Aires, Argentina) e Francisco Quintana (Harvard Medical School, Estados Unidos).

O modelo experimental usado no trabalho foi o mesmo que permitiu ao grupo de Peron comprovar, em 2016, a relação causal entre o zika e a microcefalia (leia mais em agencia.fapesp.br/23185/). Naquela ocasião, fêmeas de camundongo da linhagem SJL – bem mais suscetível à infecção do que outras normalmente usadas em laboratório – foram infectadas com o vírus entre o 10º e o 12º dia de gestação. Quando os filhotes nasceram, os pesquisadores notaram uma redução significativa na espessura do córtex cerebral, além de alterações na quantidade e na morfologia das células neuronais. Observaram ainda que o vírus estava se replicando na placenta e no cérebro dos roedores recém-nascidos em quantidades muito maiores do que em outros órgãos.

“Repetimos agora esse experimento, mas com uma diferença. Pouco antes de infectar as fêmeas prenhas com o zika nós começamos a administrar o inibidor de AhR. O tratamento foi feito por via oral até o fim da gestação. Ao nascerem, os filhotes apresentaram cérebros com tamanho e peso normais e uma carga viral muito mais baixa que a do grupo não tratado, quase indetectável, tanto na placenta como no sistema nervoso central. Além disso, análises histopatológicas mostraram que não houve redução na espessura do córtex e que o número de células nervosas mortas pelo vírus foi muito menor”, relata Peron.

Segundo o pesquisador, os camundongos tratados com o inibidor de AhR não apresentaram efeitos adversos. Antes de se pensar em testes com humanos, porém, ele considera necessário replicar o experimento em macacos.

A pesquisa levou quatro anos para ser concluída e contou com a participação das doutorandas do ICB-USP Nagela Zanluqui e Carolina Polonio, ambas bolsistas da FAPESP.

O início
O laboratório coordenado por Quintana em Harvard é um dos principais centros mundiais de estudo da proteína AhR. Em entrevista à Agência FAPESP, o professor de neurologia conta que seu grupo descobriu há alguns anos que proteínas do tipo interferon, secretadas por células do sistema imune, controlam a ativação desse receptor celular.

“Como os interferons são moléculas centrais na resposta imune antiviral, postulamos – em conjunto com o grupo de Garcia – que a AhR poderia estar envolvida na supressão da imunidade contra vírus. Projetamos terapias anti-AhR e geramos nanopartículas e inibidores para uso nos experimentos”, diz.

Testes feitos in vitro e in vivo confirmaram que o vírus ativa a proteína AhR para suprimir a resposta imune do hospedeiro. Tal feito possivelmente ocorre quando o patógeno infecta o fígado e induz a liberação do metabólito quinurenina, um subproduto do aminoácido triptofano.

“Esse metabólito ativa a AhR que, por sua vez, inibe a expressão de uma outra proteína chamada PML [proteína leucemia promielocítica, muito importante para a resposta imune antiviral], permitindo que o zika se replique mais livremente nas células”, explica Peron.

Na Universidad de Buenos Aires, Garcia coordenou experimentos em diversos tipos de linhagens celulares, entre elas hepatócitos e progenitoras neurais – um tipo de célula-tronco que pode se diferenciar em neurônios.

“Tratamos as linhagens celulares com compostos agonistas de AhR [que amplificam a ação da proteína] e também com antagonistas [que inibem]. Confirmamos assim que a modulação negativa desse receptor inibe a replicação do zika. Do mesmo modo, comprovamos que a modulação positiva aumenta a replicação viral nas células”, conta.

Fatores ambientais
Como ressalta a virologista da Universidad de Buenos Aires, o impacto causado pela epidemia de zika em 2015 foi bastante assimétrico. Em determinadas regiões e cidades, a incidência de síndrome congênita e microcefalia causada pelo vírus foi muito maior do que em outras. Na avaliação da pesquisadora, isso pode indicar que nesses locais afetados com mais gravidade existia uma condição ambiental que favorecia a infecção ou então que aquelas populações eram mais suscetíveis. Os dois fatores também podem ter contribuído simultaneamente para aumentar o impacto do vírus.

“Coincidentemente, a AhR pode ser ativada por poluentes ambientais, bem como por uma certa dieta ou pela microbiota endógena. Nosso próximo desafio é descartar ou confirmar se existe uma relação entre a AhR, ambientes poluídos ou degradados socioeconomicamente e uma maior virulência do zika”, conta Garcia à Agência FAPESP.

O artigo AhR is a Zika virus host factor and a candidate target for antiviral therapy pode ser lido em www.nature.com/articles/s41593-020-0664-0.

21 de julho de 2020 - Karina Toledo | Agência FAPESP 

Fonte:  Agência FAPESP 

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Estudo identifica circulação de nova linhagem da zika no Brasil

A fêmea do Aedes aegypti é vetor de transmissão
da tríplice epidemia (dengue, chikungunya e zika)

Mesmo em meio a uma pandemia que tem afetado o cotidiano de todos, a população brasileira ainda convive com as consequências da última emergência nacional de saúde pública: a da zika, que desde 2015 levou ao nascimento de 3.534 bebês com Síndrome Congênita da Zika (SCZ). Uma nova linhagem do vírus da zika foi descoberta circulando recentemente no Brasil por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia e a possibilidade de reemergência da epidemia de arbovirose ganhou mais força. O achado foi publicado no início de junho no periódico International Journal of Infectious Diseases e serve como alerta para a vigilância da doença. A ferramenta desenvolvida pelos pesquisadores pode ser acessada aqui. E o estudo está aqui.

De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, das principais arboviroses que circulam no Brasil, a zika tem sido a com menor número de casos em 2020: foram notificados 3.692 casos prováveis (taxa de incidência 1,8 casos por 100 mil habitantes), em detrimento de 47.105 casos prováveis de chikungunya (taxa de incidência de 22,4 casos por 100 mil habitantes) e 823.738 casos prováveis (taxa de incidência de 392,0 casos por 100 mil habitantes) de dengue. Mas essa situação pode mudar caso uma nova linhagem genética comece circular na população.

Ferramenta
A introdução de uma nova linhagem no país foi identificada por uma ferramenta de monitoramento genético desenvolvida por pesquisadores vinculados ao Cidacs e ao Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia); Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC); Universidade Salvador (Unifacs) e a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). O pesquisador da Plataforma de Bioinformática do Cidacs, Artur Queiroz, um dos líderes do estudo, explica que a ferramenta desenvolvida pelo grupo analisa sequências disponíveis em banco de dados públicos e permite identificar as linhagens de Zika presentes em bases de dados do National Center for Biotechnology Information (NCBI – Centro Nacional de Informação Biotecnológica, em tradução livre).

“Pegamos esses dados e analisamos, selecionamos as sequências do brasil e mostramos a frequência desses tipos virais ano a ano. O principal achado é que vemos uma variação de subtipos e linhagens durante os anos, sendo que em 2019 há o aparecimento, mesmo que pequeno, de uma linhagem que até então não era descrita circulando no país”, explica.

Identificação
São conhecidas duas linhagens do vírus zika: a asiática e a africana (sendo que essa é subdividida em oriental e ocidental). A ferramenta analisou 248 sequências brasileiras submetidas a base de dados desde 2015. Até 2018, os dados genéticos encontrados eram majoritariamente cambojanos (mais de 90%), proporção que mudou radicalmente em 2019, quando o subtipo oriundo da micronésia passou a ser responsável por 89,2% das sequências submetidas ao banco genético.

Mas o que surpreendeu os pesquisadores foi a identificação da emergência do tipo africano, até então inexistente no Brasil. “A linhagem africana foi isolada em duas regiões diferentes do Brasil: no Sul, vindo do Rio Grande do Sul, e no Sudeste, do Rio de Janeiro”, informa o estudo.

A distância geográfica e a diferença de hospedeiros (uma foi encontrada em um mosquito “primo” do Aedes aegypt, o Aedes albopictus, e outro em uma espécie de macaco) sugerem que essa linhagem já está circulando no país há algum tempo e pode ter potencial epidêmico, uma vez que a maior parte da população não tem anticorpos para essa nova linhagem do vírus. Para Queiroz, o achado demonstra a utilidade da ferramenta como “um bom mecanismo de vigilância e alerta para a possibilidade de uma nova epidemia do vírus zika”.

“Atualmente, com as atenções voltadas para a Covid-19, este estudo serve de alerta para não esquecermos outras doenças, em especial zika. A circulação do vírus no país, bem como a realização de estudos genéticos devem continuar sendo realizados a fim de evitar um novo surto da doença com o novo genótipo circulante”, reforça Larissa Catharina Costa, uma das autoras do estudo.

Por Raiza Tourinho (Fiocruz Bahia)

Fonte:  Fiocruz

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

CCZ realiza palestra sobre arboviroses e zoonoses para voluntários da Defesa Civil





Neste sábado (17/08) o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) – através do setor de Informação, Educação e Comunicação em Saúde (IEC) – realizou a palestra “Arboviroses e Zoonoses” no auditório da Defesa Civil de Niterói, região central da cidade.

O objetivo da ação educativa em saúde foi treinar voluntários dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudecs) para que possam atuar na disseminação de informações nas comunidades, somando esforços na luta para prevenção e controle das arboviroses e zoonoses no município.

Ministrada pelo agente Elcio Luis Menezes do Nascimento, a atividade consistiu em explanação temática, apresentação de slides e vídeos, e distribuição de folders informativos.  Em pauta, conceito, agente etiológico, transmissão, sintomas e prevenção das doenças:  Dengue, Zika, Febre de Chikungunya, Febre Amarela e Febre do Mayaro (arboviroses); Leptospirose, Criptococose, Esporotricose e Raiva (zoonoses).

Segundo o palestrante, a participação do público foi consideravelmente satisfatória. Houve ótima interação, muitas perguntas e colocações sobre todo o conteúdo programático.  Devido ao interesse dos participantes, o horário se estendeu além do previsto.  A atividade foi bem positiva e superou as expectativas.




terça-feira, 16 de julho de 2019

Estudo mostra que a infecção pelo vírus zika pode causar disfunção da bexiga



Já não há dúvidas, a Bexiga Neurogênica (BN) está entre as complicações relacionadas à Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV), de acordo com os novos resultados da pesquisa realizada no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Uma recente publicação se soma ao estudo publicado em março de 2018, que apresentou à comunidade científica internacional a BN como uma sequela da SCZV. 

Estes novos resultados, que focam no aspecto urodinâmico do problema, foram decorrência da continuidade e aprofundamento da pesquisa iniciada em 2016 pelo Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica do IFF/Fiocruz. No artigo, intitulado Neurogenic bladder in the settings of congenital Zika syndrome: a confirmed and unknown condition for urologists, os autores chamam a atenção de especialistas sobre a importância de investigar esta nova causa de Bexiga Neurogênica, para prevenir a lesão renal. 

O artigo sobre esse novo estudo foi divulgado no veículo científico internacional Jornal of Pediatric Urology, e, para conhecer mais sobre a sua importância, a seguir a médica Lucia Monteiro esclarece os detalhes da pesquisa: 

O que é a Bexiga Neurogênica?
LM: É uma disfunção da bexiga causada por dano neurológico, que é diagnosticada através do estudo urodinâmico. Os sintomas mais comuns são a infecção urinária e a incontinência ou a retenção urinária, que nem sempre são percebidos em crianças pequenas. Mas o risco de complicações graves é alto (infecções recorrentes, entre outros, que podem inclusive chegar ao comprometimento dos rins). Por isso é importante estar atento porque o diagnóstico precoce e o início oportuno do tratamento podem mitigar o impacto da doença e promover, a longo prazo, a saúde do paciente. 

Como surgiu a pesquisa que relacionou a condição de BN com a Síndrome Congênita do Zika Vírus?
LM: Nós fomos os primeiros no mundo a descobrir que esses pacientes tinham bexiga neurogênica e isso só foi possível porque no IFF/Fiocruz já havia uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Maria Elizabeth Lopes Moreira, que vinha investigando os pacientes com SCZV quando a síndrome era uma coisa nova. Quando nossa equipe, do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica viu as alterações neurológicas encontradas nas ressonâncias magnéticas realizadas para o controle da microcefalia destes pacientes, observamos que as áreas que controlam o sistema urinário inferior também estavam afetadas. E suspeitamos que esses pacientes poderiam desenvolver BN. Escrevemos o projeto para investigar as sequelas urológicas, e após aprovação pelo CEP/IFF, submetemos ao Edital N° 14/2016 do MCTIC/FNDCT-CNPq/MEC-CAPES/MS-Decit. Fomos selecionados e passamos a integrar as coortes nacionais para a prevenção e combate ao vírus zika. Na primeira fase da pesquisa, avaliamos 20 pacientes e todos (100%) tinham BN de alto risco. Temos uma vasta experiência, de mais de 25 anos tratando pacientes com esta disfunção miccional, e isso nos ajudou a concluir que todos os pacientes com SCZV poderiam estar afetados, e precisavam ser investigados.

Por que uma segunda pesquisa?
LM: Na verdade não é uma segunda pesquisa, e sim uma segunda publicação resultante da continuidade e aprofundamento da pesquisa iniciada em 2016. Embora a primeira publicação tenha sido muito importante por ser a primeira a confirmar BN como sequela da SCZV, a população de estudo ainda era pequena. O Brasil já tinha mais de três mil pacientes afetados, a maioria na região Nordeste, que precisavam também ser beneficiados. Nesta segunda publicação, triplicamos o número de pacientes investigados e continuamos encontrando bexiga neurogênica em todos (100%). Também aprofundamos as questões relacionadas às situações de risco para o sistema urinário e escrevemos o artigo buscando alertar os especialistas que continuava desconhecendo o problema.

Qual é a importância destes segundos resultados?
LM: Esses novos resultados acabaram de vez com as dúvidas e confirmaram que a bexiga neurogênica é realmente uma sequela da síndrome. Tanto que atualmente não consideramos mais a indicação da avaliação urodinâmica nestes pacientes como parte da pesquisa, mas sim como uma obrigação clínica, já que nossa experiência mostra que esse é um problema que tem tratamento, e que o diagnóstico e a intervenção precoce podem reduzir em até três vezes o risco destes pacientes desenvolverem lesão renal. Anteriormente, como não existia comprovação científica da relação entre a condição de BN e a SCZV, o estudo urodinâmico não fazia parte do protocolo de atendimento nessas crianças. 

Para um paciente sem tratamento, qual é o maior risco de ter uma infecção urinária? 
LM: É lesar o rim. Cada episodio de infecção urinária grave tem potencial para gerar uma cicatriz no rim, que ficará para sempre. Um rim continuamente agredido por infecções pode evoluir para insuficiência renal, e todos nós conhecemos os problemas sofridos por pacientes que necessitam de hemodiálise e transplante. Além disso, a BN pode gerar graves problemas sociais, relacionados à incontinência urinaria crônica e as visitas recorrentes ao hospital e internações para o tratamento de infecção urinaria, entre outros. E isso tudo pode ser evitado com realização do exame para comprovar o diagnostico e iniciar o tratamento.

Qual é a importância do exame urodinâmico em pacientes com SCZV?
LM: A urodinâmica é o único exame que diagnostica com certeza, por isso é o padrão ouro na bexiga neurogênica. Além disso, ajuda a orientar e a avaliar o tratamento e por isso, repetir o exame é muito importante. Como analisa o enchimento e o esvaziamento da bexiga, a urodinâmica é capaz de evidenciar situações de risco, como bexigas muito pequenas, com pressões muito elevadas ou que não se esvaziam completamente durante a micção, um problema constantemente observado em pacientes com SCZV e que causa infecção urinária. Com a segunda publicação nós mostramos isso. O ideal seria que estes pacientes fizessem o exame desde o primeiro mês de vida. Temos que lembrar que a BN é uma das sequelas que podem ser tratadas e normalizadas no âmbito da SCZV. Quanto mais cedo começamos a tratar, maior a probabilidade de melhorar a resposta do rim.

O que acontece agora?
LM: Já sabemos da obrigação de investigar o sistema urinário de todos os pacientes com alteração neurológica devido a SCZV, e de orientar estas famílias sobre a importância e as vantagens do tratamento urológico na evolução do paciente. Não é mais só o interesse de pesquisa, temos responsabilidades com estes pacientes e precisamos lutar para aumentar a adesão e evitar as faltas que vem impedindo o acompanhamento adequado. Estamos também revisando os dados referentes á evolução e resposta ao tratamento, para que possam ser compartilhados com as famílias e a comunidade científica, incluindo uma avaliação exaustiva de todos os episódios de infecção urinaria, com o apoio da médica do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica do IFF/Fiocruz, Glaura Cruz e da bolsista Julia Oliveira. No âmbito nacional, estamos ampliando cooperações e realizando capacitações para que as sequelas urológicas possam ser investigadas e tratadas, principalmente na região Nordeste que é a mais afetada, permitindo que mais crianças possam ser beneficiadas.  

O tempo está passando, as crianças ficando mais velhas e estamos perdendo a janela de oportunidade para reverter o processo de cronificação desta doença urológica. As evidências tem apontado para bexigas neurogênica de alto risco, com grande parte dos pacientes fazendo retenção urinaria e vários já tendo sido internados por infecção urinaria grave. Estamos tentando sensibilizar as famílias e os profissionais de saúde para a importância de realizar o exame, comparecer com regularidade as consultas e fazer o tratamento. 

Quais são as dificuldades atuais? 
LM: A falta de conhecimento de que a SCZV causa BN atrasa a investigação e o tratamento. Por isso a população e os profissionais devem ser sensibilizados para os riscos que a síndrome pode causar ao trato urinário, de maneira que tratamentos adequados sejam iniciados para evitar danos renais irreversíveis.  Meu incomodo é saber que existem muitas crianças ainda desassistidas. Até onde vai o meu conhecimento, além de nós, somente as crianças das coortes de Macaíba (RN) e de Campina Grande (PB) estão sendo investigadas e tratadas, e esses são os centros com os quais temos cooperação. Alguns outros profissionais estão começando a investigar, com base nas nossas publicações. Embora ainda não possamos afirmar se permanecerá assim por longo prazo, a maioria dos pacientes que já foram avaliados estão apresentando boa resposta ao tratamento. Atualmente, acreditamos que todas as crianças com SZCV têm potencial para desenvolver BN, e por isso todas precisam ter acesso ao exame urodinâmico para o devido diagnóstico e o correto tratamento. Mas ainda falta muito para isso se tornar realidade. 

Qual é o panorama atual no tratamento para BN em pacientes com SCVZ?
LM: Estamos evoluindo, mas um dos maiores problemas é o absenteísmo. Em geral, os pacientes faltam muito aos exames e às consultas. A criança com SCZV tem muitos problemas e muitas demandas. Como os sintomas urológicos são muito silenciosos, é muito comum que estes sejam negligenciados pelas famílias em privilégio de outros que são mais visíveis. Na Bexiga Neurogênica, o sintoma vai ser percebido lá na frente, quando as complicações aparecerem. Acredito que isso faça com que muitos pais marquem o exame e não compareçam. Existe também uma rejeição à realização do cateterismo, por medo e desconhecimento. Temos alguns pacientes cujos pais não aceitavam a realização do exame até o momento que a criança desenvolveu uma infecção urinária grave, consequência da doença. Uma das nossas metas atuais é reduzir o absenteísmo e para isso estamos contando com o apoio das especialistas do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica do IFF/Fiocruz, Grace Araújo e Jo Malacarne, e da bolsista Nathalia Lopes, para confirmação prévia de comparecimento às consultas e exames e com reforço do contato e acompanhamento com as mães. 

Fonte:  Fiocruz


terça-feira, 16 de abril de 2019

Fiocruz desenvolve teste para Zika mais barato e rápido





A expectativa é que o kit seja disponibilizado até o fim do ano


Exames para identificar infecção pelo vírus da Zika em breve vão poder ser feitos em 20 minutos. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Pernambuco, desenvolveram um método simples e 40 vezes mais barato que o tradicional. A expectativa é que chegue aos postos de saúde antes do final do ano, beneficiando, principalmente, os municípios afastados dos grandes centros, onde o resultado do teste de Zika pode demorar até 15 dias. As informações são de um dos criadores da técnica, o pesquisador da unidade Jefferson Ribeiro.

“Tendo em vista que a técnica atual (PCR) é extremamente cara e o Brasil tem poucos laboratórios de referência que podem realizar o diagnóstico de Zika – até um tempo atrás eram apenas cinco, inclusive a Fiocruz de Pernambuco -, uma cidade pequena, no interior do estado, acaba prejudicada. A amostra precisa sair do interior, ir para a capital, para ser processada, enfim, se pensarmos nesses municípios, o resultado pode demorar 15 dias”, destaca Ribeiro.

Outra vantagem do novo teste é que pode ser feito por qualquer pessoa nos posto de saúde, não exige treinamento complexo. Com um kit rápido, basta coletar amostras de saliva ou urina, misturar com reagentes fornecidos em um pequeno tubo plástico e depois aquecer em banho maria. Vinte minutos depois, se a cor da mistura se tornar amarela, está confirmado o diagnóstico de Zika, se ficar laranja, o resultado é negativo. Hoje, o teste PCR (reação em da polimerase), com reagentes importados, é feito com material genético retirado das amostras, o que demora mais.

O teste elaborado pela Fiocruz Pernambuco é também mais preciso, ou seja, tem uma taxa de erro menor, acusando a doença mesmo em casos que não foram detectados pela PCR.
A expectativa dos pesquisadores é que o kit seja desenvolvimento pela indústria nacional, com a participação da Bio-manguinhos, e disponibilizado até o fim do ano. Testes semelhantes já são usados para o vírus da dengue e outras bactérias. “Essa é a nossa pretensão, para facilitar a disponibilidade para o Sistema Único de Saúde”, disse Ribeiro.


Zika
O número de casos de Zika, que pode causar microcefalia em bebês, vem diminuindo nos últimos anos. No entanto, o país ainda teve 8.680 diagnósticos em 2018 (em 2017 foram 17.593), com maior incidência no Norte e Centro-Oeste. A doença está relacionada à falta de urbanização e de saneamento básico e costuma aumentar nas estações chuvosas.

A Zika é transmitida principalmente por picadas de mosquito, mas também durante a relação sexual desprotegida e de mãe para filho, na gestação. Provoca complicações neurológicas como a microcefalia e a Síndrome de Guillain Barré. Começa com manchas vermelhas pelo corpo, olho vermelho, febre baixa e dores pelos corpos e nas juntas, geralmente, sem complicações.

O novo teste para a Zika foi desenvolvido no mestrado em Biociências e Biotecnologia em Saúde, com orientação do professor Lindomar Pena. Em breve, será publicado em detalhes em revista científica. Anteriormente, os pesquisadores publicaram artigo com os resultados dos testes para amostras de mosquitos infectados e não de secreções humanas.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Anticorpos contra a dengue reduzem chance de contrair zika




O surto da zika, ocorrido no período de 2015/2016, representou uma das maiores emergências de saúde pública do Brasil. Um novo estudo liderado por pesquisadores da Fiocruz Bahia, Fiocruz Pernambuco, Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Escola Pública de Yale, além de outros parceiros internacionais, demonstrou que as pessoas que possuíam anticorpos contra a dengue tinham menor probabilidade de serem infectadas pelo zika durante o surto.

A revelação de que a imunidade resultante da infeção gerada pelo vírus da dengue protegeu indivíduos da zika foi obtida a partir do acompanhamento de uma coorte de 1.453 pessoas, formada por moradores do bairro Pau da Lima, em Salvador, Bahia, uma área em que cerca de 73% dos indivíduos tiveram contato com o vírus zika. O estudo que descreve os procedimentos da pesquisa e os mecanismos que geram a proteção foi publicado na revista Science.

Os vírus da zika e da dengue compartilham muitas semelhanças genéticas e circulam nas mesmas regiões. Uma questão-chave em ainda estava em aberto foi se os anticorpos que são gerados a partir de uma infecção por dengue poderiam protegem as pessoas ou as tornam mais suscetíveis a uma infecção por zika. “Este estudo é o primeiro a avaliar esta questão e demonstrar que a imunidade à dengue pode proteger contra uma infecção por zika em populações humanas”, disse Federico Costa, pesquisador visitante da Fiocruz Bahia e professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA.

O pesquisador da Fiocruz Bahia, Mitermayer Galvão dos Reis, destacou que a população de Pau da Lima já é acompanhada há quase 20 anos pelo grupo de pesquisa e defendeu que o fato do trabalho ser multicêntrico contribuiu para o avanço no conhecimento científico. “Estudos anteriores realizados na Fiocruz Bahia já indicaram que a infecção por zika também gerou resposta imune cruzada contra dengue. Mostramos que trabalhando de forma organizada, em parcerias, você pode aumentar o conhecimento científico, gerar evidencia para tomada de decisões políticas futuras e formar e capacitar recursos humanos”, afirmou.

Uma explicação para a relação entre a epidemia e a síndrome congênita associada a zika também foi oferecida pelos pesquisadores. “A taxa de infecção extremamente alta entre as mulheres grávidas de comunidades empobrecidas, como no nosso local de estudo, foi certamente a principal razão pela qual tivemos um grande surto de microcefalia entre as crianças no final de 2015”, disse Albert Ko, professor da Escola de Saúde Pública de Yale e um dos autores principais do estudo.

A pesquisa indicou que, embora a taxa geral de infecção tenha sido alta em Pau da Lima, os pesquisadores descobriram grandes diferenças no risco de infecção pelo zika, em curtas distâncias. Dependendo de onde as pessoas viviam, as taxas de infecção variavam de um mínimo de 29% a um máximo de 83%. Os autores defenderam que, embora houvesse áreas da comunidade que não foram atingidas pelo zika durante o surto, a grande maioria da população estava infectada com o vírus altamente transmissível e por isso desenvolveu imunidade a esse vírus, o que, por sua vez, levou à extinção da transmissão e causou o declínio do surto. “A pandemia de zika criou altos índices gerais de imunidade a esse vírus nas Américas, o que será uma barreira para os surtos nos próximos anos”, disse Isabel Rodriguez-Barraquer, professora assistente da Universidade da Califórnia, em San Francisco.

O estudo foi apoiado pela Escola de Saúde Pública de Yale, Ministérios da Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia do Brasil e os Institutos Nacionais de Saúde.



Fonte:  Fiocruz


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Pesquisa mostra impactos sociais do vírus zika


Tão vulneráveis quanto as crianças nascidas com microcefalia em decorrência da zika nos últimos três anos, no Brasil, são suas mães e outras mulheres envolvidas em seus cuidados diários. Numa rotina sistemática de consultas médicas, atividades de estímulo e de recuperação de suas crianças, elas tiveram que largar o trabalho - o que impacta na renda da família -, abandonar projetos pessoais e enfrentar as dificuldades de um sistema de saúde despreparado para atender seus filhos. Esses dados são parte dos resultados da pesquisa Impactos Sociais e Econômicos da Infecção pelo Vírus Zika, que foram apresentados na última sexta-feira (30/11), no auditório da Fiocruz Pernambuco. Desenvolvido em conjunto pela Fiocruz Pernambuco, Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e London School of Hygiene and Tropical Medicine, o estudo mostra que avós, tias e irmãs adolescentes também são figuras importantes na rotina de atendimentos terapêuticos e nas atividades domésticas.

Os pais, quando presentes na vida cotidiana dessas crianças, são responsáveis por manter o sustento da família e ajudar em atividades domésticas que visam tornar mais leves os cuidados centrados nas mães. Com dados coletados de maio de 2017 a janeiro de 2018, nas cidades do Recife, Jaboatão dos Guararapes (PE) e Rio de Janeiro, a pesquisa, além de descrever o impacto da Síndrome Congênita da Zika (SCZ) nas famílias, estimou o custo da assistência à saúde das crianças com SCZ para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para suas famílias – 50% tinham renda entre um e três salários mínimos - e identificou os impactos nas ações e serviços de saúde e na saúde reprodutiva.

Em relação às despesas, verificou-se que o custo médio com consultas em um ano foi 657% maior entre as crianças com microcefalia ou com atraso de desenvolvimento grave causado pela síndrome (grupo 1) do que com crianças sem nenhum comprometimento (grupo 3 – controle). A quantidade de consultas médicas e com outros profissionais de saúde foram superiores em 422% e 1.212%, respectivamente. Já os gastos das famílias com medicamentos, hospitalizações e óculos, entre outras coisas, ficaram entre 30% e 230% mais elevados quando comparados com as crianças sem microcefalia, mas com manifestações da SCZ e com atraso de desenvolvimento (grupo 2) e com as do grupo 3, respectivamente.

Entre as dificuldades do dia a dia, essas famílias também esbarraram numa assistência de saúde insuficiente e fragmentada, com problemas no cuidado, ausência de comunicação entre os diversos serviços especializados, assim como entre níveis de complexidade. Para os profissionais de saúde, a epidemia deu visibilidade às dificuldades de acesso de outras crianças com problemas semelhantes, determinados por outras patologias/síndromes congênitas. Revelou, ainda, que as ações governamentais continuam centradas no mosquito transmissor e na prevenção individual, sem atuação sobre os determinantes sociais.

Nas entrevistas, a maioria das mulheres em idade reprodutiva expressou sentimento de pânico em referência à gravidez durante a epidemia de zika. Elas temiam, principalmente, o impacto sobre a criança, embora não compreendessem totalmente o termo Síndrome Congênita da Zika. Por isso, utilizavam frequentemente o termo microcefalia. Incertezas sobre como elas ou os bebês podiam ser infectados foram comuns. Assim como preocupações e expressões de sofrimento em relação à deficiência e ao impacto disso sobre suas vidas.

Outro medo delas era uma gravidez não planejada, pois estavam insatisfeitas com a oferta de métodos contraceptivos disponíveis nos serviços de saúde. A maioria usava contraceptivos hormonais injetáveis no momento das entrevistas e relataram falta de informação e falhas nos métodos utilizados. O DIU não apareceu como opção e os homens mostraram-se ausentes do planejamento reprodutivo. Quase todos os entrevistados desconheciam a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika e alguns ouviram informações sobre isso na televisão, mas não deram importância porque não era um assunto recorrente na mídia.

Também foram registradas incertezas sobre as possibilidades de transmissão e poucos receberam informações de profissionais de saúde. “Diante da falta de informações e de acesso aos métodos contraceptivos a gente questiona como a mulher vai exercer sua autonomia reprodutiva, escolher se ou quando engravidar”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Camila Pimentel, que participou do estudo. “Os epidemiologistas já alertaram que uma nova epidemia de zika pode ocorrer. Ainda assim, outras questões ligadas à zika continuam sem serem trabalhadas, como a questão dos direitos reprodutivos, do apoio psicológico e da geração de renda para as mães desses bebês”, analisa Camila.

Para a realização da pesquisa foram entrevistadas mães e outros cuidadores de crianças com SCZ, mulheres grávidas, homens e mulheres em idade fértil e profissionais de saúde, totalizando 487 pessoas.


Fonte:  Fiocruz


terça-feira, 17 de julho de 2018

Estudo auxilia compreensão sobre danos neurológicos pelo zika


Um grupo de cientistas acaba de alcançar resultados capazes de lançar luz a inquietantes perguntas levantadas a partir da epidemia do vírus zika que se espalhou pelo Brasil em 2015 e 2016: por que tantos casos de fetos afetados pela doença durante a gravidez materna foram diagnosticados com microcefalia? O que explica algumas crianças terem desenvolvido problemas motores e oculares mesmo sem alteração no perímetro craniano? Qual a razão do aumento nos casos de adultos com síndrome de Guillain-Barré? 
Após uma bateria de análises laboratoriais em amostras de homens e mulheres, incluindo gestantes, infectados com o vírus e de testes em camundongos, um estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com instituições nacionais e internacionais, identificou que a base dos danos ao sistema nervoso e à visão relacionados ao zika podem ser resultado de um “fogo amigo” na reação imune: ao reagir ao vírus, os anticorpos acabam mirando também em um componente presente nas membranas das células nervosas, conhecida como gangliosídeo GD3. Esta biomolécula representa um glicolipídeo capaz de desempenhar funções biológicas de extrema relevância na fisiologia das células tronco-neurais, principais alvos do hospedeiro na infecção pelo vírus da zika. Com isso, ao mesmo tempo em que o organismo reage ao vírus, mira também a própria estrutura das células do sistema nervoso. A pesquisa contou com parceria de especialistas da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Os resultados foram publicados na revista Frontiers in Medicine.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, desde o início da circulação do vírus no país, são contabilizados mais de três mil casos confirmados de bebês com microcefalia relacionados ao zika. Colômbia, Estados Unidos, Martinica, Panamá e Porto Rico também registraram casos de síndrome congênita associada à infecção pelo vírus. Em relação à síndrome de Guillain-Barré, 13 países do continente americano, incluindo o Brasil, notificaram aumento na incidência da doença. Por aqui, após a entrada do zika no território, alguns estados registraram uma elevação considerável da doença autoimune. De acordo com estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve crescimento sobretudo em Alagoas (516,7%), Bahia (196,1%), Rio Grande do Norte (108,7%), Piauí (108,3%), Espírito Santo (78,6%) e Rio de Janeiro (60,9%). A síndrome de Guillain-Barré é uma doença grave e sem cura. Além de causar paralisa geral, pode levar o paciente a ter dificuldade em engolir, falta de ar, fraqueza muscular facial, visão dupla e ritmo irregular do coração.

Passo a passo do estudo
Assim como qualquer microrganismo invasor, o zika tem um alvo preferencial no corpo humano: ao ser injetado na corrente sanguínea de um indivíduo pela picada de um mosquito Aedes aegypti infectado, o vírus procura as células-tronco neurais para se alojar e se replicar. Por esse motivo, é considerado um vírus com ‘neurotropismo’ (de forma simplificada, um vírus atraído pelo sistema nervoso). Presentes no cérebro, as células-tronco neurais são responsáveis por algumas das rotinas indispensáveis do corpo humano, como a geração de neurônios e a regeneração dos tecidos do corpo. Em menor grau, essas estruturas também são encontradas na retina ocular. É justamente na composição da membrana revestidora das células-tronco neurais que estão presentes os gangliosídeos GD3, fundamentais para o bom funcionamento dos neurônios. 
Após ser introduzido no organismo, o vírus zika já localiza, invade e destroi um conjunto de células-tronco neurais – e permanece nessa atividade de localização, invasão e destruição, várias e várias vezes seguidas, o que é necessário para garantir sua replicação e manutenção no organismo. E a cada nova etapa de invasão e destruição de células, parte da estrutura celular morta fica aderida ao vírus. Entre os resíduos da morte celular que ficam grudados no vírus estão os gangliosídeos GD3. É aí que o sistema imunológico, ao mirar o vírus, começa, inadvertidamente, a também direcionar seu arsenal para o próprio gangliosídeo GD3. Se o volume da reação imune for grande, o risco é de que o próprio sistema nervoso vire alvo. 
“Imagine um indivíduo que nunca entrou em contato com o vírus zika. No caso de uma infecção, ele ainda não possui anticorpos preparados para neutralizar o vírus. Essa produção começa somente depois de o organismo identificar o inimigo e reagir contra o sucesso dele em acometer o indivíduo durante a infecção”, explica Alexandre Morrot, pesquisador do Laboratório de Imunoparasitologia do IOC/Fiocruz e coordenador da pesquisa. “A partir daí, como em uma batalha, os anticorpos – um importante componente das respostas de defesa do hospedeiro, capazes de identificar, neutralizar e destruir os vírus em todos os tecidos e fluidos do corpo – são liberados para impedir a continuidade da destruição das células infectadas pelo vírus. Todo esse processo é muito bem arquitetado. No entanto, situações adversas podem acontecer. Às vezes, o corpo produz anticorpos auto-reativos, capazes de reagir contra biomoléculas do próprio hospedeiro, que acaba gerando um desequilíbrio desfavorável ao próprio individuo”, ilustra o imunologista, que antes de ingressar no IOC havia iniciado a pesquisa enquanto atuava no Laboratório Integrado de Imunobiologia da UFRJ.

Busca de evidências
Para testar a hipótese de que a própria reação imune ao zika usava as células nervosas e da retina ocular como alvos ‘colaterais’, os pesquisadores realizaram um primeiro teste para determinar se os anticorpos produzidos pelo corpo humano após a infecção por zika atuavam contra os gangliosídios GD3. Para isso, foram analisadas amostras de 13 pacientes – sendo seis homens e sete mulheres – e de 12 gestantes, todos com infecção prévia por zika. Para comparação, foi utilizado um grupo de indivíduos saudáveis. No grupo com histórico de infecção, os especialistas constataram um aumento significativo na produção de um tipo específico de anticorpos: os chamados autoanticorpos. “Eles reagem contra componentes do próprio organismo, podendo ocasionar doenças autoimunes, como a síndrome de Guillain-Barré, causada pelo ataque do sistema imunitário ao sistema nervoso periférico”, explica Alexandre. Com o método de Elisa (Ensaio de Imunoabsorção Enzimática, na sigla em português), foi identificada a prevalência da classe de autoanticorpos IgG contra o gangliosídeo GD3 (ou anti-GD3).
Em seguida, foi investigado se esses autoanticorpos anti-GD3 eram de fato capazes de reconhecer o gangliosídio GD3 presente na membrana plasmática das células-tronco neurais e da retina ocular. Nesse ponto, foram comparadas células da retina ocular de camundongos comuns e de camundongos modificados geneticamente para não expressar o gangliosídeo GD3 na retina ocular. Amostras de soro de pacientes infectados foram depositadas em lâminas com as células da retina ocular dos dois tipos de animais (com e sem GD3). Por meio de testes de imuno-histoquímica, a expressão do gangliosídeo pode ser observada nos tecidos de camundongos com GD3 quando em contato com os soros infectados. Nos tecidos sem GD3 não houve reação. Para comparação, o procedimento também foi realizado com os soros dos pacientes saudáveis. “Uma vez que o soro não continha autoanticorpos, nenhuma reação foi observada. Ou seja, por meio desse segundo teste constatamos que a infecção pelo zika é capaz de gerar autoanticorpos que atuam diretamente contra o gangliosídeo GD3”, explicita Morrot.

Mais uma peça no quebra-cabeça sobre o zika
Segundo o especialista, a produção de autoanticorpos contra uma substância vital para as atividades das células neurais pode afetar diretamente o processo de neurogênese, capaz de formar novos neurônios. “Uma vez que os autoanticorpos reconhecem os gangliosídios GD3 na superfície das células tronco-neurais, esse processo pode resultar na morte dessas células e afetar o desenvolvimento correto do tecido nervoso. Essa condição pode ser uma das explicações para o elevado número de crianças acometidas com microcefalia e outras malformações neurológicas, mesmo sem alteração do perímetro cefálico”, pondera o coordenador do estudo. 
Os dados científicos que vêm constatando problemas oculares nas crianças de gestantes infectadas pelo zika também aumentam as suspeitas sobre o GD3. “Este fato estreita a hipótese de que o ataque ao GD3 também está ligado à disfunção na biologia das células, uma vez que esse gangliosídio também desempenha importante papel na formação do tecido da retina”, argumenta Alexandre.
Em relação à síndrome de Guillain-Barré – uma questão que vem sendo investigada muito antes do vírus zika surgir como uma preocupação –, a literatura científica já demonstrava que respostas autoimunes direcionadas a gangliosídeos podem contribuir para complicações no sistema nervoso. Morrot acredita que a resposta inapropriada direcionada ao GD3 após a infecção pelo vírus zika pode ser uma explicação para o aumento de casos de adultos acometidos com a síndrome. 

Sinal de alerta
A forte indicação de que o GD3 pode ser a chave para entender as neuropatologias associadas às infecções por zika apontam que esse gangliosídeo pode ser avaliado como um biomarcador para identificar pacientes com maior risco de desenvolver complicações autoimunes relacionadas à síndrome de Guillain-Barré ou crianças com maior chance de danos neurológicos relacionados ao vírus zika. Ou seja: mensurar a presença do anti-GD3 pode ajudar a prever esses desdobramentos nocivos. Para isso, será necessário entender qual o limiar patológico de produção de autoanticorpos anti-GD3 – sobretudo após infecções secundárias ou subsequentes não apenas pelo zika, mas também por outros patógenos que possam desencadear esse processo de ‘fogo amigo’. Isso depende do estabelecimento de um acompanhamento prospectivo e multidisciplinar de pacientes.
O imunologista chama atenção, ainda, para outro fato relevante que surge na medida em que o GD3 entra em cena nos estudos sobre o zika: o método de produção de uma futura vacina para o vírus precisará considerar esse ponto. O pesquisador destaca que os diversos grupos debruçados no assunto precisarão ter cautela em relação à formulação de um imunizante que esteja baseado no uso de células de mamíferos para a produção de vacinas contra o vírus zika. Segundo Morrot, “tendo em vista que o vírus cresce bem em células progenitoras neuronais, que expressam GD3, a escolha dessas células ou mesmo tecidos embrionários para a produção de imunógenos ou variantes atenuadas do vírus poderia resultar em consequências danosas, pois a formulação vacinal poderia conter resíduos do gangliosídeo”. O especialista argumenta ainda que “fato semelhante aconteceu no passado com a vacina antirrábica, que está associada, em alguns casos, com a síndrome de Guillain-Barré como um dos eventos adversos. Pacientes que adquiriram esse distúrbio apresentaram taxas significativas de autoanticorpos contra gangliosídeos em seus organismos. Toda atenção e precaução são válidas, tendo em vista a importância da vacinação para a saúde pública na prevenção de doenças infecciosas e epidemias”, salienta.

Fonte:  Fiocruz

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Educação em Saúde participa de evento sobre hanseníase





Na última quinta-feira (03/08), a equipe do setor de Informação, Educação e Comunicação em Saúde (IEC) – do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) – participou de uma ação educativa sobre promovida pela Policlínica Regional Dr. João da Silva Vizella, no Barreto, pelo Dia Estadual de Conscientização, Mobilização e Combate à Hanseníase (05/08).
O objetivo do evento foi sensibilizar e alertar sobre a hanseníase, esclarecendo e desmistificando a doença.  Para isso, um estande foi montado no Parque Luiz Palmier (Horto do Barreto) onde os frequentadores puderam receber informações, orientações e panfletos com profissionais da policlínica e agentes comunitários do Médico de Família dos Marítimos.

O IEC atuou também com estande educativo onde os participantes puderam observar maquetes ilustrativas que mostram o ambiente certo e o errado para a proliferação de mosquitos numa residência, além de saber mais sobre arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela).  O propósito foi prevenir quanto ao perigo dessas doenças, enfatizando a importância do combate ao vetor, o mosquito Aedes aegypti, já que 80% dos focos do inseto são encontrados em criadouros no ambiente domiciliar.

Para Maria Cristina Crisóstomo, o público foi bem atencioso à ação: “Os estandes atraíram a curiosidade de muitas pessoas que foram visitar o local ou fazer atividades físicas e recreativas. Foi a oportunidade de falarmos sobre as doenças e a importância da prevenção, além de esclarecer dúvidas e distribuir material informativo. Os participantes demonstraram interesse nos temas abordados e agradeceram pelas informações adquiridas”, avaliou a agente do IEC.  

Hanseníase
A hanseníase, antigamente conhecida como lepra, é uma doença crônica, infectocontagiosa, causada por um bacilo (chamado bacilo de Hansen) e afeta diretamente a pele e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades físicas, caso não diagnosticada e tratada precocemente. A transmissão se dá de pessoa a pessoa através, principalmente de tosse e espirro, mas a doença tem cura através de tratamento com antibióticos e reabilitação física e psicossocial. A associação de medicamentos, denominado poliquimioterapia, é a prática mais indicada e está disponível no Sistema Único de Saúde. O paciente que segue o tempo e doses necessários do tratamento possui as chances de cura significativamente mais altas. (http://www.saude.rj.gov.br)
  

Equipe do IEC:  Antônio Pessoa, Hugo Costa, Maria Cristina Crisóstomo, Rogério Tavares e Rosani Loureiro.