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terça-feira, 5 de abril de 2022

Cinco motivos que comprovam que a pandemia de Covid-19 ainda não acabou

 

Bilhões de pessoas sem acesso às vacinas, milhões com esquema incompleto e crianças desprotegidas são exemplos


Com a flexibilização do uso de máscaras e a queda no número de casos e de mortes pela Covid-19 em vários países, inclusive no Brasil, a ideia de que a pandemia está chegando ao fim foi sugerida por muita gente. Porém, a Organização das Nações Unidas (ONU) e seu braço da saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS), descartam a hipótese. Para seus líderes, é um erro grave pensar dessa forma, especialmente pela distribuição “escandalosamente desigual de vacinas” e o alto número de novos casos e mortes que ainda continuam em todo o mundo. 

"Os estragos mais trágicos da pandemia foram na saúde e na vida de milhões de pessoas, com mais de 446 milhões de casos no mundo, mais de seis milhões de mortes confirmadas e outro grupo incontável de pessoas lutando contra a piora da saúde mental. [...] A primeira dose ainda não chegou a 3 bilhões de pessoas. Seria um grave erro pensar que a pandemia acabou”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em discurso na semana passada disse o secretário. 

A ideia foi reforçada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, que disse que “a pandemia está longe do fim”, embora os casos e as mortes globais estejam decrescendo e vários países tenham diminuído as restrições. Segundo Tedros, “a crise não terminará em nenhum lugar até que termine em todos”. 

Com base nas determinações da OMS, destacamos cinco motivos que mostram por que a pandemia ainda não acabou.

Bilhões de pessoas sem vacina

Como a própria OMS destacou, há pelo menos 3 bilhões de pessoas no planeta sem acesso a qualquer vacina contra Covid-19, ou seja, que podem contrair o SARS-Cov-2 e desenvolver a forma mais grave da doença, que envolve internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o risco elevado de morrer. Como exemplo, há vários países do continente africano e americano com menos de 40% da população vacinada, meta mínima sugerida pela OMS. No mês passado, a OMS informou que apenas 11% da população elegível à vacinação em todo o continente africano tinha recebido ao menos uma dose.  Ainda segundo o órgão, 14 países das Américas não bateram a meta de vacinação. 




Crianças não elegíveis à vacinação

Há ainda uma grande população infantil sem acesso às vacinas contra Covid-19 em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, somente crianças a partir de cinco anos podem tomar o imunizante. A população de zero a quatro anos está vulnerável ao vírus, que continua circulando e tende a atacar de forma mais grave justamente os não vacinados. A CoronaVac, vacina do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, já é oferecida no país para crianças e adolescentes de seis a 17 anos. O Butantan entrou com pedido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberar o imunizante para crianças a partir dos três anos, após pesquisa realizada no Chile e em outros países mostrarem que ele é altamente eficaz contra a Covid-19 nesta população, e praticamente não causa efeitos colaterais. Sete países já aplicam a CoronaVac em crianças a partir dos três anos. 




Milhões ainda não completaram o esquema vacinal

Pesquisas indicam que a alta proteção contra casos graves de Covid-19 conferida pelas vacinas ocorre somente com esquema vacinal completo. No entanto, no Brasil até janeiro/22, 54 milhões de pessoas ainda não tinham tomado a dose de reforço. Segundo o Ministério da Saúde, 66,6% dos idosos tomaram a terceira dose, quando a meta é 80%. Por isso, é fundamental, completar o esquema vacinal primário de acordo com a bula do fabricante (no caso de quem tomou CoronaVac, o intervalo entre doses é de 28 dias para qualquer idade), mesmo com atraso, e depois tomar a dose de reforço. 




Surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 

As sublinhagens da variante ômicron BA.1, BA.2 e a aparição da delta-ômicron, uma nova variante surgida a partir da fusão de outras duas variantes de preocupação (VOCs, na sigla em inglês), preocupam a OMS e são mais um indicativo de que a pandemia não acabou. Segundo a OMS, a BA.1 é hoje a variante predominante no mundo. No entanto, a proporção de casos de BA.2 está aumentando nas últimas semanas. 

Na semana passada, cientistas do Instituto Pasteur, da França, disseram ter descoberto a primeira evidência sólida da variante delta-ômicron, ou deltacron, com estrutura recombinante derivada das sublinhagens AY.4 (delta) e BA.1 (ômicron).

Segundo os cientistas, este vírus recombinante foi identificado em várias regiões da França pelo Consórcio de Emergência Europeu (Emergen) e vem circulando desde o início de janeiro de 2022. Genomas com um perfil semelhante foram também identificados na Dinamarca e na Holanda. “Outras investigações são necessárias para determinar se estes recombinantes derivam de um único ancestral comum ou podem resultar de vários eventos semelhantes de recombinação”, informou um comunicado da GISAID, plataforma internacional de dados genômicos sobre o coronavírus e o vírus influenza. 

Além do surgimento de novas variantes aumentar o risco do escape vacinal, isto é, a diminuição da proteção das vacinas já existentes, quanto mais variantes circularem, maior o risco de mais pessoas se infectarem, dos não vacinados terem quadros graves e de novas ondas de infecções surgirem – diminuindo ainda mais a chance de a pandemia acabar. 




Número de casos e mortes continua alto

Apesar de os casos de Covid-19 estarem em declínio no mundo, o avanço da variante ômicron mostrou que cada mutação do novo coronavírus se mostrou ainda mais transmissível do que a anterior, aumentando avassaladoramente o número de infectados nas últimas ondas de infecções em vários países. No Brasil, especificamente, a ômicron tomou conta rapidamente e promoveu uma explosão de casos em 2022. No começo de fevereiro, em um único dia houve a notificação de mais de 298 mil casos de Covid-19 pelo Ministério da Saúde, considerado um recorde diário; e no mesmo período o país voltou a reportar mais de mil mortes por dia. O número de mortes atualmente está em queda, mas ainda com média de 500 óbitos por dia.





segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Entenda as diferenças entre RT-PCR, antígeno e autoteste


Diagnóstico é parte essencial da estratégia de enfrentamento da pandemia





Uma das principais estratégias no combate à pandemia, a testagem para detectar a Covid-19 é essencial para monitorar o cenário epidemiológico do país e acompanhar a transmissão do vírus. Hoje, o Brasil tem dois principais tipos de testes já em uso para detectar o vírus Sars-Cov-2: RT-PCR e teste rápido de antígeno.

Em janeiro, após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde incorporou o autoteste no Plano Nacional de Expansão da Testagem. A estratégia é complementar e deverá ser usada como forma de triagem dos casos. Nessa segunda (17), a agência aprovou o primeiro registro desse tipo de teste no país.

Apesar de a comercialização dos autotestes em estabelecimentos licenciados não ser imediata, a oferta de diferentes tipos de diagnóstico para detectar a infecção pelo vírus Sars-Cov-2 pode gerar dúvidas na população.

Entenda as principais diferenças entre os tipos de teste:
• RT-PCR: É um diagnóstico laboratorial, feito por biologia molecular, que permite identificar a presença do material genético (RNA) do vírus Sars-Cov-2 em amostras de secreção respiratória. A amostra é colhida por um profissional de saúde.
• Teste rápido de antígeno (TR-Ag): Esta metodologia é capaz de detectar proteínas produzidas na fase de replicação viral. O TR-Ag positivo determina a presença do vírus na amostra, que é colhida por meio de swab nasal ou nasofaringe, no laboratório ou unidade de saúde. O processamento da amostra, no entanto, pode ser realizado fora do ambiente laboratorial.
• Autoteste de antígeno (AT-Ag): É um teste que poderá ser adquirido nas redes de farmácias e drogarias, em que a pessoa coleta sua própria amostra nasal ou oral (saliva) e, em seguida, faz o teste conforme instruções do fabricante na bula e interpreta o resultado. A metodologia é a mesma do TR-Ag.

Preciso de pedido médico para fazer esses testes?
• RT-PCR: Sim. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o teste é feito por meio de solicitação do exame, após uma avaliação do médico.
• Teste rápido de antígeno (TR-Ag): Pode ser feito por solicitação do médico, após consulta, ou diretamente nas unidades de saúde em pessoas sintomáticas ou que tiveram contato com casos positivos.
• Autoteste de Ag (AT-Ag): Não. A compra e realização do teste é por conta própria.

Qual o tempo de resultado dos testes?
• RT-PCR: O resultado é liberado em até 72 horas após a coleta da amostra.
• Teste rápido de antígeno (TR-Ag): O resultado fica pronto em torno de 20 minutos.
• Autoteste de antígeno (AT-Ag): O resultado fica pronto em torno de 20 minutos.

Qual a estrutura necessária para a testagem?
• RT-PCR: É necessário ambiente laboratorial para o uso da metodologia RT-PCR.
• Teste Rápido de Antígeno (TR-Ag): O processamento pode ser feito no próprio local da coleta.
• Autoteste de antígeno (AT-Ag): O indivíduo faz o próprio teste em casa ou em um local escolhido. O kit contém todos os itens necessários para a testagem.

Qual é o período ideal para fazer cada teste?
• RT-PCR: A coleta de amostras para a detecção do vírus em tempo real deve ocorrer o mais precocemente possível quando o paciente com síndrome gripal (SG) ou síndrome respiratória aguda grave (SRAG) está na fase aguda da infecção, até o 8º dia após o início dos sintomas. Para pacientes graves hospitalizados, a coleta pode ser feita até o 14º dia do início dos sintomas.
• Teste rápido de antígeno (TR-Ag): São mais eficientes na fase aguda da doença. Do 1º ao 7º dia em pessoas com sintomas; e a partir do 5º dia do contato em pessoas assintomáticas que tiveram contato com casos confirmados.
• Autoteste de antígeno (AT-Ag): Pode ser utilizado no período entre o 1º e 7º dia do início dos sintomas; e a partir do 5º dia do contato com indivíduos com a infecção.

Qual a eficácia dos diferentes testes?
• RT-PCR: É considerado o padrão ouro na detecção do Sars-Cov-2. Os testes usados pela rede de laboratórios de saúde pública apresentam alta sensibilidade (aproximadamente 86%) e alta especificidade (acima de 95%).
• Teste rápido de antígeno (TR-Ag): A sensibilidade dos testes rápidos de antígeno disponibilizados pelo Ministério da Saúde varia entre 90,30% e 96,75%. Já a especificidade desses testes varia de 98,80% a 100%.
• Autoteste de antígeno (AT-Ag): É semelhante ao TR-Ag. Ainda assim, por ser feito por pessoa leiga, podem ocorrer erros na execução ou interpretação, de forma que é uma estratégia complementar aos demais, sendo usado como triagem.

Qual é o público-alvo?
• RT-PCR: Qualquer pessoa sintomática com síndrome gripal e/ou síndrome respiratória aguda grave atendidas nos serviços de saúde.
• Teste rápido de antígeno (TR-Ag): Qualquer pessoa, sintomática ou assintomática, independentemente do estado vacinal ou idade, que procure a testagem nos serviços de saúde do SUS que disponham do TR-Ag.
• Autoteste de antígeno (AT-Ag): Qualquer pessoa sintomática ou assintomática, independentemente de seu estado vacinal pode fazer a autotestagem. Em menores de 14 anos o autoteste deve ser supervisionado por pais ou responsáveis.

O teste deu positivo, e agora?
Em caso de resultado positivo, o indivíduo deverá ser avaliado por um profissional de saúde, que também notificará o caso no sistema e-SUS, do Ministério da Saúde. A pessoa será orientada a ficar isolada, manter a higiene das mãos e dos ambientes, e usar a máscara para quebrar a cadeia de transmissão. Se o indivíduo tiver piora dos sintomas, deverá procurar o médico para uma nova avaliação.

Os sintomas mais comuns da Covid-19 são: febre, tosse, dor de garganta, coriza, dor de cabeça, perdas olfativas/gustativas e dores no corpo. São considerados sinais e sintomas graves: falta de ar, baixos níveis de saturação de oxigênio (abaixo de 95%), cianose, letargia, confusão mental e sinais de desidratação.



segunda-feira, 5 de abril de 2021

Pesquisadores explicam como funcionam as duas potenciais vacinas que deram entrada na Anvisa

 

Versamune e ButanVac entraram com pedido na semana retrasada para realização de testes em humanos, para serem produzidas no Brasil




No final da semana retrasada, duas potenciais novas vacinas contra a covid-19 entraram com pedido na Anvisa para realização de testes clínicos: a Versamune, que está sendo desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, em parceria com a startup Farmacore e a estadunidense PDS Biotechnology, e a ButanVac, pelo Instituto Butantan em parceria com o Icahn School of Medicine, no Mount Sinai, em Nova York (EUA).


Versamune

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu o pedido para início da fase de ensaio clínico nas fases 1 e 2 da vacina Versamune na última quinta-feira, 25 de março. O imunizante contra covid-19 é uma produção do consórcio formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, com a Farmacore, startup brasileira responsável pelo desenvolvimento tecnológico, e a PDS Biotechnology, que licenciou para a Farmacore o sistema adjuvante/carreador da formulação vacinal.

O trabalho está sendo coordenado pelo professor Celio Lopes Silva do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP e conta com apoio e financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Na primeira fase do ensaio clínico, o imunizante será aplicado em 360 voluntários, e os pesquisadores estimam concluir as fases 1 e 2 entre três ou quatro meses com início em maio. Já a fase 3 deverá contar com 20 mil voluntários em diversos estados do Brasil.

A previsão é que todo o estudo clínico seja finalizado entre nove e 12 meses, ou seja, caso tudo dê certo, a vacina desenvolvida na USP em Ribeirão Preto pode estar disponível para a população no início de 2022. No sábado, dia 27 de março, a Anvisa solicitou os resultados do controle de qualidade dos insumos e do ensaio pré-clínico, que estão em fase de finalização pelo consórcio.

“Os resultados dos estudos não clínicos mostraram que ela é segura para animais e, diferentemente das outras vacinas, ela tem a capacidade de ativar todo o sistema imunológico que impede não só a entrada do sars-cov-2 para dentro das células como também matam as células já infectadas. Acreditamos que o imunizante gere uma memória imunológica de até 12 anos”, afirma o professor Célio Lopes Silva.

Além disso, conta o professor, essa vacina induz a memória imunológica de longa duração; é simples e segura (não contém vírus inativados, partículas virais, adjuvantes tradicionais e complexos, DNA, mRNA); tem boa estabilidade e facilidade nas estratégias de produção e distribuição; conta com facilidades tecnológicas para que possa ser produzida integralmente no Brasil nas fases de vacinação em massa; e permite estabelecer uma base tecnológica nacional para ajudar a vencer futuros desafios de novas pandemias que possam impactar significativamente a saúde da população.

Os pesquisadores produziram uma formulação vacinal composta do antígeno S1 do sars-cov-2, obtido na forma recombinante, e associado a uma nanopartícula lipídica denominada Versamune que é usada como carreador/adjuvante vacinal. Essa formulação composta da S1 e Versamune, induz ativação da imunidade humoral (ativação de linfócitos B para produção de níveis elevados de anticorpos neutralizantes que impedem a entrada do vírus para dentro das células), imunidade celular (ativação de linfócitos T CD8 e T CD4 que eliminam as células infectadas) e imunidade inata (ativação da via de sinalização de IFN tipo I, que é crítica para manter o sistema imunológico ativado e a geração de respostas imunes adaptativas sustentadas contra infecções virais). Além disso, a Versamune participa da ativação de células NK, macrófagos e células dendríticas que são importantes para ativação geral do sistema imune e combater infecções virais.

“No geral, podemos definir essa como uma vacina nanoparticulada, que contém o antígeno S1, veiculada com um carreador. É um imunizante que, ao entrar na célula, estimula todo o sistema imunológicoo”, resume Silva ao Jornal da USP.

O investimento reúne recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Farmacore Biotecnologia Ltda. e da americana PDS Biotechnology.


ButanVac

Na última sexta (26) Instituto Butantan anunciou que pediria à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização para iniciar em abril um ensaio clínico de fases 1 e 2 para o desenvolvimento da ButanVac, mais uma vacina contra a covid-19 que pode se juntar ao plantel dos imunizantes produzidos no Brasil. Uma produção em pequena escala já foi finalizada para ser aplicada nos voluntários dos testes.

Os resultados das fases 1 e 2 visam a determinar se a vacina é segura e tem resposta imune capaz de prevenir o desenvolvimento da doença. Em caso positivo, o estudo pode prosseguir para a fase 3, em que uma quantidade maior de voluntários (milhares) é vacinada e acompanhada.

A ButanVac é diferente da CoronaVac, a vacina produzida pelo Butantan que está sendo aplicada atualmente na população brasileira. Enquanto que a CoronaVac utiliza uma versão inativada do próprio sars-cov-2 inteiro, a ButanVac tem como “princípio ativo” um vírus geneticamente modificado em laboratório para expressar em sua superfície uma única proteína do novo coronavírus – a proteína spike (S), que o sars-cov-2 utiliza para entrar nas células humanas e tem sido a mais utilizada em projetos de vacinas para gerar uma resposta imune específica contra ele. O vírus modificado é o da doença de Newcastle (NDV, em inglês), um patógeno que causa gripe em aves mas é inofensivo aos seres humanos.

Espera-se que a pessoa que receber a vacina gere uma resposta imunológica contra a proteína S. Assim, se ela entrar em contato posteriormente com o sars-cov-2, seu organismo já terá aprendido a combater o vírus da covid.

Figurativamente falando, é como se você colocasse uma máscara com o retrato-falado de um bandido sobre o rosto de uma pessoa inocente (o vírus geneticamente modificado) e soltasse essa pessoa no transporte público de uma cidade (o organismo da pessoa vacinada), para treinar a polícia local (o sistema imunológico) a reconhecer o rosto do fugitivo no meio da multidão e prendê-lo antes que ele tenha tempo de praticar algum crime (causar a covid-19).

A capacidade de gerar resposta imune da vacina é promissora, na perspectiva de Olga Chaim, professora licenciada da UFPR e atualmente pesquisadora na Universidade da Califórnia em San Diego, em razão escolha do vírus Newcastle, que foi “isolado de aves e já se mostrou bastante imunogênico em testes in vitro e nos testes pré-clínicos em animais. É um perfeito candidato. Não gera doença, mas ativa resposta imune”.

No processo de fabricação da vacina, o vírus modificado é injetado em ovos de galinha com os embriões ainda vivos. Uma agulha fura o topo do ovo e outra insere o vírus. Após um intervalo, o vírus se replica dentro do ovo, que é colocado numa câmara fria. O embrião morre e os vírus são liberados para o líquido que fica ao redor do embrião. Depois o líquido é purificado, e o vírus é inativado (para impedir que se replique e cause doença). Finalmente, o líquido é adicionado à formulação da vacina, processado e envasado.

É exatamente o mesmo processo utilizado pelo Butantan para a produção da vacina sazonal da gripe; e é aí que reside o grande trunfo do instituto para desenvolver e produzir essa nova vacina aqui também. Já a CoronaVac não pode ser produzida dessa forma porque o sars-cov-2 não se reproduz em ovos de galinha e precisa ser multiplicado em culturas de células in vitro.

O vírus Newcastle modificado (NDV-S) foi desenvolvido por cientistas da Icahn School of Medicine, no Mount Sinai, em Nova York (EUA). Já a proteína S estabilizada do vírus sars-cov-2 utilizada na vacina foi desenvolvida na Universidade do Texas em Austin. ‬Os testes pré-clínicos, com animais, foram feitos nos Estados Unidos, e a ideia é que os testes clínicos (com seres humanos) ocorram no Brasil, Vietnã e Tailândia.

“A iniciativa faz parte de um consórcio internacional em que o Butantan é o principal produtor, com 85% da capacidade total de produção, e tem o compromisso de fornecer a vacina ao Brasil e a países de baixa e média renda”, informou o instituto, em seu primeiro comunicado, do dia 26 de março.

O Butantan é um dos responsáveis por desenvolver clinicamente o produto, escalonar e padronizar os processos produtivos e produzir a vacina. De acordo com o instituto, todos os processos produtivos, desde a qualificação dos ovos embrionados, inoculação, crescimento viral, processamento e purificação viral, inativação, formulação, qualificação, controle de qualidade, produção em escala, envase, rotulagem e registro sanitário serão realizados em suas instalações.

Segundo Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do instituto, a nova vacina terá perfil alto de segurança. “Nós sabemos produzir a ButanVac, temos tecnologia para isso e sabemos que vacinas inativadas são eficazes contra a covid-19. Poder entregar mais vacinas é o que precisamos em um momento tão crítico”, explica, em nota publicada pelo Butantan.

“Por isso é tão importante termos nossa própria expertise e fábricas rodando no Brasil”, disse ao Jornal da USP o biólogo Paulo Lee Ho, pesquisador e ex-diretor do Centro de Biotecnologia e da Divisão de Desenvolvimento Tecnológico e Produção do Instituto Butantan. Apesar do vírus modificado ter sido desenvolvido nos Estados Unidos, ele destaca que todo o processo de produção e transformação desse vírus em uma vacina propriamente dita será desenvolvido dentro do Butantan. “Inovação não é uma ideia; inovação é produto”, diz. “E se você não desenvolve produção, você não tem produto.”

É uma situação diferente da CoronaVac, em que o insumo farmacêutico ativo (IFA) contendo o vírus inativado é produzido pela empresa Sinovac, na China, e enviado já pronto ao Brasil para ser processado e envasado no Butantan. No caso da ButanVac, o IFA será produzido aqui desde o início, utilizando a plataforma de cultivo viral em ovos do Instituto.

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirma que será possível entregar a ButanVac à população ainda neste ano – dependendo, é claro, do sucesso dos testes clínicos e aprovação dos resultados pela Anvisa. “Após o final da campanha de produção da Influenza, que termina em maio, podemos iniciar imediatamente a produção da ButanVac. Atualmente, nossa fábrica envasa a Influenza e a CoronaVac”, diz.


Fonte:  Jornal da USP

Imagem: Pixabay





terça-feira, 9 de março de 2021

Covid-19: pesquisador fala sobre reinfecção e o surgimento de mutações no vírus Sars-CoV-2

 

Nessa entrevista, o pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca explica a importância da vigilância genômica desenvolvida pelo SUS no momento em que o país bate novo recorde de óbitos em decorrência da Covid-19. O pesquisador também fala sobre as características da nova cepa do vírus Sars-CoV-2 surgida em Manaus, a variante designada como P.1, associada a casos de reinfecção por Covid-19 no estado, e defende a necessidade de medidas de isolamento social mais restritivas para conter o avanço do vírus e evitar o surgimento de novas mutações, com potencial para tornar o controle da pandemia ainda mais difícil.



EPSJV/Fiocruz: Fale do papel da Fiocruz Amazônia no sequenciamento dessa nova cepa que foi identificada em Manaus. O que se sabe sobre ela, qual a sua origem, seu grau de transmissibilidade, e qual é o risco que existe em relação à perda da eficácia das vacinas contra a Covid-19?

Felipe Naveca: Nós estamos sequenciando coronavírus desde o primeiro caso, em março do ano passado. Nós submetemos um artigo na semana passada que conta a história toda da vigilância genômica do coronavírus do Amazonas, desde o primeiro caso. Dentro disso, nós não tínhamos nenhuma informação nem perto da variante P1 até novembro, nada que fosse nem similar. Quando, no dia 10 de janeiro, os pesquisadores do Japão deram o alerta de que tinham encontrado algo muito diferente em pessoas que tinham passado pelo Amazonas, isso chamou atenção e nós fomos comparar os dados que eles tinham obtido. E realmente nada apontava para isso até novembro. Nós conseguimos confirmar o que o dado epidemiológico dizia. As pessoas tinham passado pelo Amazonas e nossos dados genéticos confirmaram que a origem da P1 era a linhagem 28 que circulava no Amazonas. No outro dia nós tínhamos um experimento em andamento para sequenciamento de um caso suspeito de reinfecção, e aí já apareceu a variante P1 exatamente igual à sequência obtida no Japão, e já causando reinfecção. A coisa foi muito rápida naquele período, de um dia para o outro as informações já mudavam, e hoje nós temos três casos de reinfecção confirmados por P.1 no Amazonas. Três mulheres que tiveram doença leve na segunda vez, felizmente, mas foram casos de reinfecção. E duas delas chamaram muita atenção. Uma pelo fato de que a paciente tinha feito teste de anticorpos uma semana antes, mais ou menos, e tinha dado positivo, ou seja, ela tinha anticorpos, e mesmo assim foi infectada; e outro caso foram apenas 92 dias [após a primeira infecção]. Ou seja, provavelmente teria anticorpos, era muito cedo para ter perdido. Isso sugere que a P1 possa estar escapando dos anticorpos. A gente ainda não tem certeza disso, tem experimentos em andamento no IOC e também em Oxford, junto com o pessoal da AstraZeneca, para entender isso melhor.

Nossos dados genéticos apontaram para um possível surgimento entre o dia 15 de novembro e o dia 4 de dezembro, e justamente a amostra mais antiga que nós conseguimos identificar é do dia 4 de dezembro. Então, isso também bate com as estimativas, não conseguimos identificar antes disso. Nós desenvolvemos um teste de PCR em tempo real para ajudar no screening dessa amostra, para não ter que tudo ir para o sequenciamento, que é mais caro, mais demorado, mais laborioso. A gente consegue fazer uma triagem com uma ferramenta de PCR em tempo real que nós desenvolvemos para as variantes mais importantes. Então, ela detecta a P1, a variante do Reino Unido e a variante sul-africana, porque elas têm uma mutação em comum. E aí nós começamos a usar esse teste pra screening, e hoje nós temos mais ou menos 800 amostras testadas do Amazonas, e com isso percebemos que foi aumentando ao longo do tempo o percentual de pessoas infectadas com a P1. Na primeira semana, foi 5%, depois passa a 17%, 40%, 60% e hoje a gente está perto de 80% das amostras detectadas para P1. Hoje ela praticamente domina a circulação do Sars-CoV-2 no Amazonas.


EPSJV/Fiocruz: O que é a vigilância genômica e qual o seu papel numa pandemia como essa?

Felipe Naveca: A vigilância genômica seria a incorporação das informações genéticas ou de genomas inteiros dentro do que é a vigilância em saúde de uma maneira geral. Hoje nós fazemos a vigilância de eventos ou de agravos, não só baseados em dados como data de coleta ou por onde o paciente passou, mas incluímos também dados genéticos que corroboram isso. Usamos a informação presente dentro do genoma dos patógenos, como uma assinatura, para aquilo que a gente quer afirmar. Por exemplo, a maioria das variações de um genoma de patógeno, as mutações que a gente sempre fala, não tem uma consequência de tornar um vírus mais ou menos infeccioso, mais ou menos grave. Elas são fenômenos que acontecem e vão se acumulando no material genético desses vírus. Mas a vigilância genômica, por exemplo, utiliza essa informação para rastrear se esse vírus passou por São Paulo, por Brasília, por onde ele passou até chegar ao Amazonas.

Um outro ponto é que quando nós fazemos a análise de um genoma de um patógeno, principalmente de um patógeno como o Sars-CoV-2, que era algo realmente novo para a humanidade, nós, comunidade científica, conseguimos ver se um teste de PCR, que é o mais utilizado hoje, por exemplo, precisa ser adaptado, corrigido, porque uma mutação atrapalhou no diagnóstico.

A vigilância genômica também nos permite isso. E também vai nos permitir identificar eventos como o surgimento de uma variante com mutações importantes, mutações que realmente alteraram a estrutura do vírus de maneira a torná-lo mais transmissível, que foi o que aconteceu em Manaus.


EPSJV/Fiocruz: Qual é a estrutura disponível hoje no Brasil para desenvolver a vigilância genômica?

Felipe Naveca: A vigilância genômica hoje é executada por alguns laboratórios de referência. A Fiocruz é laboratório de referência nacional para vírus respiratório e sarampo, no IOC [Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro], mas também em outras unidades, no Amazonas, e em Pernambuco, por exemplo. E junta-se a isso uma rede oficial: o Instituto Evandro Chagas, no Pará e o Instituto Adolfo Lutz em São Paulo. Essas são as estruturas diretamente ligadas à rede de vigilância de vírus respiratórios que já existiam, e que passaram a fazer também do Sars-CoV-2. Há ainda alguns Lacen [Laboratórios Centrais de Saúde Pública]  que se estruturaram para fazer essa vigilância genômica, como, por exemplo, na Bahia e em Minas Gerais, e também algumas universidades. Há uma rede do Ministério de Ciência e Tecnologia fazendo isso. Tudo isso se soma para que a gente tenha uma rede de vigilância.

Claro que no Brasil ela ainda é bastante incipiente, se nós formos comparar com Inglaterra e Estados Unidos, que já fazem isso há anos e têm investimento maciço. Mas o Brasil hoje responde por mais da metade das sequências da América Latina, então a gente também tem que contextualizar dentro de um enfoque regional. Mas a ideia é que nós cada vez mais consigamos ampliar essa rede de vigilância para poder trazer essa informação mais rápido.


EPSJV/Fiocruz: Quais as principais dificuldades que você vê para o desenvolvimento da vigilância genômica no SUS hoje?

Felipe Naveca: O primeiro ponto é que praticamente todos os insumos utilizados para vigilância genômica são importados. Os grandes fabricantes estão nos Estados Unidos ou na Europa, então a gente tem uma dependência  desse tipo de insumo, que não vai resolver agora, mas é algo que a gente precisa começar a pensar, pelo menos a médio e longo prazo. A gente deveria ter pelo menos a possibilidade de ter fabricação no Brasil de alguns insumos estratégicos, mas não tem.


EPSJV/Fiocruz: Por exemplo?

Felipe Naveca: Os insumos do sequenciamento propriamente dito são algumas enzimas. Tudo bem que muita coisa é patenteada,mas tudo isso é produzido fora do país. Se eu for comparar, por exemplo, com um instituto de pesquisa semelhante nos Estados Unidos, se ele não tiver esse produto hoje, vai ter no dia seguinte; eu vou ter daqui a um mês. Esse é o primeiro ponto. Não estou nem falando de dinheiro, estou falando de logística mesmo. E eu teria em 20 dias se estivesse no Rio ou em São Paulo e teria em 30 dias estando no Amazonas. Ainda tem uma logística interna que também é complicada.

O segundo ponto nós sentimos na pele, por exemplo, quando eu ganhei um projeto para fazer esse trabalho. O câmbio do dólar acho que era menos de R$ 4 e hoje é R$ 5 e tanto. Se nós temos os insumos todos importados, eu perdi uns 30%, 40% do meu poder de compra por causa do câmbio, porque eu recebi em real, mas compro algo que é vinculado à taxa de câmbio do dólar. Pensando ainda que hoje existe uma demanda mundial para isso, e quando você coloca o peso de Reino Unido e Estados Unidos, eles vão comprar numa escala muito maior. Em alguns momentos a gente teve dificuldade até de receber insumos porque a demanda mundial estava tão grande, principalmente no início da pandemia, que não chegava, simplesmente não tinha. É outro ponto importante que a gente precisa pensar, vinculado a essa dependência. Não só de incentivar algumas coisas de desenvolvimento no Brasil, mas de tirar essa dependência, porque isso é uma questão de soberania num momento como esse.  Isso pesa bastante quando a gente pensa em comparar com outros países. A Inglaterra faz 200 vezes mais sequenciamento que o Brasil , mas o investimento é 200 vezes maior também.


EPSJV/Fiocruz: Como as restrições orçamentárias no SUS ao longo dos últimos anos têm afetado a vigilância genômica especificamente?

Felipe Naveca: É difícil dizer, porque a vigilância genômica, do tamanho que está hoje, só começou com o Sars-CoV-2 no Brasil. A gente já faz isso há anos para dengue, Zika, mas nada perto do que a gente está fazendo hoje. Há alguns anos a gente falava de sequenciar um pedaço do vírus, e aquilo já era ótimo, a gente conseguia ter informações com aquilo. Hoje a gente está falando, por exemplo, de sequenciar genomas inteiros do coronavírus, que é três vezes maior do que o da dengue. Hoje, praticamente ninguém fala em fazer sequenciamento parcial, até porque, como a gente está precisando entender melhor esse vírus, as mutações vão aparecendo ao longo do genoma inteiro, não só numa região. O mundo inteiro tem investido em fazer genomas inteiros do vírus para que a gente consiga entender isso melhor.

O que eu quero dizer é que, hoje, além de a gente estar fazendo genomas inteiros, estamos fazendo de algo que é três vezes maior. Mas isso se deve a um avanço científico nessa área. É algo que veio para ficar e a gente tem que estar mais estruturado para outras situações como essa. A gente tem que lembrar que em 2002 apareceu o primeiro Sars-CoV-2, por isso esse é o 2. Ele teve um impacto forte na Ásia, chegou a ter casos no Canadá, nos Estados Unidos, mas claro que nada nem perto dessa situação de hoje. Mas foi o primeiro evento que mostrou que um coronavírus tinha um potencial de causar uma pandemia. Depois a gente teve o Mers-CoV, de 2012 para 2013, que foi bastante limitado, mas com uma letalidade altíssima. Ou seja, em menos de 20 anos nós tivemos três eventos importantes de emergência de um coronavírus e, provavelmente, esse não vai ser o último. Então, temos que estar mais bem preparados para identificar rapidamente, isolar os casos o mais rápido possível para que ele não transmita. Temos que pensar que do ponto d,e vista de saúde pública, o objetivo não é impedir que isso aconteça, que é praticamente impossível, mas identificar da maneira mais precoce e conseguir conter.


EPSJV/Fiocruz: Nessa semana ganhou destaque a movimentação de alguns governos estaduais para pressionar pela adoção de medidas de isolamento social mais rígidas face à escalada do número de mortes por Covid-19 no país, que voltou a bater recorde, e a iminência do colapso no sistema de saúde em vários estados. Até que ponto medidas mais restritivas de isolamento social poderiam ter freado esse processo de mutação que levou ao surgimento da nova cepa em Manaus?

Felipe Naveca: Não fizemos em nenhum momento um lockdown mesmo, para valer, em nenhuma região do país. Então é isso: quanto mais casos você tem, mais mutações, e maior a possibilidade de surgir uma variante do vírus. E foi o que aconteceu na Inglaterra, onde o surgimento dessa variante se deu logo após as férias de verão, quando houve uma queda no distanciamento. Agora a gente está vendo o surgimento de duas variantes ainda não classificadas no mesmo nível das outras três, mas já classificadas como alerta, que são uma variante de Nova Iorque e outra da Califórnia, nos Estados Unidos. Isso mostra mais um exemplo de que onde você tem muita transmissão do vírus podem surgir variantes assim.

A gente não pode atrasar demais a adoção dessas medidas, lembrando que a nossa vacinação ainda está muito no início, e quanto mais tempo demorar, mais pessoas infectadas teremos, e vai ser cada vez mais difícil contornar a situação.


EPSJV/Fiocruz: E quanto à eficácia das vacinas frente às novas cepas?

Felipe Naveca: Tem resultados ainda muito preliminares. Saiu uma pré-publicação  agora sobre isso, mas com um número muito pequeno de amostras avaliadas, não dá para ter muita confiança quando você faz um tipo de análise com um número de amostras muito pequeno. A gente acredita que o somatório dos resultados que vierem daqui para frente vai nos dar essa certeza. Mas se nós pensarmos que a nossa variante P1 tem pelo menos três mutações muito importantes iguais às da África do Sul, e na África do Sul houve uma queda de eficiência das vacinas, não imagino que nós vamos ver um cenário diferente. A questão é quanto vai cair a eficácia das vacinas.


08/03/2021

Por: André Antunes (EPSJV/Fiocruz)


Fonte:  Fiocruz

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Nota Técnica da Fiocruz esclarece sobre nova variante do Sars-CoV-2 no Amazonas

 


Pesquisa realizada no Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia) e coordenada pelo pesquisador Felipe Naveca, confirmou a identificação da origem da nova variante da linhagem Sars-CoV-2 B.1.1.28 no Amazonas, designada provisoriamente de B.1.1.28 (K417N / E484K / N501Y). O estudo sugere que as cepas, detectadas em viajantes japoneses que tinham passado pela região amazônica, evoluíram de uma linhagem viral no Brasil, que circula no Amazonas.

Os achados apontam ainda que a mutação detectada na variante B.1.1.28 (K417N / E484K / N501Y) é um fenômeno recente, provavelmente ocorrido entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. De acordo com a nota, o surgimento de novas variantes do Sars-CoV-2 que abrigam um número maior de mutações em proteína chamada Spike tem trazido preocupação em todo o mundo, sobretudo, após a recente identificação de duas cepas, uma no Reino Unido e outra na África do Sul. No Brasil, a epidemia de Sars-Cov-2 ocorreu a partir de duas linhagens, denominadas B.1.1.28 e B.1.1.33, que, provavelmente, surgiram no país em fevereiro de 2020.  

O pesquisador informa que, em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM) e o com o Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), está conduzindo um levantamento genômico de indivíduos recentemente infectados com Sars-CoV-2 no Amazonas, com o objetivo de detectar a circulação dessa linhagem no Estado. "Nossa análise preliminar também confirma que as linhagens brasileiras emergentes B.1.1.28 (E484k) e B.1.1.28 (K417N / E484k / N501Y) surgiram independentemente durante a diversificação da linhagem B.1.1.28 no Brasil. O surgimento simultâneo de diferentes linhagens B1.1 virais que carregam mutações K417N / E484K / N501Y no domínio de ligação do receptor da proteína Spike em diferentes países ao redor do mundo durante a segunda metade de 2020 sugere mudanças seletivas convergentes na evolução de Sars-CoV-2 devido a similar pressão evolutiva durante o processo de infecção de milhões de pessoas", destaca a Nota. Segundo Naveca, se essas mutações conferem alguma vantagem seletiva para a transmissibilidade viral, devemos esperar um aumento da frequência dessas linhagens virais no Brasil e no mundo nos próximos meses.

Leia nota técnica na íntegra.


Fonte:  Fiocruz

Imagem:  Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia)