A dengue coloca um quarto da população mundial sob riscos de
saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um estudo indica que
atenção à mulher grávida infectada com dengue deve ser ainda maior, devido ao
risco de morte ser três vezes maior do que em gestantes sem a doença. O risco
de óbito materno chega a ser 450 vezes maior quando a mulher possui dengue
hemorrágica, a forma mais grave da infecção.
O artigo tem como principal autora a epidemiologista Enny
Paixão, pesquisadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde
(Cidacs/Fiocruz Bahia), e foi publicado com o título Dengue in pregnancy and
maternal mortality: a cohort analysis using routine data no periódico
Scientific Reports, da Nature.
O estudo faz parte da tese de doutorado de Paixão, realizado
na London School Hygiene of Tropical Medicine, sob a orientação da professora
Laura Rodrigues. No ano passado, a pesquisa conduzida por Paixão já havia
relacionado à dengue durante a gestação com o aumento do risco de óbito fetal.
Além do Cidacs/Fiocruz Bahia, da London School, a pesquisa foi feita com a
participação também de pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da
Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Metodologia
Para obter essas evidências, a pesquisa usou dados obtidos
de bases governamentais, os chamados dados administrativos, dos Sistema de
Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan) e Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). O estudo
foi realizado por meio de técnica denominada linkage probabilístico, em que as
informações (como nome e data de nascimento) de diferentes bases são cruzadas
com o intuito de encontrar o mesmo indivíduo.
No período entre 1º de janeiro de 2007 e 31 de dezembro de
2012, houve 10.259 registros de óbitos maternos por diferentes causas. Para
compor a amostra estudada, foram excluídas os registros de mulheres com
diagnóstico de aborto ou com os óbitos fetais (pois o grupo de comparação eram
nascidos vivos), os óbitos de mulheres que não foram associadas nem com os
óbitos fetais, nem com os nascidos vivos,
e aqueles que não havia como atribuir a situação de dengue ou não. Assim
ao final foram utilizados 4.053 mortes maternas e 17.391.826 nascidos vivos
como grupo comparação.
Relevância
Os resultados encontrados no estudo demonstram a importância
de priorizar os exames de diagnóstico de dengue durante o periodo gestacional.
Quando a dengue foi diagnosticada por análise dos sintomas, esse grupo revelou
três vezes mais riscos de morte. Já quando o diagnóstico foi confirmado por exame
laboratorial, esse risco aumentou em oito vezes.
Já quando a paciente apresentou o quadro de dengue
hemorrágica confirmado por análise laboratorial, houve o aumento de mortalidade
materna em 450 vezes. Os autores destacam que mudanças fisiológicas na gestação
podem mascarar sintomas de dengue hemorrágica, dificultando o diagnóstico. Isso
implica que, provavelmente, há casos de dengue hemorrágica que chegaram ao
óbito sem serem diagnosticados.
O estudo também observou que pré-eclâmpsia e eclâmpsia, complicações
associadas ao descontrole da pressão arterial na gravidez, eram mais frequentes
no grupo com dengue. “No nosso estudo achamos que a frequência dessas
complicações foi maior no grupo com dengue do que no grupo comparação, mas
outros estudos precisam ser feitos para verificar essa relação”, afirmou a
pesquisadora Enny Paixão. “Quando a infecção for diagnosticada, a paciente deve
ser acompanhada de perto para se evitar o óbito”, diz.
Mortes maternas
Para o estudo, foi utilizada a definição da 10ª revisão da
Classificação Internacional de Doença (CID-10) em que é considerada morte
materna “a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42
dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização
da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez
ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou
incidentais”, em conformidade com a OMS.
Reduzir a mortalidade materna é um Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM). No Brasil, de acordo com a publicação Saúde
Brasil: 2017 – Uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, houve um aumento na vigilância de
houve um aumento na investigação da morte materna o percentual de incremento de
óbitos maternos entre a notificação do óbito e a classificação obtida após a
investigação tem se mostrado inconstante entre as unidades da Federação ao
longo dos anos. No Brasil, em 2015, o incremento foi de 28%, sendo os maiores
incrementos observados na Região Sudeste (35%) e Nordeste (28%).
Fonte: Fiocruz
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