sexta-feira, 13 de julho de 2018

Pesquisadores da Fiocruz descrevem nova espécie de parasito


Imagem do parasito 'Trypanosoma janseni' obtida por microscopia 
eletrônica de varredura colorida artificialmente (Rubem Menna-Barreto)


Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) descreveram uma nova espécie de parasito, identificada em uma espécie de gambá que habita a Mata Atlântica do Rio de Janeiro. Por trás do nome escolhido – Trypanosoma janseni – está uma homenagem à carreira da pesquisadora Ana Maria Jansen, chefe do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC, que se destaca pelas contribuições científicas no estudo de mamíferos. Os autores da descoberta afirmam que, com esse gesto, é reconhecido “o mérito de uma pesquisadora que esforçou-se de forma persistente e minuciosa para investigar todos os fatores possíveis envolvidos no complexo ciclo de vida do Trypanosoma”, conforme destaca trecho do artigo no qual descrevem a nova espécie, publicado na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.


Descoberta

Situado no conjunto dos protozoários, o grupo dos tripanossomatídeos reúne uma ampla gama de espécies capazes de parasitar pessoas, insetos e mamíferos. O trabalho de investigação das múltiplas possibilidades de interação entre parasitos e hospedeiros pode ser comparada à montagem de um grande quebra-cabeças. Empenhados neste desafio, pesquisadores do IOC desenvolvem estudos sobre o ciclo de vida dos tripanossomatídeos, que dependem de diferentes hospedeiros o seu desenvolvimento. O estudo que levou à identificação do T. janseni foi realizado no âmbito da Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do IOC. 

As amostras dos espécimes identificados como uma nova espécie foram coletadas em 2012. Os protozoários estavam parasitando o baço e o fígado de gambás (Didelphis aurita) recolhidos durante trabalho de campo em área de Mata Atlântica, no Rio de Janeiro. Segundo o pesquisador André Roque, um dos autores da descoberta, a definição da nova espécie foi feita com base em análises morfológicas e genéticas. “Uma nova espécie pode ser definida por um conjunto de características. Morfologicamente, as formas de T. janseni no estágio de epimastigota se assemelham a outros tripanossomatídeos já conhecidos, exceto pela presença de uma organela de membrana simples observada através de microscopia eletrônica”, explicou o veterinário, que atua no Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC. 

A descoberta é o pontapé inicial para a compreensão do papel da espécie recém-identificada na ecologia dos tripanossomatídeos. Ainda serão necessários estudos complementares para esclarecer características como o ciclo de vida e os impactos que o T. janseni pode oferecer para a saúde pública. A descrição do T. jansenitambém contou com a participação de Camila Madeira Lopes (Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos), Rubem Menna-Barreto (Laboratório de Biologia Celular), Márcio Galvão Pavan (Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários) e Mirian Cláudia de Souza Pereira (Laboratório de Ultraestrutura Celular). 


Sobre os tripanossomatídeos

Tripanossomas são parasitos obrigatórios capazes de infectar vertebrados. Estão distribuídos em todo o mundo. Em geral, o ciclo de vida desses protozoários alterna entre os hospedeiros vertebrados, como os seres humanos, por exemplo, e uma variedade de hospedeiros invertebrados que atuam como vetores, como os barbeiros, insetos vetores da doença de Chagas. Entre as espécies que representam desafios para a saúde pública e para a economia dos países estão o Trypanosoma cruzi, que é responsável pela doença de Chagas na América do Sul e em outras partes do mundo, e o T. brucei, causador da tripanossomíase africana humana e animal. 

No Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC são realizados estudos sobre aspectos macro e microecológicos que interferem na interação destes parasitos com seus hospedeiros e vetores. A identificação dos elos envolvidos na cadeia de transmissão dos tripanossomas contribui para subsidiar a vigilância epidemiológica e o controle de agravos.


Fonte:  Fiocruz

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