terça-feira, 31 de julho de 2018

Tecnologia indica qual composto inibe vírus da febre amarela


Há um ano e meio, o Brasil enfrentou um surto de febre amarela. Neste período, o grupo de pesquisa Phenotypic Screening Platform, coordenado pelo professor Lucio Freitas-Junior, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em São Paulo, descobriu que drogas utilizadas no tratamento da hepatite C poderiam funcionar para combater o vírus causador da febre amarela.

Essa descoberta foi realizada graças à tecnologia de triagem fenotípica, conhecida como High Content Screening, na qual moléculas químicas ou fármacos já existentes são identificados como possíveis combatentes de um determinado patógeno, como vírus, parasitas ou bactérias.

De acordo Freitas-Junior, um dos órgãos mais afetados pelo vírus da febre amarela é o fígado. Por isso, os pesquisadores utilizaram as células humanas derivadas do órgão para fazer os testes e descobrir quais compostos impediriam a infecção pelo patógeno.

Em uma placa de ensaio com 384 poços foi colocada cultura de células infectadas com o vírus. Cada uma delas ainda recebeu diferentes compostos químicos com ação desconhecida contra o causador da febre amarela e, em algumas divisórias, foram colocados fármacos com atividade antiviral conhecida.

“Esses fármacos são utilizados como controle, ou seja, a análise automatizada feita pelo instrumento identifica qual dos compostos apresentou atividade semelhante ao antiviral já utilizado contra o vírus”, explica o pesquisador.

A diferenciação é feita pela máquina a partir de um software adaptado pelo grupo de pesquisa do ICB, que distingue as células humanas infectadas das não infectadas.

“A triagem fenotípica torna possível determinar de forma automatizada quais das novas substâncias teve desempenho semelhante, ou melhor ao dos fármacos conhecidos”, disse Freitas-Junior.

Ele ressalta que com essa tecnologia se economiza muito tempo para colocar uma droga no mercado. “Geralmente, são cerca de 10 anos, com a triagem, esse número reduz para três ou quatro. Reposicionamento de fármacos é uma estratégia que pode ter muito sucesso.”

Freitas-Junior ainda completa: “Quando a gente pensa em uma doença como a febre amarela, com letalidade de até 50%, dezenas de pessoas nos hospitais morrendo, essa tecnologia traz uma esperança muito grande.”



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